Conhecida como mais solitária do mundo, animal se tornou símbolo da boyband em razão de seu chamado em baixa frequência sonora que pode soar “estranho” para outras baleias. Teorias indicam que a baleia 52 hertz pode ter uma anomalia congênita no aparelho que emite sons ou ser uma espécie híbrida
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Você já ouviu falar na baleia mais solitária do mundo? Para os fãs do grupo musical sul-coreano BTS, esse animal é familiar, já que as baleias que cantam a uma frequência de 52 HZ ganharam uma música dedicada a elas, intitulada Whalien 52.
Segundo teorias científicas, as “baleias 52 Hertz” são provavelmente indivíduos com alguma anomalia congênita no aparelho que emite sons ou híbridos – ou seja, fruto do cruzamento de duas espécies diferentes que geneticamente geraram um animal com tal capacidade.
“A questão é que uma emissão nesta frequência não é comum vinda de um baleia e, portanto, as demais podem simplesmente achar ‘estranho’ e não responder”, explica a bióloga e mestre em Ecologia e Bioacústica Daniela Pivari.
Com 285 músicas gravadas, o grupo musical compõe letras que abordam uma variedade de temas, como juventude, saúde mental e a busca por identidade. Veja um trecho da música Whalien 52:
Imagem ilustrativa da baleia 52 hertz e trecho do clipe We Are Bulletproof: the Eternal, do BTS.
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“No meio deste vasto oceano,
Uma baleia fala em voz baixa, calma e solitária
Que nunca pode chegar a outra pessoa, não importa o quão forte grite,
Sente-se tão sozinho que fecha a boca”
Mais que uma metáfora, a baleia 52 Hertz se tornou símbolo da boyband sul-coreana, aparecendo também no clipe de We Are Bulletproof: the Eternal. A animação, que retrata os sete membros da banda e sua jornada, também transmite uma mensagem reconfortante para os fãs, lembrando-os de que não estão sozinhos.
Baleia 52 hertz do videoclipe e membros do grupo sul-coreano BTS.
Reprodução internet
Estudos sobre o animal
Segundo Daniela, ainda existem poucos estudos sobre a emissão e recepção sonora de misticetos (grandes baleias de barbatana), em comparação com outras espécies.
“Há informações generalizadas de que baleias costumam emitir sons entre 15 kHz (máxima frequência) e 40 Hz (mínima frequência). Cada espécie de baleia tem faixas de frequência próprias e cada população também, com pequenas variações nas faixas de frequência de acordo com a localização geográfica das populações”, explica Daniela.
Estudos sobre a audiometria das espécies de baleia indicam que elas devam escutar entre 40 Hz e 80 kHz, portanto, os 52 Hz até estariam na faixa de frequência audível, principalmente para baleia azul, fin e jubarte.
Até hoje nenhum estudo científico comprovou qual espécie se trata a baleia 52 hertz.
Brigitte (Pixabay)
Até o momento, nenhum estudo científico especificou a taxonomia dos indivíduos “52 Hertz”. Se esses animais realmente forem híbridos, explicação que tem baixa probabilidade, existem pouquíssimos exemplares deles na natureza.
“Eu particularmente acredito que sons produzidos pelo homem podem interferir nessas emissões sonoras. Áreas com maior trânsito de embarcações, por exemplo, podem estar forçando os indivíduos a alterarem suas frequências de emissões sonoras para que eles sejam ouvidos pelos seus pares. Isso se chama efeito Lombard”, completa a bióloga.
Observações da baleia 52 Hertz
Em 1989, durante a Guerra Fria, o sistema de monitoramento sonoro da marinha norte-americana detectou, no norte do Oceano Pacífico, um som semelhante aos chamados emitidos pelas grandes baleias de barbatanas das espécies azul (Balaenoptera musculus) e fin (Balaenoptera physalus), na faixa de frequência entre 50 e 52 Hz.
O fato chamou a atenção de pesquisadores, já que as grandes baleias costumam emitir sons em faixas de frequência diferentes, na casa dos 20 ou 30 Hz. A partir daí, cientistas do Instituto de Oceanografia Woods Hole passaram a monitorar os “chamados de 52 Hz”, atribuídos a uma baleia que foi denominada “52”.
Mais tarde, em 2021, um documentário chamado The Loneliest Whale: The search for 52 foi feito na região da Califórnia a fim de localizar a baleia 52. Na ocasião, foi identificada uma baleia híbrida perto de uma agregação de baleias-azuis.
Os dados genéticos deste animal bateram com a genética de outro híbrido igualmente avistado na costa californiana anos antes por outro grupo de pesquisa.
Especialistas em acústica então levantaram os dados de um hidrofone fundeado em uma região próxima do local em que o híbrido havia sido avistado e marcado no passado. Nenhuma vocalização foi encontrada para a data e horário pesquisada.
No entanto, rastreando outros hidrofones, eles detectaram, em um intervalo de 10 minutos e em dois pontos diferentes, os mesmos chamados de 52 Hz, o que levou a conclusão que pode haver mais de um indivíduo 52.
Baleia solitária?
Daniela explica que as baleias comuns emitem sons de baixa frequência, que são infrasons de ondas longas. Sendo assim, essa vocalização viaja longas distâncias embaixo d’água e pode ser percebida por outras baleias a quilômetros de distância.
“Isso garante o contato acústico destes animais por exemplo, durante longas migrações e principalmente para a reprodução”, pontua.
De acordo com ela, a comoção em relação à baleia 52 hertz pode se relacionar com a tendência das pessoas a humanizar determinadas situações na natureza.
“Não se tem comprovação de que os animais têm esse sentimento de solidão. Mas acredito que se realmente esse som vier de uma baleia solitária, ela conseguiu se adaptar a essa situação, uma vez que foi detectada pela primeira vez em 1989 e novamente em 2021”, finaliza.