11 de janeiro de 2025

Brasil tenta afastar o risco de volta da poliomielite em dia de vacinação nacional

A meta é imunizar, no mínimo, 95% das crianças menores de 5 anos contra a pólio. O índice está em 85% e muitos postos de saúde seguem vazios. Brasil não atinge meta de imunização contra poliomielite desde 2016
O Ministério da Saúde programou para este sábado (7) um dia dedicado à imunização contra a pólio. O Brasil conseguiu eliminar essa doença dos registros há muitos anos, mas corre o risco de voltar a ter casos porque muitas pessoas não estão levando as crianças para receber a vacina.
Só falta uma semana para o fim da campanha. A meta é imunizar, no mínimo, 95% das crianças menores de 5 anos contra a pólio. O índice está em 85% e muitos postos de saúde seguem vazios. A comerciante Romilda Alves não quer que a filha corra risco. Nesta sexta-feira (7), ela tomou a dose de reforço.
“A gente tem que vacinar para prevenir. Já estava até um pouquinho atrasada”, conta Romilda.
A poliomielite ou paralisia infantil é uma doença causada por um vírus que pode infectar crianças e adultos. Em casos graves, atinge o sistema nervoso central e provoca paralisia, principalmente nas pernas. A vacinação é a única forma de evitar a doença.
Desde 2016, o índice de imunização contra a pólio está abaixo da meta do Ministério da Saúde. A historiadora da UFMG que coordena estudos de história da saúde e da doença, Rita de Cássia Marques traçou uma linha do tempo com os esforços para combater a pólio no Brasil:
os primeiros registros no país são de 1911;
na década de 1960, uma epidemia atingiu as cidades de São Paulo e Rio;
a vacina contra a pólio começou a ser aplicada em 1961;
entre 1968 e 1989, foram registrados 26 mil casos da doença;
com a ampla aplicação da vacina e a popular imagem do Zé Gotinha, a partir de 1989, o Brasil não registrou mais paralisia infantil;
neste período, a vacinação atingiu 95%;
em 1994, o país recebeu o certificado de erradicação da poliomielite;
em 2007, a adesão à vacina chegou a 105,43%;
desde 2016, os índices começaram a cair – ficando na média de 80% do público alvo;
na pandemia, com menos gente frequentando os postos de saúde, foi ainda pior. Em 2021, a cobertura ficou em 71%.
Segundo a historiadora, vários fatores contribuem para isso: da quantidade de desinformação circulando nas redes sociais até a falsa sensação de segurança.
“Algumas doenças, até pelo processo de vacinação, elas não são mais frequentes. Então, as pessoas não veem mais os doentes e acham que, como não tem mais, não é necessário mais a vacinação. O que a gente verifica hoje é que existe uma facilidade de se propagar versões sobre as questões independentemente de quem está falando. Hoje em dia, a possibilidade de ampliação das versões nas redes sociais dificulta”, afirma a historiadora Rita de Cássia Marques.
Neste sábado (8), postos vão estar abertos em um dia especial de vacinação contra a paralisia infantil e outras doenças. Diante da adesão à vacina abaixo da meta, especialistas alertam: há chance real da volta do vírus da poliomielite.
O médico psiquiatra Renato Diniz Silveira teve poliomielite aos 4 meses. Ele passou por 27 cirurgias. Só andou aos 9 anos e teve sequelas.
“É um alento ter a vacina, e é muito triste que a gente pense que talvez alguma criança deixe de ser vacinada e deixe de ter a oportunidade de ter a proteção que ela merece para que essas coisas que aconteceram comigo e com outras crianças no passado não aconteçam mais”, diz.

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