Em Cachoeirinha, floresta de 200 hectares reteve 35% da água que alagou o município durantes as cheias, segundo estimativa com base em dados do Mapbiomas. Áreas verdes ajudam na contenção de alagamentos, dizem especialistas
Uma das formas de evitar inundações em uma cidade é a preservação de florestas urbanas. É o caso de Cachoeirinha, município localizado na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde existe a Floresta Mato do Júlio, com mais de 200 hectares de mata e floresta preservadas.
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“Essa é uma floresta de banhado e de retenção hídrica. Ela funciona literalmente como uma esponja, que, quando encosta na água, segura a quantidade de água”, explica Leonardo da Costa, ambientalista integrante de um coletivo de voluntários que promove ações de preservação no local.
Com a recente cheia que assolou o Rio Grande do Sul, Costa estima que 35% da água que inundou Cachoeirinha ficou contida na área da floresta. De acordo com ele, cerca de 7 a 8 mil pessoas a mais teriam sido afetadas pelas inundações se a floresta não existisse. Para obter esses dados, o ambientalista cruzou informações do MapBiomas com dados da Defesa Civil.
“Quando a gente está falando em preservar uma floresta dentro do município de Cachoeirinha, a gente está falando em casas não alagarem”, enfatiza.
Mato do Júlio, floresta urbana em Cachoeirinha
Reprodução/Redes sociais
A ambientalista Lara Lutzenberger, bióloga e conselheira da Fundação Gaia, explica que as florestas urbanas podem ser reimplantadas.
“Pode-se fazer um trabalho restaurativo muito além das que restam, porque essas já estão muito mais reduzidas”.
Além das florestas urbanas, toda a vegetação e paisagem natural auxilia a regular o clima e o fluxo das águas.
“Tão fundamental quanto as florestas são os banhados, os rios, a mata ciliar, a mata ripária desses rios, tudo isso junto precisa, urgentemente, ser mais preservado e restaurado do que já foi destruído, porque é isso que agrega tudo o que se chama de serviços ecossistêmicos para regular a qualidade da vida”, comenta Lara.
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700 pessoas fora de casa em Cachoeirinha
Apesar de a floresta ter retido parte da água, Cachoeirinha foi inundada. A cidade está situada na várzea do Rio Gravataí, um rio de planícies alagáveis.
Casas ficaram submersas e cerca de 700 pessoas seguem fora de casa nesta terça-feira (5), Dia Mundial do Meio Ambiente. Ao todo, 25 mil pessoas foram impactadas no município e 2,5 mil chegaram a ir para abrigos. Segundo a prefeitura, aproximadamente 100 ruas e mais de 6 mil residências foram inundadas.
Cachoeirinha registra um óbito em decorrência da enchente, segundo boletim da Defesa Civil no Estado divulgado às 9h desta terça.
Cachoeirinha foi inundada pela enchente
Coletivo Mato do Júlio
Para Leonardo, “todo o sistema de políticas públicas não era o suficiente” para que a cidade não fosse inundada.
A prefeitura de Cachoeirinha afirma, em nota enviada ao g1, que “a estrutura do dique foi eficaz durante as inundações, sem apresentar rompimentos ou transbordamentos. Com o nível do rio agora estabilizado, a prefeitura está conduzindo um estudo para monitorar a estrutura do dique e avaliar a necessidade de reparos, consertos ou ampliação da contenção”.
Como resposta imediata a enchente, a prefeitura diz que “reparou os quadros de comando das Casas de Bombas” e que “está projetando uma nova Casa de Bombas na Rua Dr. Nilo Peçanha e estudando a viabilidade de construir mais uma no bairro Parque da Matriz”.
O que ainda é possível fazer?
Leonardo da Costa alerta que não há mais tempo para retroceder. Os desastres naturais, como a recente enchente, devem se tornar mais frequentes e intensos se medidas urgentes não forem tomadas.
“O que a gente precisa agora? Desmatamento zero, retomar as matas ciliares, cuidar e ter um olhar de carinho com todas as matas de preservação urbana porque são as últimas que restam, e a gente precisa construir e fazer estruturas urbanas que contenham as cheias”, explica Costa.
Para a proteção da sociedade, a conservação ambiental é vital, conforme afirma Lara:
“Toda a natureza precisa ser novamente reverenciada, preservada e restaurada onde ela já foi muito comprometida”.
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