9 de janeiro de 2025

Donos de apartamentos em 431 prédios-caixão com alto risco de desabamento no Grande Recife serão indenizados; valor total chega a R$ 1,7 bilhão

Cada proprietário poderá receber até R$ 120 mil. Governo de PE será responsável por demolir edifícios e dar assistência às famílias que ocupam imóveis de forma irregular. Prédio do tipo caixão interditado por risco de desabar no bairro de Jardim Atlântico, em Olinda, no Grande Recife
Reprodução/TV Globo
A Caixa Econômica Federal vai indenizar os donos de apartamentos em prédios-caixão interditados e com alto risco de desabamento na Região Metropolitana do Recife (RMR). A medida vai permitir a realização de acordos com proprietários de apartamentos em 431 prédios-caixão com risco elevado de cair, totalizando R$ 1,7 bilhão.
Na primeira fase, em 2024, a proposta vai beneficiar proprietários de apartamentos em 133 prédios-caixão. Para 2025, estão previstas indenizações para mutuários de outros 298 edifícios do mesmo modelo construtivo e na mesma situação.
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A decisão vai ser publicada no Diário Oficial da União de quarta-feira (5) e inclui a desocupação dos imóveis atualmente habitados por famílias que vivem irregularmente nos edifícios interditados.
De acordo com o Ministério da Fazenda, o Conselho Curador do Fundo de Compensação de Variações Salariais (CCFCVS), antigo Seguro Habitacional, aprovou a Resolução 480, com as regras que a Caixa poderá utilizar para realizar acordos, que devem beneficiar mais de 13 mil famílias em Pernambuco.
Os acordos podem ser de até R$ 120 mil por apartamento, o equivalente a 75% do valor máximo da unidade habitacional no Programa “Minha Casa, Minha Vida”, do governo federal, no Grande Recife, mais 5% de honorários advocatícios.
Ainda segundo o Ministério da Fazenda, “o valor anterior da indenização era de R$ 34.390 e inviabilizava a desocupação dos prédios”.
As negociações envolveram o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), o Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5), o governo de Pernambuco e o Senado Federal.
“Muitas dessas famílias já davam como perdidas as suas esperanças em obterem uma justa compensação pelo que passaram. Isso vai colocar no estado de Pernambuco uma quantia (de recursos) importante, que vai inclusive movimentar a economia e, o mais importante de tudo, é que será possível fazer justiça àqueles que de boa fé adquiriram a sua casa e ao longo desse período não puderam desfrutar desses apartamentos”, considerou o senador Humberto Costa (PT), que preside a Comissão de Assuntos Sociais do Senado e foi responsável por intermediar o acordo.
A governadora Raquel Lyra (PSDB) comemorou o encaminhamento da solução para o problema que se arrasta desde o final dos anos 1990 e anunciou que o governo do estado vai assumir a desocupação de 340 prédios e dos terrenos, que constam como interditados, mas na realidade abrigam famílias de baixa renda que ocuparam os imóveis irregularmente, por não terem alternativas de moradia.
“Cerca de 30 mil famílias serão beneficiadas. Essa decisão veio após diversas reuniões. O governo do estado vai auxiliar essas famílias que moram nesses prédios interditados e que acabaram sendo ocupados por movimentos de luta pela moradia. Eles receberão o auxílio moradia e nós ficaremos responsáveis pela entrega de casas novas, através do programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, que serão construídas pelo governo de Pernambuco, para essas famílias que são diretamente atingidas e que correm risco de morte por ocuparem prédios que com alto de desabamento”, explicou a governadora.
Raquel Lyra considerou a solução encontrada por meio do acordo como histórica para Pernambuco. “Resolve o problema dos mutuários, que esperavam há anos uma solução que permitisse a compra de uma nova casa; ao mesmo tempo que dá uma solução de moradia para centenas de famílias que estão vivendo em situação irregular e que poderão agora viver num novo lar”, disse Raquel Lyra.
Ainda segundo a governadora de Pernambuco, na próxima terça-feira (11), haverá a homologação do acordo numa reunião em Brasília, com a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, representantes do poder Judiciário, do governo de Pernambuco, do senador Humberto Costa e de representantes de todas as partes que participaram da negociação para que a solução fosse viabilizada.
Problema de décadas
Os prédios do tipo caixão são edifícios que, em vez do concreto armado, utilizam “alvenaria resistente na função estrutural”, ou seja, em que as próprias paredes sustentam a estrutura, sem o uso de vigas ou pilares.
Segundo o engenheiro Carlos Wellington Pires, gerente do Laboratório de Tecnologia Habitacional do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep) e professor da Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco (UPE), o termo “caixão” é uma referência ao formato de caixa desse tipo de construção.
Entenda o histórico desse tipo de construção em Pernambuco
O estilo de construção foi popularizado no Grande Recife a partir da década de 1970, por conta do baixo custo para a construção e da agilidade da obra;
Os primeiros desabamentos foram registrados nos anos 1990, quando pelo menos 17 prédios-caixão desabaram na Região Metropolitana do Recife..
Mapeamento feito pelo Itep identificou 5,3 mil prédios desse tipo nos municípios de Olinda, Paulista, Jaboatão dos Guararapes e Recife.
Desses, cerca de mil foram classificados com risco “alto” de desabar; e 260, com risco “muito alto”;
Em agosto de 2023, levantamento feito pelo g1 identificou que após a demolição ou ruína de vários edifícios ao longo dos anos, ainda existiam 148 prédios-caixão com risco muito alto de ruir no Grande Recife.
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