Pelo trabalho que tem desempenhado no país mais novo do mundo, a mogiana Renata de Castro Monteiro Netto concorre ao prêmio de Defensora Militar da Igualdade de Gênero das Nações Unidas 2023. Tenente-coronel brasileira concorre a prêmio inédito pela ONU
Tenente-coronel do Exército Brasileiro, Renata de Castro Monteiro Netto, 51 anos, nasceu em Mogi das Cruzes e, atualmente, está em missão de paz no Sudão do Sul. Pelo trabalho que tem desempenhado no país mais novo do mundo, ela concorre ao prêmio de Defensora Militar da Igualdade de Gênero das Nações Unidas 2023, tema que deve ser destacado neste Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta sexta-feira (9).
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Esta é a primeira vez que uma militar do Exército Brasileiro concorre ao prêmio na categoria. Duas militares brasileiras já ganharam o prêmio, mas elas eram da Marinha. O resultado deverá ser divulgado ao final de maio, em Nova York (leia mais abaixo).
Os laços no Brasil
Apesar de estar no continente africano e ganhando reconhecimento internacional, é de Mogi das Cruzes que a tenente-coronel lembra quando pensa com carinho nos avós paternos e na tia Gilda.
Renata só nasceu na cidade, mas, durante a infância, visitava os familiares e podia comer bolos ‘sem receita’ e ouvir a gostosa risada da tia durante os feriados.
“Eu ainda tenho muitos primos e primas que moram em Mogi e região e eu nasci na cidade porque a minha família paterna é de médicos e minha mãe se sentiu mais segura em ter o parto na Santa Casa de Mogi sob assistência do meu tio médico”, conta a tenente-coronel.
Após o parto, Renata logo se mudou com a família para Salvador, na Bahia, onde morou até os seis anos de idade. Depois, eles foram para Niterói, no Rio de Janeiro. Ainda no estado, ela se formou na faculdade de Odontologia de Campos dos Goytacazes, em 1994.
Atualmente, quando está fora das missões, Renata mora com o marido e as filhas em Brasília.
“Para aliviar a saudade parcelei meu período de arejamento para que possa estar mais vezes em casa. Procuro ir sempre que possível. Também utilizo as chamadas de vídeo todos os dias para para me manter mais próxima da família e ajudar a coordenar as necessidades familiares. Minhas filhas são duas meninas lindas, são indígenas e ambas são adotivas”, diz.
A carreira no exército
Já formada em Odontologia, Renata se especializou, em 1995, em Endodontia. Em 1996, ela entrou no Exército Brasileiro como oficial temporária da turma pioneira de Médicos, Dentistas, Farmacêuticos e Veterinários (MFDV), na qual a seleção é realizada por meio de análise curricular e o profissional pode integrar as fileiras do Exército por um período de 8 anos.
“Eu me adaptei muito rapidamente à vida militar e decidi que era a carreira que desejava seguir. Após 4 anos de estudos, fui aprovada no concurso de Formação de Oficiais do Serviço de Saúde em 2000, passando a ser Oficial de carreira do Exército. Durante a minha jornada no Exército servi em inúmeras Organizações Militares e conclui vários cursos de especialização civis e militares”, explica a tenente-coronel.
A militar passou por diversas experiências e formações até ser selecionada para a missão no Sudão do Sul
Arquivo Pessoal/Renata Monteiro
Entre os cursos, ela concluiu um mestrado em Odontologia. Em 2018, Renata deu início à preparação para Missões de Paz, no Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), Centro Sérgio Vieira de Melo, centro de reconhecimento internacional em assuntos relativos à preparação individual e de tropas para missões de paz sob a égide da ONU.
O trabalho no Sudão do Sul
Foram inúmeras experiências até que Renata fosse selecionada para a Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNMISS), em 2022. Ela chegou ao país em 2023 e, antes disso, realizou cursos preparatórios nacionais e internacionais, além de aperfeiçoamento em idiomas.
Em um lugar onde muitas vezes os direitos humanos não são lembrados, a mogiana tem se destacado neste quesito. Ela concorre ao prêmio de Defensora Militar da Igualdade de Gênero das Nações Unidas 2023 desempenhando sua função de observar, monitorar e reportar qualquer tipo de violação dos direitos humanos testemunhadas durante patrulhas aéreas, ribeirinhas e motorizadas, em áreas de conflito, previamente estipuladas pela ONU.
A tenente-coronel atua, principalmente, a favor das crianças e mulheres do país africano
Arquivo Pessoal/Renata Monteiro
Renata desempenha sua função desarmada, liderando as patrulhas como símbolo de boa-fé e confiança. Ela leva o capacete azul como símbolo da presença da Organização em áreas de cessar-fogo. Esta é a primeira vez que uma militar do Exército Brasileiro concorre ao prêmio nessa categoria.
“Durante a crise e onda de violência que ocorreu em maio e junho de 2023, no Campo de Proteção de Civis, no local onde estava desdobrada como Observadora Militar, não me limitei a fazer apenas o básico, busquei colaborar em todas as atividades que pudessem diminuir o sofrimento dos mais necessitados, e evitar que direitos humanos fossem violados, principalmente contra mulheres e crianças, que são a população mais vulnerável em momentos de conflitos”, explica a tenente-coronel sobre os pontos que a fizeram ser indicadas ao prêmio.
O país mais novo do mundo
O Sudão do Sul se tornou independente em 2011, após se tornar o 193º país reconhecido mundialmente, sendo o mais novo do mundo. Em 2013, se viu em uma guerra civil que, em cinco anos, causou mais de 380 mil mortes, cerca de quatro milhões de deslocados.
Até que em 2018, o presidente do país, Salva Kiir, e o atual vice-presidente, Riek Machar, que eram rivais, assinaram um acordo de paz. Ainda assim, o país vive em contantes conflitos, já que as diversas etnias que vivem por lá disputam território e poder.
Renata diz que o povo do Sudão do Sul a recepciona muito bem quando sabem que ela é brasileira
Arquivo Pessoal/Renata Monteiro
“O Sudão do Sul está em processo de recuperação das guerras sofridas nos últimos anos. Desde que cheguei aqui, já percebi uma grande evolução na capital do país. Sobre a população posso dizer que eles são um povo sofrido, mas que não perdeu a esperança e seguem sorrindo. A bandeira do Brasil abre portas, eles são muito solícitos quando identificam minha nacionalidade”, afirma Renata sobre a experiência de estar no local.
Prêmio da ONU
O prêmio de Defensora Militar da Igualdade de Gênero da ONU foi criado em 2016 e já contou com duas brasileiras vencedoras, nas edições de 2018 e 2019. Elas, porém, eram militares da Marinha do Brasil.
A indicação é feita pelo Representante Especial do Secretário-Geral da ONU e pelo Comandante da Força Militar. Concorrem todos os militares que tenham se destacado no ano de 2023, com atuações voltadas para a equidade e paridade de gênero.
Cada Missão de paz escolhe o seu representante militar. Uma comissão avalia a biografia e atuações realizadas para a decisão final. O resultado será divulgado no fim do mês de maio em Nova York, na sede das Nações Unidas, no período de comemorações do Dia do Soldado da Paz, que acontece dia 29 de maio.
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