Eleição do país acontece em fases e dura até início de junho. Premiê vem sendo acusado de promover disputa entre religiões para ganhar mais votos de sua base, da maioria hindu. Ele nega. Último grupo de eleitores vai às urnas sábado. Contagem de votos começa na terça (4); vencedor será declarado até quarta (5). Muçulmanos rezam em frente a mesquita em Nova Déli, na Índia, em 11 de abril de 2024.
Manish Swarup/ AP
A eleição na Índia, a maior de todo mundo, chegou à metade do caminho nesta semana com o cenário um pouco mais definido a favor do atual primeiro-ministro, Narendra Modi, que tenta a reeleição.
Nem o crescimento econômico, nem a projeção internacional, nem a alta popularidade. A polarização entre hindus e muçulmanos tem sido a grande carta na manga utilizada pelo primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, para garantir sua reeleição nas eleições do país, que entraram na reta final nesta semana.
O último grupo dos 970 milhões de eleitores convocados a votar no pleito do país — mais de 10% da população mundial — irá às urnas neste sábado (1º). A votação ocorre ao longo de sete semanas, e cada região vota em datas diferentes. A contagem dos votos começa na próxima terça (4); o vencedor será anunciado até quinta (5).
Desde seu início, em 19 de abril, o processo de votação vem sendo marcado por acusações de que Modi vem tentando colocar em disputa a população hindu, que é maioria, com a minoria muçulmana.
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Segundo analistas do país, o premiê, com alta popularidade, pretende fomentar a polarização para que os hindus, religião de cerca de 85% da população e da base de sua sigla, o Partido Bharatiya Janata (PBJ), compareçam aos locais de votação.
Uma estratégia que pode ter sido redesenhada às pressas por conta de outro fator que marcou a primeira das sete fases: um baixo comparecimento às urnas, principalmente por parte da população hindu.
“O Modi tem mais camadas que a questão religiosa, mas a religião é o grande ponto de mobilização [de sua campanha]. Ele já entendeu que os muçulmanos não importam para sua reeleição”, disse ao g1 o professor de política internacional Tanguy Bagdhadi.
As acusações começaram após Modi lançar sua campanha em uma das cidades mais sagradas para o hinduísmo.
Ainda assim, o premiê, um dos maiores defensores do nacionalismo hindu no país, começou a corrida eleitoral baseando-se no pilar do crescimento econômico da Índia, na intenção do país em se tornar uma nova potência e em sua alta popularidade.
No entanto, nas ainda na primeira fase das eleições, ele foi migrando seu discurso nas questões religiosas. O premiê acusou a principal legenda de oposição, o Partido do Congresso, por exemplo, de ser pró-muçulmano.
“Ele tem usado o discurso de que muçulmanos estão se reproduzindo mais rápido para se tornar maioria no país”, afirmou Bagdhadi, que disse achar que o premiê adotará a narrativa também em um novo governo, no caso de se reeleger.
“Ele sabe que, dessa maneira, conseguirá se manter como favorito dos hindus e não precisará depender sempre de resultados econômicos para isso.”
Há duas semanas, questionado sobre a possível estratégia, Modi negou:
“O dia em que eu começar a falar sobre hindus e muçulmanos (na política) será o dia em que perderei minha capacidade de levar uma vida pública”, disse o premiê, falando em hindi. “Não farei isso. Essa é a minha decisão”.
Mas, na semana passada, quando as eleições chegaram à Caxemira, outro foco de tensões, Modi voltou a usar o discurso.
Em 2019, o premiê indiano retirou o status de semi-autonomia de Srinagar, a maior cidade da região, que é dividida com Paquistão e China, e já foi palco de um dos principais conflitos do século XX pela disputa do território.
O governo nacional passou a controlar diretamente a cidade, com o argumento de que a medida traria desenvolvimento econômico e paz para a Caxemira. A região, no entanto, tem maioria muçulmana e um forte sentimento anti-Índia.
Caso consiga se reeleger, como apontam as principais pesquisas eleitorais, Modi irá para seu terceiro mandato consecutivo, completando um feito que apenas um premiê conquistou, o fundador da Índia moderna e um dos líderes da independência do país Jawaharlal Nehru.
Eleições na Índia
Arte/g1
Desafios da maior eleição do mundo
Começa na Índia o maior processo eleitoral do mundo
Para garantir que todos os eleitores consigam votar, cerca de 15 milhões de funcionários eleitorais e equipes de segurança vêm percorrendo, desde abril, desertos e montanhas do país –às vezes de barco, a pé e até mesmo a cavalo — para tentar alcançar cada eleitor.
Os desafios são muitos. As últimas eleições, em 2019, mostraram alguns deles:
Funcionários eleitorais precisaram viajar a uma vila escondida no alto do Himalaia para instalar uma cabine a 4.650 metros de altitude, que se tornou a estação de votação mais alta do mundo.
Uma equipe de oficiais eleitorais teve que percorrer mais de 480 quilômetros durante quatro dias apenas para que um único eleitor em um vilarejo de Arunachal Pradesh, fronteiriço com a China, pudesse votar.
Para as eleições deste ano, Comissão Eleitoral da Índia já se prepara para instalar seções em lugares remotos, incluindo uma dentro de uma reserva natural no sul do estado de Kerala e outra em um contêiner de transporte no estado ocidental de Gujarat.