Em dezembro de 2023, o Ministério da Saúde anunciou a incorporação do imunizante ao sistema público de saúde e a farmacêutica Takeda, que produz a vacina Qdenga, informou que iria priorizar as entregas ao SUS. Brasileiros que tomaram vacina da dengue em clínicas têm dificuldade para tomar a 2ª dose
Brasileiros que tomaram a primeira dose da vacina da dengue em clínicas privadas estão com dificuldades para completar o ciclo vacinal.
A auditora Deisy de Godoy tomou a primeira dose da vacina em uma clínica particular de Foz do Iguaçu, no Paraná, em novembro de 2023. Deveria tomar a segunda dose três meses depois, ou seja, no começo de fevereiro. Mas não conseguiu encontrar o imunizante em nenhuma clínica.
“Eu sinto uma preocupação devido a esses casos de dengue que a gente sabe. Gostaria de estar imunizada”, diz ela.
As clínicas particulares começaram a vender a vacina contra a dengue em julho de 2023. Em dezembro, o Ministério da Saúde anunciou a incorporação do imunizante ao sistema público de saúde e a farmacêutica Takeda, que produz a vacina Qdenga, informou que iria priorizar as entregas ao SUS. Foi aí que começaram as dificuldades.
“A gente percebe que a população está preocupada, tem interesse na aplicação da vacina. Elas acabam nos procurando e a gente não consegue estar atendendo pela falta de dose por parte do fabricante”, diz Emília Iopp, dona de clínica.
De acordo com a ABCVAC, a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas, pelo menos 10 mil brasileiros tomaram a primeira dose da vacina entre outubro de 2023 e janeiro de 2024.
“Nós temos uma indicação a bula do próprio fabricante, inclusive, que há um intervalo de 90 dias, três meses, entre a primeira e segunda dose para nós termos o benefício completo da vacina. O cenário atual que nós temos hoje é pessoas que iniciaram seus esquemas vacinais em outubro e novembro já estão com os seus esquemas vacinais atrasados”, comenta Fabiana Funk, presidente da ABCVAC.
A associação ainda afirma que as clínicas nunca foram orientadas pela Takeda a guardar vacinas em estoque para a segunda aplicação.
Quando a dengue pode matar? Entenda como identificar casos graves da doença
Após os apelos das clínicas, a Takeda prometeu entregar 70% das doses necessárias para concluir o ciclo vacinal de quem já tomou a primeira dose, mas não definiu um prazo de entrega.
Em nota, a Takeda afirmou que “o objetivo é prover o esquema vacinal completo para aquelas pessoas que já tomaram a primeira dose nas clínicas de vacinação” e que “está trabalhando junto aos distribuidores para priorizar que as pessoas que tomaram a primeira dose do imunizante completem o esquema vacinal”.
A farmacêutica ainda afirmou que “diante do atual cenário da inclusão da Qdenga no SUS e os dados alarmantes da dengue no Brasil, está concentrada em atender de forma prioritária a demanda do Ministério da Saúde”.
O fisioterapeuta Marcos Vinícius de Carvalho queria comprar as vacinas. Ele e a filha já tiveram dengue e estão preocupados com o aumento de casos da doença.
“A gente fica receoso de adquirir uma forma grave da doença e precisar ser internado, ter outras complicações. Então, estamos ansiosos aguardando a vacina e, assim que chegar, a intenção é vacinar toda a família”, conta ele.
O Ministério da Saúde declarou que todas as crianças de 10 a 14 anos que tomaram a primeira dose em clínicas privadas podem completar o ciclo vacinal na rede pública – respeitando o intervalo de três meses entre as doses. O ministério informou que esse é o atual público-alvo da vacinação porque concentra um dos maiores números de internações.
LEIA TAMBÉM
Dengue: 57% dos pacientes com mais de 80 anos passaram para um quadro grave da doença
Avanço da dengue no Brasil obriga prefeituras a reforçar o combate ao aedes aegypti
Avanço da dengue no Brasil obriga prefeituras a reforçar o combate ao aedes aegypti