18 de janeiro de 2025

Crianças com autismo aguardam cerca de 300 dias para receber tratamentos multidisciplinares em SE

MP instaurou um procedimento administrativo para acesso aos tratamentos no prazo máximo de até 90 dias. Mães atípicas falam sobre falta de atendimento multidisciplinar
Cerca de 1,3 mil pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) esperam mais de 300 dias em Sergipe para receber os tratamentos multidisciplinares adequados, como os de fonoaudiologia, psicologia, terapia ocupacional e nutrição.
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Por causa da demora, o Ministério Público de Sergipe instaurou um procedimento administrativo e oficiou as secretarias de estado e municipal da Saúde para que crianças com autismo tenham acesso aos tratamentos no prazo máximo de até 90 dias.
O filho de 8 anos de Deise Soares da Silva ainda não conseguiu atendimento pela rede pública. Enquanto aguarda, está sendo recebendo os tratamentos em um centro especializado.
“Hoje meu filho faz 20 horas de terapia ABA [análise comportamental aplicada]. O desenvolvimento que ele teve de um ano e meio pra cá foi enorme. Hoje eu consigo sair com ele, ele consegue se comunicar com outras crianças, até a seletividade alimentar melhorou”, disse.
Mas os problemas também são enfrentados por quem tem plano de saúde privado, como é o caso da filha de 7 anos de Patrícia Euzébio, fundadora do grupo Família TEA, que ajuda cuidadores e pessoas com o transtorno.
“Eu esperei por dois anos na rede privada e tive que judicializar. Saiu agora a decisão final para que ela tenha atendimento, mas ainda assim a gente ainda enfrenta dificuldades. É muito difícil encontrar profissionais habilitados em Aracaju, às vezes o profissional atende por meses e não recebe por isso. E aí tem que procurar outros profissionais, a criança perde vínculo com o anterior. É bem complicado”, explicou.
Com as interrupções nos tratamentos, os avanços no desenvolvimento são prejudicados. “Acaba regredindo. E só nós sabemos aquilo que a gente vem conquistando, e devido ao mal serviço da rede privada e pública, quem sofre somos nós junto com os nossos filhos. A gente clama por socorro”, lamentou Deise Soares.
Outro problema apontado pelas mães atípicas é a escassez ainda maior de profissionais que atendam adolescentes e adultos. “Os profissionais também só querem atender crianças e esquecem que existem autistas adultos e adolescentes. A gente pede que a sociedade se engaje”, pediu a organizadora do grupo.
Nesta terça-feira, 18 de junho, data que celebra o dia do Orgulho Autista, o desejo dos familiares é inclusão.
“Meu desejo hoje é que a sociedade se conscientize, respeite o limite e a capacitação dos nossos filhos e que essas informações continuem se expandindo, para que eles sejam bem recebidos na sociedade”
SES e SMS
Procurada, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que continua com credenciamento médico e Processo Seletivo Simplificado abertos para a contratação de terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e médico neuropediatra para atender às demandas, mas há pouca adesão dos profissionais.
“A secretaria já contratou um médico neuropediatra em maio e segue criando alternativas na implementação de estratégias para otimizar a captação de profissionais de reabilitação. Vale ressaltar que a SES está realizando levantamento sobre a quantidade de profissionais disponíveis no estado para, a curto prazo, atender aos pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, a longo prazo, mediante concurso público, já autorizado pelo governador do estado. A SES reforça que segue em diálogo aberto com o Ministério Público para fortalecer ainda mais a Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência em Sergipe”, disse a nota.
Já a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) disse que “tem atuado continuamente para otimizar o tratamento ofertado a esse público” e que, para isso, mantém tratativas com a SES e com outros municípios sergipanos, por causa da carência de centros especializados em reabilitação fora da capital, o que acaba sobrecarregando os serviços da rede municipal de Aracaju.
“A SMS destaca, também, que enfrenta dificuldade de encontrar profissionais especializados nesse tipo de cuidado no mercado de trabalho local, e que segue buscando o alinhamento de ações junto aos outros entes federativos, trabalhando com a possibilidade de os demais municípios do estado arcarem com parte da demanda referente aos seus munícipes”.

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