28 de dezembro de 2024

Mudanças, melhora na economia e incertezas: os 6 primeiros meses de Milei na Argentina

Fantástico foi até a Argentina para ver como a população está reagindo às políticas do excêntrico presidente. O astro Ricardo Darín fala sobre os seis meses de Javier Milei na presidência da Argentina
O presidente da Argentina, Javier Milei, completou seis meses no poder. Ele ganhou fama pelo seu jeito excêntrico. Um economista de pavio curto e eleito com promessas radicais. Ele vem aplicando em seu país uma política de choque para conter a crise. Na política externa, ele também vem batendo com outras nações e se envolvendo em polêmicas. Os primeiros seis meses do governo Milei foram tema de reportagem de Álvaro Pereira Júnior e Pedro Acyr no Fantástico deste domingo (2).
Um dos entrevistados, o superastro de cinema Ricardo Darin fala sobre o fenômeno Milei. O presidente argentino foi capa da revista Time e ficou conhecido por ser o “homem da motosserra cortadora de gastos públicos”.
“Com certeza era necessário tomar medidas, consertar coisas que não estavam bem. Mas acho que ninguém imaginou que algumas dessas medidas seriam tão ásperas, tão duras”, diz Darin ao Fantástico.
Em entrevista ao Fantástico, Darin fala sobre os primeiros meses de Milei no poder.
TV Globo/Reprodução
Para o astro argentino, Milei está cumprindo com suas promessas.
“Uma coisa de que não se pode acusar esse governo é de não estar fazendo o que prometeu. E muita gente votou nele. Então é um governo legítimo. Como democratas, devemos olhar, observar, e criticar o que não está bem”, conta.
Conforme o próprio Milei previu no dia da posse, a Argentina está sofrendo, mas, no papel, a economia melhora e finalmente o governo conseguiu arrecadar mais do que gasta. A inflação está baixando aos poucos, mas ainda se reflete de forma muito expressiva no dia a dia da população.
“Fui no atacadista comprar erva pra chimarrão e açúcar. Semana passada paguei 30 (pesos), esta semana paguei 70. E o valor que eu gastava aqui no açougue, que antes dava para um mês, agora dá pra 15 dias”, diz a aposentada Maria Ramos.
Argentina fala sobre preços dos produtos dianta da inflação.
TV Globo/Reprodução
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Choque na economia
Aumentos brutais nos preços da água, do gás, luz e transporte público são parte importante do choque de Milei na economia. Essas tarifas eram subsidiadas, ou seja, bancadas pelo governo.
Além de cortar esses subsídios, Milei também paralisou as obras federais e interrompeu o repasse de dinheiro para os estados. Um pacotaço inédito na história da Argentina.
Medidas econômicas do governo Milei.
TV Globo/Reprodução
“Milei é uma pessoa de fora da política, é um outsider. É a primeira vez, nestes quarenta anos de democracia, que a Argentina não tem um presidente vindo do sistema político”, diz o cientista político Carlos Gevasoni.
Excêntrico
O Fantástico já mostrou algumas das excentricidades de Javier Milei, como o fato de ele ter recorrido a uma veterinária com supostos poderes mediúnicos para falar com Conan, um Mastim Inglês que morreu em 2007. Veja mais sobre as curiosidades de Milei no vídeo abaixo:
O novo presidente da Argentina afirma que conversa com seu cachorro de estimação, que morreu em 2017
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Economia em frangalhos e apoio popular
Assim que tomou posse, o presidente argentino desvalorizou pela metade o peso em relação ao dólar, justamente em um país em que tudo é calculado com base na moeda americana. Em dezembro, a inflação explodiu e foi para 25%. Como comparação, no Brasil, a inflação anual em 2023 ficou em 4,6%.
“Quando o dólar mais que dobrou de valor, os empresários aumentaram tudo também: subiu o refrigerante, subiu o macarrão, subiu tudo. E os salários ficaram parados”, diz o dono de uma rede de açougues.
Com a crise, a freguesia prefere cortes mais baratos. Apesar da carestia, no entanto, a popularidade de Milei continua alta: cerca de metade dos argentinos tem avaliação positiva do presidente.
Esse seria um bom número em qualquer situação e mais ainda na Argentina, em que a vida do povo é tão afetada.
Professora em Buenos Aires, Paula García Paz é uma das apoiadoras de Milei. “Eu queria uma mudança. Eu acredito que o país ainda vai melhorar. Se for bem administrado, o país muda. O Estado não podia desperdiçar tanto dinheiro”, fala.
A história do caos econômico na Argentina remete ao começo do século 20 e, por conhecer esse histórico, que tantos eleitores vêm aceitando o aperto no início da era Milei.
“Agora, mesmo que nosso dia a dia seja afetado, temos um projeto futuro”, fala Paula.
Apesar do otimismo para o futuro, ela ainda tem que enfrentar a realidade do presente. O Fantástico acompanhou a professora em uma visita a uma padaria e verificou que o pão francês tinha acabado de subir.
Preços nos supermercados são um problema para o povo argentino.
TV Globo/Reprodução
Já no mercado do bairro, ela disse que não notou aumentos em relação às compras da semana anterior. Mas mostrou que uma coisa chamou sua atenção: as embalagens estão bem pequenas.
“As embalagens estão cada vez menores. Para comprar uma marca boa, o dinheiro só dá se for em pouca quantidade, porque não adianta comprar uma embalagem grande de uma marca ruim, que não rende nada”, diz.
Ela diz que mantém o apoio a Milei, mas que não é um apoio total. “Eu votei nele, mas não idolatro Milei. Temos de ser críticos com os governos. Não é porque votei em alguém que vou apoiá-lo em tudo”, completa.
Lei de bases
Lei de Bases de Milei quer fazer uma ampla reforma na Argentina.
TV Globo/Reprodução
Milei diz que para resolver de vez a crise econômica, precisa aprovar um pacotão, chamado Lei de Bases, que está em longa negociação no Congresso. Ele conseguiu aprovar uma versão na Câmara, com mudanças em relação ao texto original. Agora, a proposta foi ao Senado, onde lentamente vai avançando.
“O partido de Milei tem poucos deputados e senadores. É como no Brasil: nenhum presidente brasileiro tem maioria do próprio partido. Precisa de alianças. E, no caso de Milei, existem partidos aliados que não são tão próximos dele, e acabam pedindo mudanças nas leis que o presidente propõe”, diz o cientista político.
A Lei de Bases é um grande pacote que inclui, entre outros pontos, uma ampla reforma trabalhista, reforma das aposentadorias, mudanças dos impostos e privatizações de empresas públicas.
A sensação é de desânimo entre o povo argentino. Sobre este sentimento, Ricardo Darin explica que é em decorrência das crises uma seguida da outra.
“Nós da Argentina, do Brasil, da América Latina como um todo, vivemos de crise em crise. É o nosso exercício, e isso é triste. Mas vamos superar esse momento, e encontrar nosso próprio destino”, diz Darin.
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