15 de janeiro de 2025

Propriedades rurais são atingidas por pragas e animais morrem por falta de pasto

De acordo com dados da ADERR, mais de 2,1 mil lotes já foram afetados por lagartas e percevejos em pelo menos 5 municípios de Roraima; deputados estaduais cobram do governo federal apoio aos agricultores e pecuaristas Cenário para quem contempla os pastos da região é impactante e desolador
Eduardo Andrade/SupCom-ALE-RR
Depois da forte seca que atingiu Roraima no primeiro trimestre de 2024, a agricultura e a pecuária sofrem com uma nova realidade: o ataque de lagartas e percevejos às propriedades rurais de pelo menos cinco municípios do Estado. De acordo com dados da Agência de Defesa Agropecuária (ADERR), mais de 2,1 mil propriedades foram atingidas pela praga, causando a morte de animais.
As lagartas e os percevejos atacam os brotos que se tornaram alimento para os gados. Com isso, o capim não nasce e os agricultores se veem obrigados a buscar pastos em outras regiões do Estado. Essa movimentação por busca de campos para alimentar os animais aumentou em 127% entre março e maio deste ano. A preocupação é ainda maior com a previsão de fortes chuvas até julho, segundo a Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh).
O pecuarista Mário Vieira, de 63 anos, que fugiu da seca do Ceará em 1989 para Roraima, agora presencia a morte de seus animais em sua propriedade na vicinal 3 em Samaúma, após o pasto ser coberto por lagartas.
O pecuarista Mário Vieira, de 63 anos, que mora na vicinal 3 em Samaúma, se emocionou ao contar o drama vivido por ele e demais pecuaristas da região
Eduardo Andrade/SupCom-ALE-RR
“Perdi quatro vacas e seis bezerros. Já viu uma vaca morrendo? Elas ficam três ou quatro dias deitadas no chão, e eu não tenho coragem de matá-las. Quando você chega perto delas, estão com lágrimas nos olhos”, desabafou o produtor, que não tem dinheiro para transportar o restante do rebanho para outra região, porque cada cabeça de gado custa R$ 40 para ser transportada.
Nas estradas de barro irregulares que levam à propriedade do pecuarista Pedro dos Santos, de 72 anos, que trabalha com gado desde os 7 anos e é produtor na vicinal 4 há 22 anos, a situação se repete.
O pecuarista Pedro dos Santos, de 72 anos, que é produtor na vicinal 4 em Samaúma há 22 anos, clamou por ajuda do poder público ao lembrar que ‘auxiliar o homem do campo é garantir o alimento na mesa de todos’
Eduardo Andrade/SupCom-ALE-RR
“Enfrentamos uma estiagem muito forte e fazíamos o que podíamos. Após o fogo passar, veio a chuva, e quando o capim começou a se recuperar, surgiu a praga. O resultado disso é esse: não tenho mais dinheiro para manter as cabeças de gado. Já morreram muitos animais; até agora, contei 48. Todos os produtores do norte de Sumaúma estão nessa situação, não é só aqui”, contou o produtor enquanto segurava as lágrimas.
Além da perda da produção, os agricultores enfrentam outro problema: a impossibilidade de honrar os compromissos bancários. O preço do gado despencou de R$ 12 para irrisórios R$ 4, com pagamento adiado por seis meses. Santos reforçou que a crise não se restringe à região, mas é sistêmica, pois o setor agropecuário é base da segurança alimentar. Ou seja, auxiliar o homem do campo é garantir o alimento na mesa de todos.
“Precisamos urgente de máquinas, de suporte financeiro. Eu tenho empréstimo para vencer e não consigo honrar. Precisamos comprar sementes, senão vai faltar comida na nossa mesa. Quem produz a carne, a mandioca, o tomate, a banana, somos nós, e só Deus e os homens do poder podem nos ajudar”, ponderou o pecuarista.
Cenário de preocupação
Esse cenário da agropecuária tem preocupado autoridades locais. Durante sessão ordinária na quarta-feira (5), o vice-presidente da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR), Marcelo Cabral, usou seu tempo de tribuna para anunciar que pretende ir a Brasília cobrar do governo federal medidas urgentes frente à situação que assola principalmente os agricultores familiares.
O vice-presidente da ALE-RR, deputado Marcelo Cabral, pediu apoio do governo federal, deputados e órgãos públicos na busca por uma solução frente às graves dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais do interior de Roraima
Alfredo Maia/ SupCom-ALE-RR
“São famílias inteiras afetadas por essa situação e o governo federal precisa tomar ciência disso e agir com as instituições do Estado. O governo estadual está fazendo a sua parte, fez um pacote para ajudar a plantar, mecanizar e orientar o produtor. Precisamos juntar os Poderes, associações e cooperativas para elaborar uma grande carta à União, que hoje financia 95% dos produtores. O pequeno produtor quer ter oportunidade de pagar sua conta, pois o seu maior bem é a terra e o segundo, o rebanho”, declarou Marcelo Cabral.
Conforme a Aderr, a cidade mais afetada é Mucajaí, onde 850 propriedades foram atingidas. Na sequência estão Alto Alegre (450), Cantá (350), Amajari (300) e Bonfim (160). A Comissão de Agricultura, Pecuária e Política Rural da ALE-RR, presidida pelo deputado Armando Neto, visitou propriedades em Mucajaí para criar um relatório que ajude a desenvolver estratégias de suporte.
Para o parlamentar Armando Neto, que é presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca, Aquicultura e Política Rural do Poder Legislativo, e visitou as regiões de Samaúma e Vila Nova em Mucajaí, a situação é preocupante
Eduardo Andrade/SupCom-ALE-RR
Armando pede apoio urgente dos deputados e dos órgãos públicos na busca por uma solução diante das graves dificuldades enfrentadas pelos produtores. Ele disse que presenciou animais mortos e outros extremamente debilitados devido às consequências da forte estiagem do ano passado, do inverno que já começou e da infestação das lagartas.
“Temos a obrigação de olhar de forma emergencial para dar uma solução para este problema. Fiz algumas imagens que chocam, há animais mortos, pastagens degradadas, o produtor engessado, fragilizado, sem poder fazer nada. Vim ser solidário e pedir que tenhamos uma união de forças para olhar para isso. Graças a Deus, não foi em todo o Estado, mas a região está pagando uma conta cara, e, se não estendermos a mão, eles vão ter dificuldades em voltar a produzir”, expressou.
Sugestões apresentadas
O líder do governo no Legislativo, deputado Coronel Chagas, lembrou que Roraima passou por uma estiagem no segundo semestre do ano passado, que se estendeu até meados de abril de 2024, com altos índices de queimadas. Ele comentou que esteve no município de Alto Alegre, onde observou que muitos produtores perderam tudo.
Parlamentar Coronel Chagas afirmou que governo também trabalha na proposta de refinanciamento das dívidas e financiamento para produtores
Marley Lima/SupCom-ALE-RR
“O Iater [Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural] enviará técnicos às regiões para fazer um laudo que poderá ser utilizado por aqueles que têm empréstimos com problemas na situação bancária. Também vamos abrir uma linha de crédito através da Agência de Fomento para que eles possam comprar sementes, além de outras medidas. O governo está atento aos produtores”, reforçou.
O parlamentar Claudio Cirurgião avaliou que o Estado precisa realizar capacitações técnicas, por meio dos órgãos competentes, junto aos produtores rurais, para que façam o armazenamento de comida para o gado durante o período que antecede o inverno. Segundo ele, uma indicação já foi enviada ao Executivo.
Deputado Claudio Cirurgião afirmou que é necessário instruir produtores
Marley Lima/ SupCom ALE-RR
“É preciso investir em extensão, orientação e parte técnica. Fizemos uma indicação para que o Iater e a Secretaria de Agricultura forneçam cursos de capacitação para método de armazenamento para período crítico como este que estamos vivendo. Vamos buscar parceria com os institutos, com a Universidade Federal de Roraima, para capacitar nossos produtores”, sugeriu.
A deputada Aurelina Medeiros também visitou a região de Campos Novos, em Iracema, e disse ter se assustado ao ver uma enorme quantidade de gado solto na estrada, em busca de comida. Para ela, a solução é reunir tratores para dar suporte aos agricultores da região e fornecer sementes por meio de órgãos do governo.
A parlamentar Aurelina Medeiros ressaltou a importância de dialogar com Executivo e bancada federal
Marley Lima/SupCom-ALE-RR
“Tem lugar que tem área verde e, do outro lado, queimada. Tivemos a seca, depois vieram as chuvas, a lagarta veio e comeu os brotos, o capim morreu. É uma situação extremamente difícil. Então a solução que pensamos foi: tem que arar a terra e verificar com a agência de fomento para fazer um levantamento de quem quer semente. Tem trator? Não tem. Os pequenos não têm como pagar o trator. Já perderam tudo. Vamos conversar com o governador Antonio Denarium, insistir e pedir apoio dos colegas”, enfatizou.
O deputado Gabriel Picanço afirmou que o momento é de solidariedade com o homem do campo. Ele contou que viu uma família com um gado magro na estrada, e uma vaca que caiu no barranco e não conseguiu se levantar de tão fraca.
Deputado Gabriel Picanço, que visitou recentemente localidade de Campos Novos, também se solidarizou e cobrou investimentos para socorrer população afetada
Marley Lima/SupCom-ALE-RR
“Conheço produtores que estão perdendo todo seu gado. Vamos conversar com o governador, porque a LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] vai entrar em votação e podemos alocar recursos para banco de fomento para dar suporte durante fenômenos no campo, com o objetivo de repor esse gado e não desestimular o produtor. Quero me juntar para termos essa conversa com o Executivo e aportar recursos para, num desastre como esse, o produtor ser socorrido imediatamente”, concluiu.
Rebanho bovino sofre com os efeitos climáticos
Eduardo Andrade/SupCom-ALE-RR

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