Polícia obteve vídeo da sessão de intimidações. Casal foi indiciado por tortura, extorsão e corrupção de menores; defesa diz que provará a inocência o processo. Homem que aparece sendo torturado em vídeo disse que teve medo de morrer
O homem torturado por um casal dono de uma rede de postos de combustíveis em Curitiba contou detalhes dos momentos de terror que viveu. O empresário Ricardo Helal e a esposa, a advogada Evandra Roso, foram indiciados semana passada por tortura, extorsão e corrupção de menores.
Em entrevista exclusiva à RPC, o comerciante, que prefere não mostrar o rosto ou ser identificado, disse que só queria esquecer de tudo o que passou:
“Não contei pra ninguém, sabe? Foi pesado demais, eu não merecia aquilo. Eu nem sei dizer que sentimento que é esse, dói né? Nunca pensei na minha vida que ia passar por uma coisa dessas.”
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A sessão de intimidações e tortura aconteceu em 2021, foi filmada, e durou quase três horas, segundo as investigações. Dois filhos do casal participaram das agressões – um deles tinha 14 anos na época e o outro já é falecido.
O comerciante conta que foi chamado pelos donos para negociar um contrato, mas, no escritório do casal, foi ameaçado e espancado por mais de duas horas.
“Eu olhei, um tava com uma faca e ele tava com uma pistola, e o rapaz que me batia tava com um soco inglês na mão, por isso que me feriu bastante”, lembra.
Comerciante foi torturado por quase três horas
RPC Curitiba
A vítima relata também um dos momentos mais tensos, quando jogaram etanol no corpo dele e ameaçaram pôr fogo.
“Eu só pensei em Deus na hora e pedi que, de alguma forma, me tirasse dali, porque não tinha mais o que fazer. E eu pensei que eu fosse morrer, sinceramente, sabe?”
Suspeita de calote teria motivado crimes
Segundo a polícia, os indiciados torturaram o homem diante da suspeita de um calote. O comerciante trabalha com equipamentos de refrigeração e tinha vendido um balcão para os empresários por R$ 15,5 mil, parcelados no cartão crédito.
Por algum motivo, o casal achou que a encomenda não seria entregue e montou a armadilha.
“Antes do prazo ele me chamou lá porque ele queria fazer mais um trabalho. Eu fui lá pra fazer mais um orçamento e aí aconteceu tudo que está nas gravações. E ele alegando que eu ia dar o golpe, ia dar o golpe”, conta.
Sessão de tortura foi filmada, conforme as investigações
Reprodução
“No local, os suspeitos fraturaram a costela da vítima, a agrediram com socos, chutes e com uma tonfa. Além disso, o ameaçaram com uma máquina de choque, e jogaram um líquido incolor, afirmando ser etanol e que, caso ele não assinasse a nota promissória, o incendiariam”, disse a polícia.
O comerciante só foi autorizado a sair do escritório depois de assinar vários documentos, entre eles três notas promissórias e duas confissões de dívida no valor total de R$ 180 mil. Os donos ainda exigiram um pagamento de R$ 20 mil em dinheiro, o que foi feito uma semana depois pela vítima.
O homem conta que o medo o fez não denunciar o episódio na época. “Eu tinha muito medo e eu queria era esquecer. Eu queria pagar ele e esquecer isso da minha vida, sabe?”, afirma.
Imagens foram descobertas durante outra investigação
A polícia só descobriu o vídeo da tortura quando apreendeu o celular da advogada Evandra Roso em uma outra investigação mais recente sobre adulteração combustíveis. As imagens são fortes, por conta disso, o g1 optou por borrá-las. Assista ao vídeo abaixo.
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Na semana passada, uma operação de busca e apreensão apreendeu no escritório do empresário as notas promissórias e as confissões de dívida. Os R$ 20 mil em dinheiro não foram encontrados.
O comerciante contratou advogado e diz que vai entrar com ação contra os empresários pedindo indenização.
“As lembranças não vai apagar ne? E me ajudaria a voltar para o meu trabalho, sabe? Não pode ficar assim. Se fez comigo, com mais pessoas ia continuar fazendo”, diz.
O que o casal diz
Casal dono de postos de combustíveis Ricardo Helal e Evandra Roso
Reprodução
Em nota, a defesa do casal de empresários afirmou que o vídeo não mostra o que realmente aconteceu e que só vai se manifestar quando tiver acesso ao relatório final entregue ao Ministério Público.
A defesa diz que provará a inocência do casal no processo.
Questionada sobre o envolvimento da advogada no caso de tortura, a Ordem dos Advogados do Brasil Seção Paraná (OAB-PR) não informou que providências está tomando e disse apenas que, até agora, não tem um posicionamento sobre o assunto.
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