27 de dezembro de 2024

Em meio a epidemia de dengue, Emílio Ribas tem mais de 80 leitos e três andares reformados em desuso por falta de profissionais

SP2 teve acesso vídeos feitos por funcionários do instituto que mostram a situação da unidade de saúde: são macas, cadeiras de roda, camas de primeira linha e diversos equipamentos sem utilidade. Gestão do hospital disse que está em fase final de contratação de profissionais. Três andares reformados estão fechados no Instituto Emílio Ribas por falta de profissionais
Em meio a uma epidemia de dengue na cidade de São Paulo, o Instituto Emílio Ribas, hospital centenário e referência em infectologia no país, está com mais de 80 leitos e três andares reformados em desuso por falta de profissionais de saúde.
O SP2 teve acesso a vídeos feitos por funcionários que mostram a situação da unidade de saúde: são macas, cadeiras de roda, camas de primeira linha e diversos equipamentos sem utilidade alguma.
Por medo de represálias, os trabalhadores que compartilharam o material não quiseram mostrar o rosto.
“Andar todo reformado, porém… A enfermaria que eu encontrei aberta, olha a quantidade de cama. Andar parado, sem uso, sem equipe, sem nada”, disse um funcionário.
No 6º andar, são pelo menos 19 macas guardadas. “Veja, camas de primeira linha, ó. Só camas de primeira linha”. Já no 5º andar, o vídeo mostra que há 22 cadeiras em um dos leitos.
“Dinheiro público, dinheiro público”, lamentou outro funcionário.
O presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo afirma que o motivo de os leitos estarem em desuso é a falta de pessoal:
“De fato, houve o concurso público em 2022 e nem todos os profissionais que foram aprovados nesse concurso foram convocados, já houve convocações, sim, mas o fato é que pouco mudou em relação aos leitos que vinham fechados por falta de pessoal”, apontou Augusto Ribeiro Silva, presidente do Simesp.
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Alas prontas desde 2019 e obras em atraso
As alas no instituto estão prontas desde 2019 — a obra de ampliação do Emílio Ribas é antiga, com projeto pronto em 2013. A reforma previa aumentar a capacidade de internação em 50%.
O investimento anunciado pelo governo estadual foi de R$ 100 milhões, com entrega prevista para o fim de 2016. No entanto, em 2017, apenas uma parte saiu do papel. E o investimento quase dobrou: saltou pra R$ 189 milhões.
À época, o governo não deu um novo prazo para entrega. Em 2019, servidores protestaram contra a demora na entrega da reforma e pediram mais agilidade nas obras.
Durante a pandemia, o Emílio Ribas atendeu exclusivamente pacientes com Covid. O g1 revelou que, caso o cronograma inicial fosse seguido, o hospital teria pelo menos 130 leitos a mais.
Em 2020, o Tribunal de Contas do Estado pediu explicações à direção do instituto sobre o atraso. O TCE também questionou o aumento no valor da obra que, segundo o tribunal, era irregular. À época, o hospital afirmou que a reforma estava em andamento.
Em 2023, a Secretaria Estadual da Saúde emitiu um documento afirmando que “no dia 29 de novembro de 2023, foi realizada uma vistoria para verificar a conclusão da reforma”. O laudo está assinalado como “sem pendências” e foi assinado por dois engenheiros.
Em dezembro, o governo do estado enviou um ofício ao TCE avisando sobre o “término da reforma de duas alas do hospital” e que o instituto estava “à disposição do tribunal para o que fosse necessário.”
Na última terça-feira (05), quase três meses depois, o TCE determinou que se faça, “o quanto antes, uma visita no local para confirmar o estado de conclusão das obras e do cumprimento contratual”.
Quem depende dos serviços do hospital, reclama. Um paciente soropositivo, que pediu para não ser identificado, faz o tratamento no hospital há mais de 18 anos e sente falta de médicos, enfermeiros e de agilidade na marcação de consultas.
“Um hospital muito bem estruturado, porém não tem funcionário o suficiente. Questão do agendamento também, entendeu? O agendamento não está mais funcionando, porque o estado justamente contratou uma empresa e a empresa não pagou os funcionários”, afirmou.
“Falta medicamento, falta médico, muitas vezes no pronto-socorro o atendimento é bem demorado, de final de semana. Ali, na verdade, acho que é questão de gestão, precisa alguém estar dando uma olhada, uma atenção especial ao hospital, né, para que volte a ser o hospital que a gente sempre confiou no tratamento”.
O que dizem o hospital e o Governo de SP
O SP2 pediu uma entrevista à direção do Instituto Emílio Ribas para que ela explicasse o que está acontecendo por lá, mas ninguém quis falar. Em nota, o hospital disse que está em fase final de contratação de profissionais para começar a usar os andares citados.
A Secretaria Estadual da Saúde informou que duas fases da reforma foram entregues e que a terceira e última fase foi licitada. O investimento agora saltou para mais de R$ 197 milhões. A pasta não informou o prazo para a terceira fase começar ou terminar.

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