21 de setembro de 2024

39% das mulheres mortas em casa foram vítimas de arma de fogo, diz Sou da Paz

Em 35% das agressões não letais no lar, o agressor havia consumido álcool, segundo estudo divulgado nesta sexta (8). Violência doméstica: foto ilustrativa de homem segurando pulsos de uma mulher
Marcos Santos/USP Imagens
A terceira edição da pesquisa “O Papel da Arma de Fogo na Violência Contra a Mulher”, que será lançada pelo Instituto Sou da Paz com dados do Ministério da Saúde do ano de 2022, aponta 39% dos homicídios de mulheres em casa foram cometidos com emprego de arma de fogo em 2022.
Ainda segundo o estudo, no período analisado, 25% das notificações de violência armada não letal indicam suspeita de que o agressor consumiu álcool. Essa taxa sobe para 35% nos casos ocorridos dentro de casa e o cenário pode ser ainda pior já que 45% das notificações não apresentam essa informação.
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Entre os agressores, as pessoas próximas são responsáveis por 43% das agressões não letais com arma de fogo. Estão nesse grupo os parceiros, amigos, conhecidos ou familiares. O destaque fica para os parceiros íntimos – companheiros ou ex-companheiros – que respondem por 28% das agressões não fatais com uso de arma de fogo.
O cenário envolvendo agressões praticadas por pessoas íntimas das mulheres tem piorado nos últimos quatro anos, explica o Instituto Sou da Paz.
“Conhecer o perfil dos agressores das mulheres é uma forma de subsidiar políticas públicas mais efetivas. No entanto, atualmente esse perfil só é detalhado no sistema de saúde nos casos de agressões não letais, por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação. O perfil nos casos de feminicídios, por outro lado, precisaria ser construído a partir dos dados das Secretarias de Segurança Pública responsáveis por investigar a autoria e circunstâncias dos homicídios’, diz o Instituto Sou da Paz.
Quatro mulheres são vítimas de feminicídio por dia no Brasil
Letalidade
O Brasil vive uma redução de agressões fatais desde 2017, quando a proporção desses casos era de 54%. Mesmo assim, diz o Sou da Paz, 50% dos assassinatos de mulheres no Brasil foram realizados com armas de fogo em 2022. Destas mortes, 27% ocorreram dentro de casa.
O instituto avalia que o “afrouxamento da política de controle de armas” permitiu p aumento desses artefatos dentro das casas.
Quem são as vítimas?
Entre 2012 e 2022, em média, uma mulher foi assassinada por arma de fogo no Brasil a cada 4 horas. A média de homicídios femininos registrados no país é de 4,4 mil ao ano, sendo que as armas de fogo foram utilizadas em metade dos casos.
Em 2022, as vítimas de feminicídio por arma de fogo tinham o seguinte perfil:
60% tinham entre 20 e 39 anos
68,3% eram mulheres negras
29,5% eram mulheres brancas
0,5% eram mulheres indígenas
0,3% eram mulheres amarelas
1,4% das ocorrências tiveram quesito racial ignorado
Lar, um local mais inseguro para as mulheres
Diferente do que ocorre com os homens, as casas das mulheres seguem sendo um local de risco, já que 27% dos homicídios são praticados nesses espaços, enquanto é o local de assassinato de homens em 21% dos casos.
Quando se leva em considerção o recorte rracial, 34% das mortes por armas de fogo das mulheres negras ocorrem em suas casas (acima da média dos 27%). Já as vias públicas são um fator de risco maior para as mulheres negras, 45% das vitimizações ocorrem nesses espaços.

Nas violências armadas não letais, 43% das mulheres vitimadas sofreram a agressão armada dentro de casa e 30%, na rua.

Entre as mulheres negras vitimadas, 51% foram mortas com arma de fogo, enquanto entre as mulheres não negras, essa proporção foi de 47%.
Dados da pesquisa indicam que a proporção de mortes por agressão armada volta a crescer apenas entre as mulheres não negras, o que pode estar ligado ao fato da facilitação de acesso a armas nas casas da população, já que elas são mortas nas residências com mais frequência do que as mulheres negras.
“A preocupação aumenta por saber que homens brasileiros estão mais armados que nunca após anos de aumento do acesso a armas. Assim, é preciso fortalecer o controle da circulação dessas armas de fogo e fortalecer medidas de prevenção a agressões que podem resultar em morte”, diz Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz.

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