Laudo pericial solicitado pelo TJSP aponta condições de saúde do animal, compara a estrutura dos recintos e analisa os riscos de transportar Sandro do interior de São Paulo até o Mato Grosso. Elefante Sandro vive em recinto no Zoológico Municipal de Sorocaba (SP)
Eduardo Ribeiro Jr./ g1
A transferência do elefante Sandro do Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros”, em Sorocaba (SP), para o Santuário de Elefantes do Brasil (SEB), na Chapada dos Guimarães (MT), voltou a ser discutida em uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) contra a Prefeitura de Sorocaba.
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Em abril de 2022, a Justiça negou a liminar que pedia a transferência Sandro para o SEB. Na ocasião, o Ministério Público decidiu que o transporte do animal poderia trazer riscos à saúde dele, devido à idade avançada de Sandro e que o animal estava em condições adequadas no zoológico de Sorocaba.
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) solicitou uma nova perícia parar determinar as condições de saúde do elefante, que atualmente vive em um recinto no zoológico de Sorocaba. O g1 teve acesso ao laudo elaborado por um médico veterinário, que foi entregue no dia 25 de fevereiro à Justiça.
No documento, o perito judicial informou que as condições oferecidas ao animal no zoológico de Sorocaba ainda são insuficientes para garantir qualidade de vida ao elefante e destacou que o tamanho do recinto de Sandro é significativamente menor em comparação ao oferecido pelo Santuário.
“Embora o zoológico conte com profissionais capacitados, há uma carência de especialistas em medicina de elefantes. O recinto de Sandro no Zoológico de Sorocaba possui entre 1.000 e 1.500 m², enquanto o habitat construído para ele no SEB dispõe de 18.500 m², ou seja, é de 12 a 18 vezes maior”, cita o documento.
Elefante Sandro vive em recinto no Zoológico Municipal de Sorocaba (SP)
Arquivo Pessoal
Conforme o profissional, a ausência de um brete, que é uma estrutura que permite a realização de procedimentos veterinários diários sem necessidade de anestesia, além da falta de abordagens que incentivem o condicionamento cooperativo para atendimento clínico no zoológico, comprometem a realização de exames complementares preventivos e dificulta que o animal passe por tratamentos adequados.
Segundo o perito, não foi possível avaliar com precisão as condições de saúde do elefante devido à ausência de histórico clínico e da realização de exames laboratoriais e de imagens no animal.
“A ausência de infraestrutura mínima no recinto onde o animal se encontra sugere que o ambiente não atende aos requisitos necessários para a manutenção da espécie, o que pode comprometer tanto o bem-estar físico quanto o emocional do animal”, ressaltou o perito.
No laudo, o perito pontua que Sandro tem histórico de artrose, desgaste dentário e sensibilidade gastrointestinal.
Riscos do transporte
Quanto ao transporte do animal ao santuário no Mato Grosso, trajeto de cerca de 1,5 mil quilômetros, o veterinário informou que o risco é inconclusivo diante da ausência de informações básicas sobre a saúde do animal e a falta de exames complementares realizados pelo Zoológico.
“No entanto, o histórico de transporte de animais pelo SEB e o planejamento detalhado elaborado pela equipe multidisciplinar especializada na medicina de elefantes, reconhecida internacionalmente, conferem segurança ao procedimento. Quatro elefantas que vivem no SEB atualmente possuem faixa etária similar à de Sandro e foram transportadas a longas distâncias sem intercorrências”, pontuou o perito.
O veterinário apontou que os principais riscos da transferência incluem:
Estresse e fadiga devido ao deslocamento prolongado;
Complicações gastrointestinais caso haja uma mudança brusca na alimentação;
Impacto nas articulações devido à artrose preexistente.
Interação com a espécie
Sandro tem mais de 50 anos e vive no zoológico de Sorocaba desde 1982. Outro ponto analisado no laudo é a adaptação dele em um novo ambiente após décadas.
“A transição para um novo ambiente é considerada benéfica para o animal, devido ao aumento significativo da área disponível e à possibilidade de expressão de comportamentos naturais, como banhos de lama, caminhadas extensas e exploração ambiental. Após a chegada ao santuário, assim que o animal se sentir confortável no novo ambiente, será iniciado um programa de condicionamento operante”, cita o documento.
Segundo o perito, a interação social com outros elefantes que Sandro teria no santuário também proporcionaria melhor qualidade de vida ao animal.
“No Santuário, Sandro terá a oportunidade de interagir, de forma controlada e monitorada, com outros elefantes, o que permitirá a redução do seu isolamento social, fator crucial para sua saúde física e emocional”.
Sandro e Haisa
O animal vive sozinho no recinto de Sorocaba desde 2020, quando a companheira dele, Haisa, morreu aos 60 anos. Na época, as condições de saúde da elefanta estavam sendo apuradas após uma ONG e o Ministério Público entrarem com ação judicial questionando a situação. Depois da morte de Haisa, o MP recomendou a transferência de Sandro para o SEB.
Sandro e Haisa viviam juntos desde 1995 em Sorocaba. A elefanta nasceu na Ásia e morava em Santa Catarina, em um recinto com duas irmãs. Já Sandro é da América Latina e era animal de circo até ser transferido para o zoológico de Sorocaba. O animal tinha 26 anos quando conheceu a companheira no zoo.
Sandro e Haisa no zoo de Sorocaba (SP)
TV TEM/Reprodução
Em março de 2022, a prefeitura montou uma comissão para decidir o destino do elefante e apresentar outra proposta ao Ministério Público. Na época, manifestantes protestarem contra a transferência do animal, em frente ao Zoológico “Quinzinho de Barros”.
Segundo os organizadores do protesto, os manifestantes pediram a permanência do elefante Sandro no Zoo. Eles mencionaram a transferência do chimpanzé Black, que morreu dois anos após ser transferido ao Santuário de Primatas.
Protesto contra a transferência do elefante Sandro foi realizado em frente ao Zoo de Sorocaba
Volta Black/Arquivo Pessoal
Em nota, o TJSP informou que o processo é prioridade no andamento do Juízo e destacou que a questão é complexa, pois envolve a transferência de um elefante idoso do zoológico de Sorocaba para o Santuário no Mato Grosso, de modo que é necessária especial atenção em todas as medidas de segurança no deslocamento terrestre, na alimentação e nos cuidados com a saúde.
“Esses pontos serão todos bem analisados diante da prova técnica, que está em fase de realização por veterinário, para que seja possível avaliar o quadro com seriedade e adotar-se a melhor decisão”.
O g1 questionou a prefeitura sobre as situações apontadas no laudo do perito judicial e sobre a vistoria que seria realizada no recinto de Sandro no sábado (15). Em nota, a prefeitura informou que só se manifestará à Justiça.
“O Parque Zoológico Municipal ‘Quinzinho de Barros’, onde o elefante Sandro vive desde 1982, é adequado e melhorias no recinto estão sendo providenciadas pela Secretaria do Meio Ambiente, Proteção e Bem-Estar Animal (Sema) para tornar o espaço ainda melhor para garantir o bem-estar do animal”.
Vereador de Sorocaba (SP) visitou recinto de Sandro nesta quarta-feira (12). Conforme o vereador, uma placa diz que o local está em manutenção
Alexandre da Horta/Divulgação
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