18 de janeiro de 2025

Em tempo de emergência climática, restrições de orçamento afetam o Instituto Nacional de Meteorologia

A informação que deixa de ser produzida ou que é produzida precariamente nas estações meteorológicas traz prejuízos agora e a longo prazo. Um alerta de temporal, por exemplo, pode preservar vidas e evitar tragédias. Instituto Nacional de Meteorologia enfrenta restrição de orçamento
Em um momento em que eventos climáticos extremos têm se repetido com frequência crescente, o Instituto Nacional de Meteorologia está enfrentando problemas com as restrições de orçamento.
O último telefone fixo em escritórios do Instituto Nacional de Meteorologia deixou de funcionar nesta segunda-feira (17). Era o de Belo Horizonte. Agora, só a sede do Inmet, em Brasília, recebe as ligações.
Segundo a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público, os contratos de 40 dos 208 funcionários terceirizados do Inmet venceram no sábado (15) e eles já não trabalharam nesta segunda-feira. Ainda de acordo com a entidade, eles representavam 60% dos meteorologistas e 100% dos analistas.
“Hoje, a situação do Instituto Nacional de Meteorologia é lamentável. A sede em Brasília já está desestruturada, mas o grave, ainda, é a desestruturação que existe nos distritos meteorológicos espalhados pelo país inteiro. Falta papel, falta computador”, afirma Ismael José César, diretor da Condsef.
O Jornal Nacional teve acesso a um e-mail enviado no domingo (16) pela coordenação do Inmet aos servidores explicando como o instituto funcionaria nesta segunda (17) com a redução de pessoal:
não haverá colaborador no Centro de Análise e Previsão do Tempo no período da tarde;
suspensão de atendimento a usuários gerais, que deverão consultar o portal do instituto;
o levantamento mensal dos eventos extremos está suspenso;
o documento destaca que todas as atividades serão mantidas, mas que elas dependem de funcionamento pleno de internet, modelos numéricos e dados das estações meteorológicas;
e que quatro capitais não têm previsores, o funcionário que faz a previsão do tempo. É o caso do Rio de Janeiro, Salvador, Manaus e Cuiabá.
O Inmet já vinha passando por reduções no orçamento. Foram R$ 29,1 milhões em 2020, R$ 16,1 milhões em 2023 e, para 2024, no primeiro semestre, R$ 11,5 milhões. Das 566 estações automáticas do órgão espalhadas pelo Brasil, 15% não funcionam. É o caso de estruturas em Vitória e Fortaleza.
A informação que deixa de ser produzida ou que é produzida precariamente nas estações meteorológicas traz prejuízos agora e a longo prazo. Um alerta de temporal, por exemplo, pode preservar vidas e evitar tragédias. Para a ciência, esses dados incompletos dificultam a compreensão dos efeitos das mudanças climáticas.
“O cenário que a gente tem é um cenário de incerteza. O mundo está passando por um período de mudança climática. Se a gente consegue gerar informação de boa qualidade, a gente vai poder construir protocolos, a gente vai conseguir construir uma boa política pública para lidar com as adversidades que podem vir a ocorrer em função de extremos climáticos”, diz Alecir Antonio Maciel Moreira, professor de geografia da PUC.
O Ministério da Agricultura não comentou a saída dos terceirizados, mas afirmou que a continuidade e eficácia dos serviços do instituto são prioridade da pasta. Já o Inmet disse que realiza com periodicamente a manutenção das estações.

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