A Central de Abastecimento abastece 54% das frutas, verduras e legumes consumidos na capital gaúcha. São gerados lá 10 mil empregos diretos e 80 mil indiretos. Ceasa reabre após 40 dias fechada devido à enchente em Porto Alegre
Na capital gaúcha, desde que as águas do Guaíba voltaram para o leito, a população foi recuperando o território e os serviços que tinham sido interrompidos. A rodoviária voltou a funcionar, o Mercado Público reabriu as portas e, hoje, Porto Alegre reconquistou mais um símbolo de resistência: a Central de Abastecimento voltou para a sede, depois de mais de um mês improvisada em outro município.
O vai e vem de carrinhos e o caminhar apressado dos trabalhadores para levar as encomendas até os clientes. Na fila de entregas, donos de mercados, de restaurantes, gerentes de lanchonetes. Não há tempo a perder. A retomada das atividades na Ceasa de Porto Alegre também é marcada por histórias de quem reúne forças para se reerguer.
“Veio doação até de Santa Catarina para nós. Eu não tinha nem o tênis para botar. Eu ganhei doado de Santa Catarina, diz a comerciante Roseli Soares.
Nesta segunda-feira (17), na Ceasa, a Roseli fez as compras para o mercado que tem em Gravataí, Região Metropolitana.
“Vamos começar tudo de novo, mas todo mundo unido”, diz Roseli.
Parte do que ela precisava, conseguiu comprar da agricultora Fernanda Beatriz Pereira, que cultiva bergamota em São Sebastião do Caí, a 71 km de Porto Alegre.
Nesse primeiro dia de retomada, além do movimento intenso, da solenidade de abertura, também foi possível voltar a sentir o cheiro e os sabores da agricultura gaúcha. A Ceasa de Porto Alegre é responsável pelo abastecimento de 54% das frutas, verduras e legumes que são consumidos na capital. Gera 10 mil empregos diretos e outros 80 mil indiretos. O custo para recuperar tudo foi estimado em R$ 64 milhões.
“E quando a gente consegue recuperar o complexo e voltar no dia de hoje é, com toda a dificuldade, ainda é um dia de muita festa e comemoração para todos os comerciantes aqui. E, sim, todos pretendem voltar e retomar os seus trabalhos e manter os seus empregos e o abastecimento da população”, diz Carlos Siegle de Souza, presidente da Ceasa/RS.
A Ceasa precisou ser fechada em 3 de maio, uma sexta-feira, quando a água começou a alagar os prédios. Seguiram-se, a partir daí, dias em que o espaço de 40 hectares quase desapareceu em meio a inundação do Rio Guaíba.
O maior centro de comercialização de hortis do estado funcionou provisoriamente em um endereço em Gravataí até esta segunda-feira (17), quando retornou à Zona Norte de Porto Alegre.
Miguel Selva, funcionário mais antigo da Ceasa, estava eufórico e emocionado na solenidade de reabertura. Com 38 anos de trabalho, ele conseguiu dar estudos para os filhos e garantir um futuro melhor para a família.
“Vem muita força aqui na Ceasa, não ficou nada, gente, nada. Tanto da Ceasa, que é do estado, quanto os produtores. Eles perderam tudo. É um povo forte, vão se reerguer, e a Ceasa vai se reerguer junto”, afirma o funcionário da Ceasa.