16 de março de 2025

Isolamento e sofrimento emocional atingem fortemente os cuidadores


Fadiga por compaixão é uma condição de exaustão vivida por quem se expõe, de forma prolongada, à dor alheia. No domingo passado, escrevi sobre o trabalho da socióloga Stacy Torres, que acompanhou, durante cinco anos, idosos que frequentavam um café que se tornou uma espécie de “sala de estar” do grupo. O simples fato de conviver com outras pessoas naquele ambiente era suficiente para nutrir um sentimento de comunidade. Volto ao tema do isolamento depois do impacto causado pela morte do ator Gene Hackman. Aos 95 anos e num estágio avançado da Doença de Alzheimer, ele ficou sozinho em casa, sem qualquer ajuda, depois que sua mulher e única cuidadora, Betsy Arakawa, de 65 anos, morreu vítima de uma infecção por hantavírus, no dia 11 de fevereiro. Hackman sobreviveu até o dia 18, quando seu coração falhou (as datas são aproximadas). O que mais chocou as pessoas foi como o casal não recebia visitas, nem tinha o suporte de terceiros.
Fadiga por compaixão: condição exaustão emocional vivida por quem se expõe, de forma prolongada, ao sofrimento alheio
Pixabay
“As pesquisas mostram que estamos passando menos tempo com os amigos e a família. Em todas as faixas etárias, as pessoas se encontram menos presencialmente do que há duas décadas. Entre 2003 e 2020, o tempo em que estamos sozinhos aumentou 24 horas no mês; e o engajamento com amigos diminuiu 20 horas por mês”, afirmou Maureen Feldman, que dirige um projeto para combater o isolamento para a Motion Picture & Television Fund, em palestra que acompanhei on-line.
Laços fortes com a comunidade proporcionam um senso de pertencimento, validação emocional e até acesso a assistência quando é preciso, ela acrescentou – o que vale para todas as faixas etárias. Também são um indicador de expectativa de uma vida longa, algo que se repete em diferentes países e culturas.
Considerando o envelhecimento da população, a lista de riscos associados ao isolamento é extensa, tanto para a saúde física quanto mental: hipertensão, diabetes, derrame, enfraquecimento do sistema imunológico, insônia, abuso de álcool e medicamentos, ansiedade, depressão, pensamentos suicidas. “Idosos que vivem sozinhos acabam com maior frequência na emergência de hospitais, além de serem vítimas de fraude e abuso. Somente nos EUA, os mais velhos perderam 8 bilhões de dólares em golpes em 2022”, contou.
O sofrimento emocional atinge fortemente os cuidadores, que sacrificam sua própria rotina e bem-estar para garantir o cuidado necessário ao ente querido. “O sentimento de perda de liberdade e autonomia é comum, além do peso financeiro: a maioria acaba trabalhando meio período ou abandonando o emprego, comprometendo a carreira e a segurança financeira no futuro”, analisou.
A fadiga por compaixão é uma condição associada a profissionais de saúde e também aos cuidadores: trata-se de uma exaustão emocional vivida por quem se expõe, de forma prolongada, ao sofrimento alheio. É considerada um trauma secundário, que abrange sintomas como cansaço, tristeza, raiva, falta de motivação, dificuldade de concentração e privação de sono, entre outros.
Os números apresentados por Feldman não deixam dúvidas de que cuidar de entes queridos tem um preço:
A maioria (66%) dos quase 16 milhões de cuidadores americanos é composta por mulheres.
Quase dois terços relatam sentimentos de solidão, sendo que 18% avaliam que ela é severa.
Muitos têm mais de 50 anos e lidam com suas próprias questões relativas ao envelhecimento: 63% têm pelo menos uma doença crônica, enquanto esse percentual fica em 57% entre os não cuidadores.
Pelo menos 15% dos cuidadores são indivíduos acima dos 65 anos que cuidam do cônjuge.
Aqui vão suas dicas para investir no autocuidado:
Reconheça seus pontos vulneráveis e os gatilhos que disparam os sintomas.
Crie uma rede de suporte de amigos e familiares.
Alimente-se de forma saudável e tente se exercitar.
Pratique meditação, mesmo que por cinco ou dez minutos, e utilize técnicas de respiração para relaxar. Há muitos tutoriais disponíveis na internet.
Busque pequenos momentos de prazer ao longo do dia, como tomar um banho demorado ou ouvir sua música preferida.
Se conseguir que alguém o/a substitua, passe um dia fora para recarregar as baterias.
Com envelhecimento da população, aumenta a procura por cuidadores de idosos

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