Criança precisa realizar exames no Hospital das Clínicas da FMUSP para descobrir quais serão as possíveis sequelas. Como ainda há acúmulo de sangue em seu olho, não foi possível fazer a investigação. Criança é baleada durante ação da PM em Paraisópolis, Zona Sul de SP
O menino de sete anos, ferido no olho durante uma ação da Polícia Militar na comunidade de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, corre o risco de perder a visão. A informação foi compartilhada com o g1 pelo advogado da vítima, André Lozano.
Desde 17 de abril, a criança está internada no Hospital Municipal do Campo Limpo. Segundo o advogado, seu estado de saúde é estável, porém não há previsão de alta. O menino precisa realizar exames no Hospital das Clínicas para descobrir a extensão dos danos.
“Existe, sim, o risco de perder a visão, tanto totalmente quanto parcialmente, mas a gente só vai ter certeza de que vai ter sequela ou não quando for feito o exame. Não conseguiram fazer o exame porque ainda tem muito sangue no olho”, explica Lozano.
Questionada sobre a origem dos ferimentos do menino nesta segunda-feira (29), a Secretaria de Segurança Pública (SSP) não respondeu até a última atualização desta reportagem.
Relembre a ação policial
A criança e a mãe estavam a caminho da escola no período da manhã, quando foram surpreendidos por um tiroteio entre policiais militares e suspeitos na Rua Ernest Renan, em 17 de abril.
O menino ficou ferido e provavelmente foi atingido no olho por estilhaços de um projétil, segundo a equipe médica que o atendeu.
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Inicialmente, a vítima foi encaminhada à AMA Paraisópolis por volta das 7h50. Após cerca de uma hora, ele foi transferido para o Hospital Municipal do Campo Limpo.
“Ela saiu de casa para levar o filho para a escola para ter aula. Inclusive o horário em que foi feita a operação é um horário cheio de criança na rua. Então, fazer uma operação desse tipo com essa truculência acaba colocando não só a população em risco, mas principalmente crianças”, afirma Lozano.
O que diz o B.O.
No boletim de ocorrências registrado no 89° Distrito Policial, os policiais envolvidos na ocorrência narraram que foram surpreendidos por criminosos na Rua Ernest Renan, iniciando um tiroteio.
“Na ocasião dos fatos, uma criança se evadiu correndo e apresentava ferimentos na cabeça, motivo pelo qual foi socorrida pela viatura M16105 para o AMA Paraisópolis e, de lá, encaminhado para o Pronto Socorro do Hospital do Campo Limpo. No hospital tomaram conhecimento que o ferimento apresentado na criança é superficial e pode ter sido em decorrência dos estilhaços ou de uma queda”, afirma o documento.
Em coletiva de imprensa, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que não havia operação especial da Polícia Militar no momento do tiroteio e que a criança não teve perfuração.
“Não tem operação, é uma situação de patrulhamento. Houve a recepção dos policiais com tiro, (…) e houve a troca de tiro. [A criança] não foi atingida por disparo, não teve perfuração. Provavelmente algum estilhaço. Foi socorrida imediatamente, está em observação, passa bem, vai fazer uma tomografia. Não foi disparo”, declarou o governador.
PMs recolhendo objetos
Vídeo mostra policiais militares recolhendo cápsulas após criança ser baleada em SP
Vídeo gravado por moradores da comunidade de Paraisópolis flagraram policiais militares recolhendo objetos na rua onde a criança de 7 anos foi atingida.
Nas imagens completas, é possível ver que pelo menos dez policiais fazem uma varredura na rua (veja vídeo acima).
Vídeo gravado por moradores de Paraisópolis mostram PMs recolhendo objetos na rua onde criança de 7 anos foi baleada na manhã desta quarta-feira (7).
Reprodução
Segundo o ouvidor da polícia de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, o registro sinaliza uma “tentativa muito grave de fraude processual” e, por isso, ele vai pedir à Corregedoria da PM que os agentes envolvidos na ocorrência sejam afastados das ruas.
“[Eles parecem procurar ou recolher] estojos de projéteis de arma de fogo. A gente encara isso com muita gravidade. Isso sinaliza uma tentativa muito grave de fraude processual e, em razão disso, a gente está pedindo o imediato afastamento dos policiais envolvidos na ocorrência e pedindo que a Corregedoria avalie também o afastamento dos policiais que estavam envolvidos nessa tentativa de fraude processual”, declarou Silva.
Policiais Militares fazem vigília na rua onde a menina foi atingida com um tiro do rosto em Paraisópolis, Zona Sul de SP, nesta terça-feira (17).
Lucas Jozino/TV Globo
O que diz a PM
O porta-voz da Polícia Militar, coronel Emerson Massera, também negou que o menino de sete anos tenha sido ferido por um tiro disparado por um policial durante ação em Paraisópolis, durante coletiva de imprensa em 17 de abril.
O coronel afirmou que os policiais estavam usando câmeras corporais. A partir da análise dessas imagens, a corporação concluiu que a mãe e o filho não estavam na linha de tiro dos PMs. Eles estavam se escondendo atrás de um carro.
Porta-voz da Polícia Militar, coronel Emerson Massera
Reprodução/TV Globo
“De acordo com as imagens, podemos assegurar nesse primeiro momento que essa criança não foi ferida por disparo de arma de fogo proveniente de arma de um policial militar. Não sabemos o que de fato feriu essa criança. Pode ter sido um disparo dos criminosos, pode ter sido um pedaço de reboco, estilhaçado ou provocado por pancada ou queda”, declarou o porta-voz da PM.
Em relação ao vídeo que mostra PMs recolhendo objetos na rua, o coronel Massera explicou que os agentes estavam sinalizando o local onde projéteis foi encontrado para facilitar o trabalho da Polícia Técnico-Científica. Ele ainda reforçou que o local foi preservado, por isso não há razão para o afastamento dos policiais.
Durante a ação em Paraisópolis, dois policiais usavam fuzis e o terceiro carregava uma pistola .40. Segundo o porta-voz da PM, no local, foram coletadas 4 cápsulas de fuzil, 7 de calibre .40 e 9 de calibre 9mm — que provavelmente foram efetuadas pelos criminosos.