Critério de ‘distância mínima de corte’ considera a proximidade entre as árvores renascentes e a atividade dos seus polinizadores, como abelhas, mariposas e outros insetos. Um estudo realizado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), de Piracicaba (SP), propôs novas estratégias para o manejo de áreas que recebem extração de madeira legal na floresta Amazônia. O intuito é preservar a biodiversidade e reduzir os impactos da extração no ambiente.
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A pesquisa utilizou modelos de simulação que resultou no critério ‘distância mínima de corte’ (DMCdistância).
Esse critério considera a proximidade entre as árvores que permaneceram, ou seja, que não foram cortadas, e a atividade dos seus polinizadores, como abelhas, mariposas e outros insetos.
Essa distância mínima entre as árvores remanescentes é vital para que os insetos continuem com a polinização, fator que permite a troca genética e reprodução das árvores. Isso, a longo prazo, facilita no crescimento de nova vegetação e conservação da biodiversidade da Amazônia.
“O que a gente está propondo é avaliar a distância média que naturalmente existe na floresta entre os indivíduos de uma espécie […] e vermos o quanto o polinizador, porque cada planta precisa ser polinizada, voa, em média, de uma árvore para a outra. Não podemos alterar isso [distância de vôo dos polinizadores]. Precisamos manter esse polinizador fazendo o trabalho dele para ele polinizar as plantas e depois elas produzirem sementes”, informa Edson Vidal, pesquisador do Departamento de Ciências Florestais da Esalq/USP e um dos responsáveis pelo estudo.
Maçaranduba, espécie analisada no estudo da Esalq/USP de Piracicaba (SP)
Renan Borgiani
Espécies trabalhadas
O critério de DMCdistância varia de espécie para espécie. O estudo trabalhou com o Jatobá (Hymenaea courbaril), Ipê Amarelo (Handroanthus serratifolius) e a Massaranduba (Manilkara elata), árvores que tem um valor financeiro considerável e são mais exploradas na região amazônica, informou o pesquisador.
“A estratégia do estudo é para tornar o manejo mais sustentável. Ao retirar um produto, mesmo que seja a madeira, você cria alguns critérios que podem manter a vida daquela floresta sem perturbar muito, deixando aquela espécie reproduzindo. Essa foi a ideia do nosso trabalho”, informa Vidal.
Folhas do Jatobá na floresta Amazônica
Renan Borgiani
Vidal afirmou que esse critério pode ser adotado para outras espécies, desde que haja análise para cada uma. Além disso, a distância média dos indivíduos pode ser feita com auxílio de GPS.
Como funciona hoje
A legislação vigente é a resolução n° 406 de 2 de fevereiro de 2009 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Ela estabelece parâmetros técnicos a serem adotados na elaboração, apresentação, avaliação técnica e execução de Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) com fins madeireiros, para florestas nativas na Amazônia.
Essa mesma normativa estabelece que a área de corte legal deixe 10% de vegetação nativa. Essas árvores ‘mais velhas’ seriam responsáveis por manter a diversidade local ao se reproduzirem e reflorestarem a região que recebeu a extração de madeiras.
Ipê Amarelo na floresta Amazônica
Renan Borgiani
Legislação ‘generalista’
No entanto, Vidal informou que a legislação atual é generalista, pois não dá diretrizes de como agir com as árvores remanescentes.
“[A legislação vigente] não tem uma sugestão de como deixar esses 10% na área. Cada espécie de árvore tem um padrão de distribuição na floresta. Umas têm uma distribuição uniforme, outras são aleatórias e não tem garantia de que deixar esse 10% vão fazer com que aquela espécie consiga produzir sementes e se reproduzir”, informa Vidal.
“O estudo veio para isso. Ao invés de criar critérios generalista, precisávamos fazer algo funcional, que mantivesse a função dessas espécies”, complementa.
O pesquisador informou que uma das intenções do estudo é permitir que legislação possa ser alterada no futuro para promover manejo mais funcional nessas áreas.
Ipê amarelo utilizado na pesquisa dos cientistas da Esalq/USP de Piracicaba (SP)
Renan Borgiani
Local de pesquisa
O estudo foi conduzido em quatro áreas amazônicas de manejo florestal legal que totalizam 48.876,35 ha. Duas áreas são de duas empresas privadas certificadas no Estado do Amazonas. Outras duas, uma no Pará e outra em Rondônia fazem parte de duas concessões florestais.
Floresta em Oriximiná, Pará, uma das regiões que o estudo da Esalq/USP analisou
Márcio Isensee e Sá (ECO).
Estudo
O estudo “Maintaining genetic diversity in the Amazon: Species-specific strategies are more effective for managed forests than generalist criteria in Brazilian legislation” (Manutenção da diversidade genética na Amazônia: estratégias específicas para espécies são mais eficazes para florestas manejadas do que critérios generalistas na legislação brasileira, em português) foi publicado no periódico Forest Ecology and Management.
Autores
A pesquisa contou com a autoria de Vanessa Erler Sontag, Beatriz Dadio, Guilherme Bovi Ambrosano, Samira Rodrigues Miguel, cientistas do programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais; Daigard Ricardo Ortega Rodriguez, Cláudia Fontana, Gabriel Assis-Pereira, pesquisadores de Pós-Doutorado do Departamento de Ciências Florestais e Edson Vidal professor e orientador responsável.
Campus da Esalq, USP em Piracicaba
Carlos Alberto Coutinho
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