Em depoimento, o soldado Danilo Martins Pereira contou ter sofrido uma série de agressões ao tentar uma vaga na Patamo, o patrulhamento tático móvel do Batalhão de Choque da PM do Distrito Federal, e que ficou internado por seis dias, três deles na UTI. O Ministério Público pediu a prisão temporária de 14 policiais militares do Distrito Federal por suposta prática de tortura. Um soldado da corporação denunciou o crime.
Há quatro anos na PM, o soldado Danilo Martins Pereira decidiu tentar uma vaga na Patamo, o patrulhamento tático móvel do Batalhão de Choque da PM do Distrito Federal, mas o sonho de pertencer à elite da corporação durou oito horas.
Em depoimento ao Ministério Público, Danilo disse que, assim que se apresentou para o curso de preparação, na segunda-feira passada (22), ouviu do tenente Marco Aurélio Teixeira, coordenador das atividades, que ele não se formaria no curso e que seria desligado por deficiência técnica ou lesionado.
Ele disse que se recusou a desistir e, a partir daí, teria sido agredido e humilhado. Danilo afirmou que o tenente o mandou ir para uma espécie de caixote de concreto onde foi obrigado a ficar em pé durante aproximadamente 1h30.
Trecho do depoimento de soldado ao MP
JN
Segundo ele, o tenente o ordenou a ficar com o fuzil cruzado no peito durante 30 a 40 minutos. Depois, a segurar uma “tora” de madeira acima da cabeça, por cerca de 60 minutos, com os braços esticados e que o tenente jogou gás lacrimogênio em sua face e gás de espuma em seus olhos.
No depoimento, o soldado disse também que o tenente a todo momento o agredia com um pedaço de madeira na região da panturrilha e dos glúteos, e proferia ofensas enquanto o obrigava a correr cantando uma música vexatória.
O soldado afirmou que o oficial teve ajuda de outros militares da PM. Danilo disse que, depois das agressões, assinou o termo de desistência e procurou atendimento em um hospital, onde ficou internado por seis dias, três deles na UTI.
Já em casa, ele disse que recebeu pauladas na cabeça e chutes no estômago.
“Ele deixava algumas vertentes que, aparentemente, o motivavam: a questão de eu ser escritor, a questão de eu ter sido campeão no Canadá. Ele citou isso também a questão do meu irmão, da minha família, a questão também das minhas redes sociais, e ele disse que muitas pessoas pediram para ele realizar aquilo e que ele não iria embora sem me desligar”, relata.
O soldado Danilo Martins Pereira
JN
No sábado (27), depois da denúncia de Danilo, a PM divulgou uma nota informando que abriu um inquérito para apurar o caso e que,”apesar de sair do batalhão alegando que estava bem, o soldado Danilo procurou atendimento hospitalar alegando ter sido agredido”.
Pouco depois, em uma segunda nota, a PM disse que o desligamento do aluno foi voluntário e que não há que se falar em tortura, e que todas as circunstâncias estão sendo apuradas.
Nesta segunda-feira (29), a pedido do Ministério Público e com a autorização da Justiça, a Corregedoria da PM prendeu o tenente Marco Teixeira e mais 13 policiais militares. O comandante do Batalhão de Choque da PM, coronel Calebe Teixeira das Neves, foi afastado até a conclusão das investigações e o curso de preparação da Patamo está suspenso.
No fim desta segunda, a PM divulgou mais uma nota afirmando que não admite desvios de conduta e apura os fatos de maneira criteriosa e imparcial.
A defesa de 13 PMs presos nesta segunda disse que eles foram surpreendidos com a operação e que vai apresentar as versões de cada um pra que a Justiça possa aplicar o direito da melhor forma.
O Jornal Nacional não conseguiu contato com o comandante afastado do Batalhão de Choque da PM, Calebe Teixeira das Neves, nem com o 14º PM preso.
LEIA TAMBÉM:
PM é afastado após vídeo de tortura dentro de batalhão em Matelândia repercutir na internet
PMs que imobilizaram homem negro pelo pescoço e jogaram spray de pimenta são afastados