O Dia Internacional das Mulheres é comemorado nesta sexta-feira (8). Pesquisa mostra que mulheres passam mais tempo cuidando dos filhos e afazeres domésticos do que os homens. Mesmo com o barrigão de quase 9 meses de gestação, a jovem Mariane Almeida Duarte não mediu esforços para ir buscar mercadorias para sua loja on-line de roupas. Já Greice Rosário não desistiu da sua autonomia, mesmo após o diagnóstico de esclerose múltipla.
Histórias como essas compõem uma pesquisa do Sebrae-RJ sobre o empreendedorismo feminino no estado. O levantamento mostra que 80% das mulheres empreendedoras do Rio de Janeiro consideram que os filhos foram a principal influência na hora de abrir uma empresa ou trabalhar por conta própria.
A pesquisa também aponta que a maioria se sente sobrecarregada com o trabalho e os afazeres domésticos.
A pesquisa Características dos Empreendedores: Empreendedorismo Feminino foi feita com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE, de novembro 2023, mas divulgada somente agora por conta do Dia Internacional da Mulher.
Mariane, moradora de Duque de Caxias, é mãe de duas meninas pequenas. Ela passou a empreender em 2019, quando só tinha a primeira filha.
Perto das filhas e contas pagas
“Comecei a vender roupas porque eu já tinha uma filha pequena e precisava comprar as coisas, tanto para mim quanto pra ela. Era uma experiência ótima, porque eu não precisava ficar longe dela e conseguia pagar as contas”, afirma.
“Já na gravidez da caçula, as coisas foram só ladeira abaixo”, conta ela.
A empreendedora Mariane Almeida e suas duas filhas
Arquivo pessoal
Segundo ela, as vendas caíram após a chegada da segunda filha, que aconteceu pouco depois da pandemia. Durante o isolamento social, o faturamento era melhor.
“Em 2019, era difícil conseguir emprego sem experiência. Como eu sabia vender, entrei nessa área. Agora, eu quero terminar o meu técnico em enfermagem, que tive que parar para cuidar da mais nova. Continuo sobrevivendo nas vendas, mas eu quero sair, o mais rápido, dessa área e focar na minha especialização”, afirma.
Enquanto isso, Greice Maria do Rosário, de 58 anos, não desistiu da autonomia, mesmo após receber o diagnóstico de esclerose múltipla, uma doença sem cura que pode causar comprometimento da função motora, fraqueza muscular e outros sintomas.
“Há mais de dez anos abri minha MEI de festas, trabalhei durante 7 anos até me separar de um casamento de 25 anos”, conta ela.
Greice Rosário em uma feira na Praça Mauá em comemoração ao Dia das Mulheres
Arquivo pessoal
A empresária do ramo da gastronomia contou ao g1 que a descoberta da doença veio no período da separação. Os médicos explicaram que o estresse influencia na doença neurológica e autoimune.
Ela se submeteu a um tratamento que, na época, ainda era experimental. Mas, por ficar sem andar durante três meses, decidiu arriscar e hoje, 8 anos depois, conseguiu retardar a evolução da doença.
“Faço tudo que amo com limitações, mas me sinto maravilhada por tudo que faço. Estou fazendo minha segunda faculdade agora, claro, de gastronomia”, afirma ela.
A sobrecarga
A pesquisa aponta que as mulheres empreendedoras gastam quase três vezes mais tempo diário com a família e cuidados da casa do que os homens. Por conta disso, 66% delas acreditam que os negócios são mais difíceis para as mulheres – principalmente por questões que envolvem dinheiro.
Mulheres estão mais sobrecarregadas do que homens
Elaboração g1
Os dados mostram que são cerca de 3,2 horas diárias em afazeres domésticos e mais de 2 horas dispensadas em cuidar de pessoas, sejam filhos ou parentes. Enquanto isso, homens costumam gastar cerca de 1 hora em cada uma dessas funções.
Foram mais de 6 mil pessoas entrevistadas, entre homens e mulheres. O levantamento traz um perfil de mulheres que são donas dos próprios negócios: a maioria se desdobra entre cuidar dos filhos, gerir seu trabalho e cuidar dos afazeres domésticos.
Pesquisa mostra que mulheres estão mais sobrecarregadas que homens
Elaboração g1
Flexibilidade de horários
Para dar conta da casa e da mãe que sofre de artrose, a massoterapeuta Ana Pavani precisou deixar de trabalhar um dia por semana.
“A minha filha, que tem 17 anos, estuda o dia inteiro, então sobra para eu cuidar da casa sozinha. Eu cuido também da minha mãe, que mora embaixo da minha casa. Como hoje eu tenho mais flexibilidade com meus horários, reservei um dia da semana para cuidar de tudo”, explica Ana.
Massoterapeuta Ana Pavani
Arquivo pessoal
Beatriz Cavalcante, de 26 anos, empreende no ramo de joias e beleza desde 2021. A moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, conta que começou a carreira para ter tempo para os filhos — um deles é autista.
“Sou mãe de 2 meninos lindos, um deles autista, o que me impulsionou ainda mais para o empreendedorismo, já que a maternidade atípica limita muito a mãe no CLT. Cuido dos meus filhos e afazeres domésticos sozinha. É natural que a gente acabe deixando de fazer algo por nós mesmas pra dar conta de tudo, principalmente quando se é mãe solo”, destaca a jovem.
Beatriz Cavalcante e seus dois filhos
Arquivo pessoal
Ambas são mães solo e buscam melhorar e evoluir em seus trabalhos, tanto em experiência quanto em especializações. No entanto, não é tão fácil quanto poderia ser.
“Como sou a provedora do meu lar, não sobra muito pra investir. Esse ano pretendo entrar num curso técnico, para ter mais uma profissão, mas me programando para sobrar dinheiro pra isso, o que nem sempre dá. Uma hora consigo, sigo firme e forte no propósito, sou mulher, pobre, preta, empoderada e forte o suficiente para alcançar os meus objetivos”, diz a massoterapeuta Ana Pavani.
Em relação ao cansaço, muitas vezes empreender pode ser mais exaustivo do que cumprir um expediente para um patrão.
“Me identifico como uma empoderada cansada porque o fato de você ser sua própria chefe, fazer seus horários, gerenciar sua própria carreira traz sim muito empoderamento, mas ainda assim é uma rotina bem cansativa e desgastante, principalmente psicologicamente”, desabafa a jovem Beatriz.
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