Para Vivek Murthy, a responsabilidade é coletiva e não pode recair apenas sobre os pais, e os alertas nas plataformas são uma parte importante do esforço para resolver o problema. Principal autoridade em saúde pública dos EUA pede rótulo de alerta em redes sociais
A maior autoridade da saúde pública dos Estados Unidos quer que as redes sociais alertem para os danos mentais que podem causar a crianças e adolescentes.
Computador, celular e internet. A Nelda sabe a importância das novas tecnologias para a filha, adolescente. Mas se preocupa com o acesso irrestrito às redes sociais.
“É por causa da saúde mental. Redes sociais podem ser viciantes e não quero que ela fique só nisso”, diz.
E se as plataformas fossem obrigadas a alertar sobre os riscos à saúde nos próprios aplicativos? É a proposta de uma das principais autoridades de saúde do governo americano, o cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek Murthy. Indicado pelo presidente e confirmado pelo Senado, ele é a principal voz do governo em questões de saúde pública.
Uma bandeira que ele vem defendendo nos últimos anos e que reforçou nesta segunda-feira (17) em um artigo para o jornal “The New York Times”. Nele, Vivek pede que o Congresso aprove um rótulo para avisar sobre os riscos do uso indiscriminado das redes – um aviso semelhante ao que existe nas caixas de cigarro.
Nesta segunda-feira (17), também, em entrevista à rede de televisão americana NBC, Vivek manteve a mesma linha do artigo e lembrou que, quando o Congresso americano criou os rótulos de alerta para os cigarros, há 50 anos, a taxa de fumantes nos Estados Unidos era superior a 40% da população e, hoje, está abaixo de 12%.
Ele também argumentou que já é possível avaliar os impactos negativos dessa tecnologia e que mais 3 horas por dia nas redes sociais dobram o risco de ter depressão. Segundo um estudo da Associação Médica dos Estados Unidos, de 2019, os adolescentes americanos passam quase 5 horas por dia em aplicativos.
“Isso faz com que se sintam piores em relação às suas vidas porque estão constantemente se comparando aos outros”, afirma Vivek Murthy.
O médico argumentou que as empresas não demostraram que as redes sociais são seguras para crianças e adolescentes, e que as autoridades precisam agir. Para ele, a responsabilidade é coletiva, não pode recair apenas sobre os pais, e que os alertas nas plataformas são parte importante do esforço para resolver o problema.
Em janeiro de 2024, o Senado americano interrogou representantes das maiores empresas de redes sociais dos Estados Unidos sobre os efeitos das plataformas nas crianças. Mark Zuckerberg, dono do Facebook, pediu desculpa às famílias de jovens vítimas de problemas causados pelas redes.
Vivek Murthy aconselha adiar o uso de redes sociais por crianças até, pelo menos, o fim do ensino fundamental.
A família do Jonathan já busca limitar esse uso. O irmão dele, Gabriel, de 7 anos, tem acesso limitado às redes sociais.
“Eu acho que isso é a minha maior preocupação hoje, fazer com que esse mundo que é criado em redes sociais, em situações eletrônicas e muitas vezes fantasiosas, não reflita na criança no dia a dia para ela entender que a realidade é um mundo que você tem que construir todos os dias”, diz o contador Jonathan Patrik.