Iniciativa é de um publicitário brasileiro. Pacientes escolhidos para participar dos primeiros experimentos tinham idades, etnias e estágios diferentes da doença. Brasileiros ajudam a transformar tremores característicos do Parkinson em música
Diagnosticados com Parkinson, cinco ingleses que não se conheciam foram selecionados para participar de um projeto inusitado: transformar os tremores físicos característicos da doença em música (veja no vídeo acima).
A doença atinge mais de 10 milhões de pessoas em todo o mundo — um número que deve dobrar nos próximos dez anos.
O projeto nasceu na agência do publicitário paulistano Ricardo Wolff, que mora em Berlim.
“Teve uma ideia basicamente olhando para o visual da curva de som e falou: ‘puxa, isso é parecido com os tremores. Foi a hora de bater na porta da UCL (University College London) e, por sorte, tem alguém por trás da porta “, contou Wolff ao Fantástico deste domingo (28).
Esse alguém era o neurologista Christian Lambert, que embarcou de imediato no projeto.
“Eu passei muito tempo tentando entender porque essa doença se apresenta de maneiras tão variáveis, e me pareceu uma boa ideia casar os sintomas visíveis e os invisíveis”, explicou ele.
Experimentos
Os pacientes escolhidos para participar dos primeiros experimentos tinham idades, etnias e estágios diferentes da doença. A medição dos tremores aconteceu em junho do ano passado, no departamento de neurociência da UCL, uma das melhores universidades do Reino Unido.
Os voluntários utilizaram uma espécie de relógio que capta os tremores.
“A gente usou um chip chamado acelerômetro que mede as vibrações. É exatamente o mesmo que a gente tem no celular pra medir, por exemplo, quantos passos a gente dá num dia. Daí a gente registrou os pacientes fazendo movimentos variados que ativaram tremores diferentes”, disse o neurocientista.
Doença de Parkinson: o projeto que transforma tremores físicos em música
Reprodução Fantástico
Ouvindo o Parkinson
O Fantástico entrevistou os pacientes para entender o impacto da doença na vida deles. E tem muito a entender — embora os tremores sejam a primeira associação ao ouvir falar de Parkinson, eles não aparecem em todos os pacientes. São mais de 40 sintomas.
“Eu tenho dificuldades de engolir, minha postura mudou, a expressividade do rosto diminuiu, não sorrio tanto quanto antes. O Parkinson está sempre presente”, relatou John Chandler.
Aos 68 anos, ele estava cético com o projeto. Desconfiou que o resultado pudesse ser amador.
Mas ele não conhecia Wonder Bitten, nascido em Londrina e criado em Curitiba, mas que mora em Berlim, na Alemanha há cinco anos, onde abriu uma produtora musical.
“Para cada paciente, a gente tinha diversas ondas diferentes, porque eram dois pulsos, dois tornozelos. Então cada paciente tinha diversas ondas que a gente podia ir dirigindo, conduzindo a música desse paciente. E música é onda.”
Doença de Parkinson: o projeto que transforma tremores físicos em música
Reprodução Fantástico
Cada composição respeitou o gosto da pessoa, como explica Bitten.
“A gente fez baseado em uma longa entrevista com cada um dos participantes. (…) Eles falaram as preferências, se ouve muito música ou não, que tipo, como que a música influi no dia a dia dele, se não influi.”
E o resultado impressionou.
“A minha música captou o lado alto astral da minha personalidade. Isso o Parkinson não conseguiu roubar de mim”, disse um dos participantes.
“Meus sintomas mudam quando me emociono. E não tem nada mais emocionante que música”, disse outro.
Para Lambert, a maior conquista do projeto é mostrar a individualidade da doença de cada um e maneiras de se adaptar e conviver com o Parkinson.
“Existem muitas formas de tratar os sintomas. Não são só remédios. Essa é uma abordagem de tratamento mais holística. A gente precisa encontrar a combinação certa pra cada pessoa.”
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