25 de dezembro de 2024

Família se muda para barco ancorado em frente de casa inundada pelas águas do Rio Acre

Família de Francisco Araújo mora no bairro Seis de Agosto, em Rio Branco, e se mudou para dentro de uma embarcação com chegada das águas. Francisco Araújo se mudou com a filha e o neto pequeno para dentro de um barco durante enchente
Quésia Melo/Rede Amazônica Acre
A enchente do Rio Acre já tirou quase 5 mil pessoas de casa na capital acreana. Uma dessas famílias é a do aposentado Francisco Silva Araújo, que se mudou com dois parentes para um barco ancorado em frente de sua casa, no bairro Seis de Agosto, em Rio Branco.
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Assim como milhares de moradores das regiões afetadas, Francisco Araújo viu a água entrando na casa da noite pro dia e precisou tomar uma decisão para salvar os pertences. Inicialmente, começou elevando os móveis dentro de casa, mas, com a água subindo a cada hora, uma nova solução teve de ser encontrada.
Quatro mil pessoas estão desalojadas por causa das cheias dos rios no Acre
Ao perceber que o nível do rio não iria baixar logo, já que a capital acreana enfrenta a segunda maior cheia de sua história, Francisco decidiu se mudar com a família para dentro de um barco, que pertence a eles, e ficar no local para proteger os bens de possíveis furtos.
Uma equipe da Rede Amazônica Acre estava no bairro Seis de Agosto quando viu Francisco e a família dentro da embarcação e resolveu parar para conhecer um pouco da história deles. Tímida, a filha do aposentado não quis falar.
“Foi meio difícil, fomos subindo os móveis e a água veio acompanhando. Quando chegou no teto, passamos para o batelão e estamos pedindo que a água baixe”, contou.
O nível do Rio Acre alcançou a marca de 17,86 metros na medição na tarde desta quarta-feira (6). São 48 bairros e 18 comunidades rurais atingidos pela cheia em Rio Branco e, ao todo, mais de 4,6 mil pessoas precisaram deixar suas casas, segundo a prefeitura da capital.
A capital está a menos de 55 centímetros da maior cota histórica já registrada, que é de 18,40 metros em 2015, desde que a medição começou a ser feita em 1971. Em 2015, mais de 100 mil pessoas foram atingidas pela enchente e o governo decretou situação de emergência e estado de calamidade pública, que foram reconhecidos pelo governo federal. O manancial ficou 32 dias acima da cota de alerta, que é de 13,50 metros.
Em todo o estado pelo menos 27.434 pessoas estão fora de casa, dentre desabrigados e desalojados, segundo a última atualização feita pelo governo nesta terça (5). Além disso, 19 das 22 cidades acreanas estão em situação de emergência por conta do transbordamento de rios e igarapés. Ao menos 23 comunidades indígenas no interior do Acre também sofrem com os efeitos das enchentes e quatro pessoas já morreram em decorrência da cheia.
Dificuldades
Ainda segundo o morador, a vivência dentro de um barco está sendo difícil pela falta de estrutura adequada. Durante à noite, a família não consegue dormir direito por conta do calor, dos insetos e a preocução com invações.
“A gente almoça e toma café aqui. Vamos levando na expectativa de que baixe logo. Nossa expectativa é essa”, resumiu.
Cheia na capital
Nessa segunda (4), uma comitiva do governo federal chegou ao Acre para dar assistência aos atingidos pela cheia. Vieram, entre outros, o ministro de Desenvolvimento Regional, Waldez Góes e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Em entrevista coletiva, o ministro de Desenvolvimento Regional disse que as ajudas humanitárias ao estado devem superar os R$ 30 milhões que foram enviados no ano passado, quando o Rio Acre e igarapés transbordaram na capital.
Ministros da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, chegaram ao Acre na segunda-feira (4)
Neto Lucena/Secom
“Temos que considerar depois o restabelecimento, reconstrução de muitos ambientes que estão sendo perdidos e trabalhar a questão da adaptação, que a ministra Marina conduz esse projeto que é muito importante, tem o Fundo Clima que ela vai se referir, tem valores da adaptação climática”, destacou Waldez Góes.
A ministra Marina Silva destacou que eventos como as enchentes são agravadas por alguns fatores: desmatamento, assoreamento de rios e a mudança do clima.
“Por isso estamos trabalhando um plano estruturante, são nove ministérios trabalhando para que a gente possa dar uma resposta junto com os estados mais ponderáveis e os municípios mais ponderáveis. E, obviamente, a principal ação é enfrentar a causa do problema: desmatamento, que aumenta a temperatura da terra, faz com que a haja o assoreamento dos rios e também faz com a gente tenha cada vez mais esses eventos”, confirmou.
Em edição extra do Diário Oficial do Estado (DOE) de sexta-feira (1º), o governo do Acre declarou emergência em saúde pública no estado em razão da cheia dos rios e o volume das chuvas que atingem 19 municípios do estado, desde o dia 21 de fevereiro. O decreto tem vigência de 180 dias.
Somente nos abrigos mantidos pela Prefeitura de Rio Branco, no Parque de Exposições e escolas, são cerca de 4,6 mil pessoas desabrigadas, segundo a Defesa Civil Municipal:
Parque de Exposições Wildy Viana: 800 famílias, mais de 4 mil pessoas
Escolas da capital: 184 famílias em 10 escolas da capital, um total de 600 pessoas
O governo federal liberou ainda mais de R$ 20 milhões para as ações de assistência aos atingidos pelas enchentes no Acre, na capital e no interior do estado. As portarias foram publicadas nas edições dos dias 29 de fevereiro e essa segunda-feira (4) no Diário Oficial da União (DOU). Para capital Rio Branco foram destinados mais de R$ 4 milhões.
Poucos meses separam o ápice de uma seca severa e a chegada de enchentes devastadoras no Acre (leia mais abaixo). Para entender as crises sucessivas que levaram emergência para o estado é preciso considerar ao menos três fatores:
a influência do El Niño
o atraso do “inverno amazônico”, como é conhecida a estação chuvosa na região
o impacto do aquecimento do Oceano Atlântico
Atualmente, o manancial está uma semana acima dos 17 metros. A primeira vez que o Rio Acre alcançou a marca histórica foi em 29 de fevereiro (veja abaixo a evolução do nível do rio).
Colaborou a repórter Quésia Melo, da Rede Amazônica Acre.
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