26 de dezembro de 2024

Criminosos tentam aplicar golpe do PIX em prefeitura de cidade do AC devastada por cheia histórica

Prefeitura de Brasiléia denunciou mensagens onde golpista se passava por secretário nacional de Defesa Civil, supostamente pedindo transferência via PIX para suposto pagamento de logística para entrega de materiais no município que ficou destruído após alagação. Gestão municipal encaminhou denúncia à Polícia Federal. Cenário é de destruição após cheia em Brasiléia
Júnior Andrade/Rede Amazônica
Em meio à emergência por conta da cheia histórica que atingiu 75% da cidade, criminosos tentaram aplicar um golpe na prefeitura de Brasiléia, no interior do Acre, ao se passarem pelo secretário nacional de Defesa Civil Wolnei Aparecido Wolff Barreiros.
Segundo a Defesa Civil Municipal, a enchente em Brasiléia atingiu 15.312 pessoas. Doze bairros ficaram alagados e montados 16 abrigos para instalar os moradores desabrigados.
A prefeitura do município relatou que recebeu mensagens que pediam à prefeita Fernanda Hassem que realizasse transferência via PIX para suposto pagamento de logística para a entrega de materiais como água, cestas básicas e colchões.
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As doações, segundo as mensagens, seriam entregues por um avião Hércules, da Força Aérea Brasileira (FAB). O contato possui DDD do Distrito Federal e utilizava uma foto do secretário.
Número possui DDD do Distrito Federal e utilizava foto do secretário nacional Wolnei Aparecido Wolff Barreiros.
Reprodução
Ao receber a mensagem, a equipe desconfiou e efetuou ligação para o número, que não atendeu e tirou a foto do perfil. O g1 entrou em contato com a Polícia Federal (PF-AC) e não obteve retorno até esta publicação.
“O caso foi denunciado à PF, que vai investigar. Fica um alerta para esse tipo de golpe para todas as prefeituras do Acre, que passam por esse momento de emergência e calamidade por causa da alagação do Rio Acre”, informou a gestão municipal por meio de nota.
Cenário pós-cheia
Após o Rio Acre atingir a marca histórica de 15,58 metros na cidade de Brasiléia, no interior do Acre, os moradores do município atingidos pela enchente ainda não têm previsão para voltarem para suas casas. A prefeitura da cidade informou que é necessário a liberação da Defesa Civil Municipal para que os moradores possam retornar às suas residências.
No último sábado (2), o nível do rio marcava 9,75 metros, abaixo da cota de alerta que é de 9,80 metros. Nesta quinta, o manancial marcou 5,99 metros.
Em todo o estado, pelo menos 28.855 pessoas estão fora de casa, dentre desabrigados e desalojados, segundo a última atualização feita pelo governo do estado nesta quinta (7). Além disso, 19 das 22 cidades acreanas estão em situação de emergência por conta do transbordo de rios e igarapés. Ao menos 23 comunidades indígenas no interior do Acre também sofrem com os efeitos das enchentes e cinco pessoas já morreram em decorrência da cheia. O número aumentou nesta quarta após um bebê de 1 ano e 8 meses morrer afogado no quintal de casa na Comunidade Tapiri, zona rural de Cruzeiro do Sul.
De acordo com a prefeita de Brasiléia, Fernanda Hassem, muitos moradores estão indo até suas casas para limpar, porém retornando para o abrigo. “A Defesa Civil não recomendou a volta pra casa, não teve aquela operação volta pra casa, entende? Porque é muito prejuízo, muitas casas destruídas”, explicou.
A gestora também explica que está impossibilitado a volta das famílias para casa por falta de acesso às ruas. “A cidade está destruída. Não tem acesso nem nas ruas, desmoronou e tá cheio de entulho. Mas uma força-tarefa já foi montada e deve começar hoje a limpeza geral da cidade”, disse.
Rua coberta pela lama em Brasiléia
Divulgação/Prefeitura de Brasiléia
Segundo o coordenador da sala de crise de Brasiléia, subcomandante-geral do Corpo de Bombeiros do Acre, coronel Eden Santos, o impacto da cheia foi violento para os moradores da cidade.
“Nós estamos fazendo todos os levantamentos, levantando todos os impactos nas ruas, nos órgãos públicos, tudo está sendo feito, então a tarefa ainda é muito grande para poder voltar pra casa, a gente percebe muitas pessoas chegando, muitas pessoas fazendo limpeza, mas assim, retorno para casa vai requerer um certo tempo pra poder deixar numa condição satisfatória, porque o cenário aqui é desastroso”, disse.
O coordenador ainda explicou que é necessário fazer vistorias para verificar o impacto que a cheia histórica no município, deixou nas casas. Será necessário averiguar as condições de habitabilidade das residências.
“No centro da cidade está desastroso. Todos os ambientes onde a água chegou, com muita força, gerou grandes impactos. Não tem como te falar com precisão quando as pessoas vão retornar para casa. Então tem muito desabrigado, tem muito desalojado, que ainda vai demorar pra poder retornar para sua casa”, explicou.
Praça de Brasiléia durante e depois da alagação, uma semana depois de registrar cheia histórica
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Santos ainda salientou sobre um ponto pouco comentado: os efeitos psicológicos que a calamidade pode ter causado nos moradores.
“Ainda tem a questão do impacto psicológico na pessoa. Esse lance do pertencimento, de saber que viveu e que estava vivendo nessa casa, e de repente volta para o cenário destruído. Leva tempo para a pessoa poder recuperar também, não só o bem, mas também a condição emocional, psicológica, para continuar vivendo num ambiente que foi atingido por um desastre desse”, destaca.
Na manhã desta segunda-feira (4), os ministros da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, além de outros representantes do governo federal, chegaram ao Acre para visitar as áreas alagadas pelas enchentes dos rios.
Ministros levaram apoio e assistência para moradores de Brasiléia
Júnior Andrade/Rede Amazônica Acre
A ministra Marina Silva destacou novamente eventos como as enchentes são agravadas por alguns fatores: desmatamento, assoreamento de rios e a mudança do clima.
“Por isso estamos trabalhando um plano estruturante, são nove ministérios trabalhando para que a gente possa dar uma resposta junto com os estados mais ponderáveis e os municípios mais ponderáveis. E, obviamente, a principal ação é enfrentar a causa do problema: desmatamento, que aumenta a temperatura da terra, faz com que a haja o assoreamento dos rios e também faz com a gente tenha cada vez mais esses eventos”, confirmou.
Acre enfrenta enchentes históricas
Também nesta segunda, o governo federal liberou mais de R$ 20 milhões para as ações de assistência aos atingidos pelas enchentes no Acre, na capital e no interior do estado. As portarias foram publicadas nas edições dos dias 29 de fevereiro e 4 de março, no Diário Oficial da União (DOU).
Ministros da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, chegaram ao Acre nesta segunda-feira (4)
Neto Lucena/Secom
Poucos meses separam o ápice de uma seca severa e a chegada de enchentes devastadoras no Acre. Para entender as crises sucessivas que levaram emergência para o estado é preciso considerar ao menos três fatores:
a influência do El Niño
o atraso do “inverno amazônico”, como é conhecida a estação chuvosa na região
o impacto do aquecimento do Oceano Atlântico
Cheia no Rio Acre atinge 7 municípios
Arte g1
Juntos, os fenômenos climáticos fizeram o Rio Acre mudar completamente de panorama em um intervalo curto no mês de fevereiro. No dia 15, seu nível era de 7,06 metros. Já no dia 22, subiu 5,97 metros no período de 24 horas em Assis Brasil, cidade por onde entra no país.
Enchentes no Acre começaram em Assis Brasil na segunda quinzena de fevereiro
Arte/g1
VÍDEOS: g1

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