Na chamada geração sanduíche, mulheres e homens abraçam o desafio de tomar conta dos pais e ainda criar os filhos na mesma casa. Uma transformação que ocorreu nos lares brasileiros está obrigando milhões de pessoas a se desdobrar em cuidados com parentes que vivem sob o mesmo teto
Uma transformação que ocorreu nos lares brasileiros está obrigando milhões de pessoas a se desdobrar em cuidados com os parentes que vivem debaixo do mesmo teto: os mais novos e também os mais velhos.
A Juliana Pereira Gomes Feliciano precisou abrir mão de um emprego em uma multinacional para tomar conta da família.
“Essas são as fotos de recém-nascido do Gabriel, que está com 5 aninhos, e tem o Benjamin, que está 2 anos e 8 meses. Eu chamo aqui em casa tumultinho e confusão”, conta.
Ela também cuida dos sogros. Ubiratan tem glaucoma e uma cardiopatia severa. Maria Christina é diabética, hipertensa e sofre de uma doença autoimune.
“Tem que comprar os remédios, ver o que está faltando, administrar tudo isso, acompanhar nas consultas, saber como está o relatório, a evolução. Marcar os exames também. Acaba ficando tudo centralizado na secretária da família, que sou eu”, diz Juliana Pereira Feliciano, corretora de imóveis.
Em cada canto da casa tem uma tarefa diferente. Roupa que não acaba. E não pode perder a hora de pegar os filhos na creche.
“Meu dia é cronometrado. Acordo às 4h20 para conseguir tirar um tempo para mim, fazer uma atividade física às 5h. Depois, já levanto as crianças, cuido do café da manhã, cuido da casa, atendo a alguma necessidade deles ao longo do dia”, enumera Juliana.
Estudo revela que a necessidade de ter várias gerações dividindo o mesmo teto vem crescendo no Brasil
Jornal Nacional/ Reprodução
A Juliana faz parte da chamada geração sanduíche: mulheres e homens que abraçam o desafio de tomar conta dos pais e ainda criar os filhos na mesma casa. Funções que sobrecarregam a vida, porque é preciso arrumar tempo e espaço no orçamento para dar conta do recado.
Estudo da Fundação Getúlio Vargas revela que a necessidade de ter várias gerações dividindo o mesmo teto vem crescendo no Brasil. A pesquisadora Janaína Feijó diz que a permanência de filhos adultos na casa dos pais e o aumento da expectativa de vida da população ajudam a explicar o fenômeno.
“Devido o Brasil ser um país em que a renda média é muito baixa e o custo de vida tem aumentado ao longo do tempo, tem sido cada vez mais difícil idosos conseguirem sustentar o seu próprio lar”, explica a economista e pesquisadora da FGV Ibre.
Entenda o que é a ‘geração sanduíche’ e por que as mulheres são mais afetadas
A pesquisa diz que o peso de lidar com a situação recai principalmente sobre os ombros delas.
“Devido a toda essa nossa rotina sobrecarregada, eu fiquei hipertensa há dois anos. Então, eu preciso cuidar também de mim, porque eu sou o suporte, eu cuido de muita coisa”, diz Juliana, emocionada.
A quantidade de mulheres nesta situação aumentou 27% em onze anos no Brasil. A de homens, cresceu 17%.
Geração sanduíche
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“Nós precisamos avançar na divisão das responsabilidades do lar. As gerações atuais já estão mais conscientes de que os afazeres domésticos não devem recair sobre a figura feminina. Mas isso demora tempo”, afirma Janaína Feijó.
Com tanto para fazer, 33% dessas mulheres acabam ficando fora do mercado de trabalho. Uma proporção quase seis vezes maior do que a registrada entre os homens. E quando elas têm um trabalho remunerado, muitas vezes é na informalidade.
“Tive que me reinventar em uma nova profissão. Minha profissão atual é corretora de imóveis, onde eu consigo flexibilizar o momento de ter que sair. É o que a gente precisa fazer, é o que precisa ser feito”, diz Juliana Pereira Gomes Feliciano.
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