26 de dezembro de 2024

PF mapeou 4 casos em 1 ano com esquema de troca de bagagens no aeroporto de Guarulhos

Casal preso na Turquia suspeito de tráfico de drogas após ter etiquetas de malas trocadas em SP deve ser julgado nesta quinta. PF mapeou 4 casos em 1 ano com esquema de troca de bagagens no aeroporto de Guarulhos
A Polícia Federal (PF) mapeou pelo menos quatro casos do esquema de troca de bagagens por drogas no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, no período de um ano. Nesta quinta (7), o casal preso na Turquia suspeito de tráfico de drogas após ter etiquetas de malas trocadas no aeroporto deve ser julgado.
A investigação da PF apontou que todos os casos seguem o mesmo estilo de operação. Um funcionário responsável por carregar as malas no avião faz a troca da etiqueta de bagagens, colocando em outra mala que está carregando drogas. No caso do casal preso na Turquia, havia 43 quilos de cocaína na bagagem trocada. O casal é considerado inocente pela PF brasileira e não há inquérito policial nem processo contra eles no Brasil.
Um dos casos identificados pela PF foi o das brasileiras de Goiânia que ficaram 38 dias presas na Alemanha em março de 2023. O caso é diferente porque a polícia alemã avisou imediatamente que a Polícia Federal aqui do Brasil, que conseguiu mapear toda a circulação delas. Na terça-feira (5), a advogada de Jeanne Paollini e Kátyna Baía informou que uma decisão da Justiça da Alemanha vai indenizar as duas pelos danos e por todos os prejuízos ocorridos no tempo em que ficaram presas.
Também houve uma outra apreensão no mesmo mês daquele ano na França e em outubro de 2022, em Portugal.
Reportagem do Fantástico chegou a mostrar falhas de segurança, câmeras com pontos cegos na área de malas e brechas na circulação da área restrita do aeroporto de Guarulhos.
Na metade de 2023, o Governo Federal anunciou um programa chamado “Aeroportos Mais Seguros”. O foco, primeiro, foi no aeroporto de Guarulhos porque é o maior aeroporto do Brasil, e o investimento anunciado de R$ 40 milhões.
O blog apurou que não se consegue detalhar o quanto de fato já foi investido e o que de fato foi feito. Por exemplo, a PF pediu a instalação de mais câmeras no aeroporto por conta da existência de pontos cegos. Inclusive, os criminosos se aproveitaram disso pra colocar a mala dentro daquela carretinha e depois levar pro avião com a troca da etiqueta.
A Agência Nacional de Aviação (Anac), o Ministério de Portos e Aeroportos e a concessionária que administra o aeroporto de Guarulhos foram questionados e nenhum órgão informou quantas câmeras que já foram instaladas, apenas que houve uma restrição do acesso de celulares de funcionários terceirizados na área restrita.
O blog também conversou com pessoas envolvidas na investigação e que acompanham a dinâmica do aeroporto, que comentam que o local se tornou “um queijo suíço”, com muitos buracos para serem resolvidos mas que, na verdade falta um pouco de vontade política e das próprias autoridades que estão envolvidas com isso, seja a concessionária pra colocar mais câmeras, seja o próprio Governo Federal pra colocar mais dinheiro mesmo.
Defesa de casal pede intervenção de Lula
A defesa do casal preso na Turquia alega “‘questão humanitária” e pede que o presidente Lula (PT) intervenha, seja com uma ligação para o governo turco ou seja com o envio de uma carta.
Os advogados enviaram ofício ao presidente, solicitando ligação de nível presidencial como forma de “solução para essa atitude discriminatória injusta”, segundo o documento. No pedido, a defesa afirma que o Brasil e a Turquia têm Acordo de Cooperação Penal Internacional vigente.
Procurados, o Ministério da Justiça, o Palácio do Planalto e a Embaixada da Turquia no Brasil não responderam até a última atualização desta reportagem.
Já o Itamaraty informou que não fornece informações específicas sobre casos individuais, mas disse em nota que acompanha, por meio do Consulado-Geral do Brasil em Istambul, “o assunto com atenção e presta assistência consular aos nacionais brasileiros desde julho de 2023”. “A assistência é prestada pelas autoridades consulares brasileiras conforme as circunstâncias específicas do caso, em que os envolvidos também possuem nacionalidade turca, ou seja, estão detidos em país do qual são cidadãos”, informou o Ministério das Relações Exteriores.
Relembre o caso
Relatórios e provas produzidas pela Polícia Federal do Brasil foram enviados oficialmente via Ministério da Justiça para a Turquia (leia a nota abaixo).
“O que eles estão passando é uma injustiça absurda. Tanto pelo fato de serem inocentes e estarem presos por um crime que não cometeram, quanto pelas crianças que estão longe dos pais e sofrendo nessa fase tão vulnerável e dependente da vida”, afirma a advogada.
Anteriormente, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) informou que, em 15 de dezembro de 2023, a Polícia Federal encaminhou ao Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça (DRCI/Senajus) informações sobre investigações internas para serem enviadas à Turquia.
As novas vítimas do golpe da mala no maior aeroporto do Brasil
A prisão do casal
Hasan, que tem cidadania brasileira e morava em São Paulo, e a família embarcaram em Guarulhos em 22 de outubro de 2022. Ao desembarcarem no aeroporto de Istambul, na Turquia, seguiram normalmente para casa.
As malas com a droga só saíram quatro dias depois de Guarulhos para a Turquia, em 26 de outubro de 2022.
“Nós pegamos toda a nossa bagagem, nossos passaportes foram carimbados e entramos normalmente. Nada aconteceu”, contou Hasan ao Fantástico antes de ser preso. Eles ficaram alguns dias na Turquia e, depois, foram para a Líbia, onde decidiram morar.
Em maio do ano passado, ao retornar sozinho à Turquia a trabalho, Ahmed foi preso por um dia e depois solto com proibição de sair do país.
“Ela [uma advogada turca] disse que eu estava sendo acusado de tráfico internacional de drogas. Eu me assustei, quase morri. Foi um choque enorme para mim”, contou.
Depois, foi marcada a audiência em novembro de 2023. Ele e a mulher, que até então estava na Líbia, foram para a audiência e lá foram decretadas as prisões provisórias.
“Alguém retirou essa etiqueta [com os nomes do casal], mas, em vez de usar no próprio dia, [a pessoa] guardou para usar alguns dias depois no voo onde foi a droga efetivamente”, explicou o delegado Felipe Lavareda, da Polícia Federal.
Em nota anterior, a concessionária que administra o aeroporto de Guarulhos disse que as companhias aéreas são as responsáveis pelo manuseio das bagagens. A Turkish Airlines e a Embaixada da Turquia no Brasil não deram detalhes.
Imagens no aeroporto
Os investigadores suspeitam da movimentação de um ônibus de transporte de passageiros. Nas imagens obtidas pelo Fantástico é possível ver que o veículo sai do aeroporto e só retorna à noite.
Por volta das 21h40, o ônibus vai para um galpão acompanhado de outro veículo. Nesse local, não há câmeras de segurança.
Em seguida, em direção ao galpão, passa uma carretinha que leva cargas para os aviões. Segundo a polícia, seria o mesmo carro que aparece ao lado do avião da Turkish Airlines, que a família de Ahmed pegou.
Essa carretinha teria levado a cocaína do ônibus para o avião, mas não foram encontradas imagens do momento do embarque da droga.
Segurança no aeroporto
Em nota, o nota Ministério de Portos e Aeroportos disse que foi estabelecido um grupo de trabalho envolvendo o Ministério de Portos e Aeroportos e a Anac, responsável por identificar e priorizar as demandas de investimento em equipamentos para reforço da segurança no Aeroporto de Guarulhos, que atua como piloto do programa. O trabalho foi concluído no final de 2023.
No texto, o Ministério diz ainda que os investimentos avaliados e contemplados no Relatório Final do Grupo de Trabalho “estão atualmente em discussão no processo de Repactuação do Contrato de Concessão de Guarulhos, no âmbito do Tribunal de Contas da União (TCU).”
O Ministério ainda afirma que a concessionária responsável pela operação no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, implementou alguns investimentos de curto prazo.
Questionada sobre as mudanças, a GRU Airport afirmou, também por meio de nota, que dentre as medidas adotadas, estão: proibição de acesso de celulares e tablets nas áreas restritas, além da identificação com chave de acesso individualizada ao sistema de bagagens, e ampliação de câmeras de segurança.

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