19 de janeiro de 2025

Stalker de Débora Falabella teve primeiro surto esquizofrênico em 2004: ‘Passou 21 dias internada em Paris’, diz mãe

Acusada foi declarada inimputável e mora com a família no Recife, depois de ter prisão revogada por causa do diagnóstico psiquiátrico. Advogados falam sobre diagnóstico de esquizofrenia de stalker de Débora Falabella
Diagnosticada com esquizofrenia há 20 anos, a mulher que foi presa por perseguir a atriz Débora Falabella foi internada pela primeira vez em 2004, quando, em Paris, na França, teve o primeiro episódio de surto. Antes disso, de acordo com a mãe dela, que preferiu não se identificar, a stalker (perseguidora, em inglês) nunca tinha demonstrado qualquer sinal de distúrbios mentais.
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Nesta terça-feira (18), a mãe conversou com o g1, junto com os advogados Diego Cerqueira e Ivana Carneiro, que compõem a defesa da mulher. A acusada foi declarada inimputável (incapaz de compreender a ilicitude de seus atos) e, atualmente, mora com a família no Recife, depois de ter a prisão revogada justamente por causa do diagnóstico psiquiátrico.
Confira, abaixo, detalhes da história da mulher:
Quem é a mulher?
Como começaram os episódios psicóticos?
Como começou a perseguição?
Por que ela foi à casa de Débora Falabella?
O que vai acontecer com a acusada?
Quem é a mulher?
A mulher, que tem 40 anos, não teve o nome divulgado a pedido da família. Ela é formada em economia, tem mestrado e fala cinco línguas fluentemente. Segundo a família, ela é bastante inteligente, já trabalhou como assessora parlamentar em órgãos como a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e, também, como tradutora juramentada.
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Como começaram os episódios psicóticos?
Atestado de hospital francês onde stalker de Débora Falabella foi internada pela primeira vez
Pedro Alves/g1
Em 2004, a stalker foi a Paris para estudar. Num dia, segundo a mãe, ela imaginou que a mulher com quem ela morava tentou matá-la.
“Ela disse que estava sendo envenenada pela senhora, foi à polícia com uma coca-cola e pediu para que eles analisassem o conteúdo. De lá, ela foi fazer uma prova e, quando voltou, ligaram para um amigo dela para perguntar se ele autorizava que ela fosse internada. Passou 21 dias internada e eu tive que buscá-la”, afirmou.
Ainda segundo a mãe, foi na França que a stalker teve o primeiro diagnóstico de esquizofrenia. A médica que acompanhava o caso, ao assinar a alta hospitalar, exigiu que a mulher fosse acompanhada por um psiquiatra ao voltar para o Brasil.
“Quando cheguei lá, ela estava sentada, lendo um livro, e disse ‘mainha, eu vou ser presidente do Brasil’. Depois, conversou e disse que falou com tanta gente, só faltou ter conversado com os presidentes que já morreram. Fui falar com a médica e ela exigiu que eu desse o nome de um psiquiatra no Brasil para ela enviar os documentos da internação”, declarou.
Foi aí que a mulher começou a ser tratada e a tomar remédios para esquizofrenia. “Até no avião ela viu uma mulher e disse que estava olhando para ela. Eu disse que não, que era coisa da cabeça dela”, falou.
A stalker, desde 2018, é aposentada por invalidez por causa da doença mental. Isso porque, desde 2013, ela teve auxílio-doença concedido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Na época, ela passou por uma perícia médica, que atestou que ela era incapaz de trabalhar.
“No dia da perícia, pediram para levar um documento de identificação com foto. Ela levou a carteira de habilitação e a médica olhou para mim e disse ‘como é que vocês deixam uma pessoa dessas dirigir?’. Ela exigiu que ela entregasse a carteira no Detran, e ela fez. Antes, ela dirigia e tudo, mas teve um dia que ela tomou um comprimido de diazepam, foi dar uma volta e bateu o carro”, afirmou a mãe.
A mãe contou que, mesmo com os surtos, a mulher era uma pessoa funcional, que trabalhava e seguia à risca o tratamento psiquiátrico.
“Ela fazia hospital-dia (assistência intermediária entre a internação e o atendimento ambulatorial) e ia para o psicólogo e psiquiatra algumas vezes por semana. Também já foi internada várias vezes. Depois, ficava boa, passava uns seis meses e surtava de novo”, disse.
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Como começou a perseguição?
A mulher, que é fã de Débora Falabella, encontrou a atriz pela primeira vez em 2013, num elevador, no Rio de Janeiro. Segundo a advogada Ivana Carneiro, a stalker afirma que, até então, nunca tinha tido atração por mulheres, mas se apaixonou pela artista.
“Ela diz que nunca tinha tido nenhum envolvimento homoafetivo, e que a primeira vez que se envolveu com uma mulher — na cabeça dela — foi com Débora Falabella”, afirmou Ivana Carneiro.
“Disse que viu Débora num elevador e se apaixonou. Quando ela foi presa, me perguntou ‘eu fui presa por amor? Meu amor mandou me prender? Eu só queria que ela me notasse, queria um abraço'”, contou a advogada.
A perseguição começou dias depois do primeiro encontro com a atriz, com o envio de presentes ao camarim da artista, como uma toalha branca, objetos e uma carta com teor íntimo e invasivo.
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Por que ela foi à casa de Débora Falabella?
Stalker apareceu em frente ao condomínio de Débora Falabella, em São Paulo
Reprodução
Em julho de 2022, a stalker foi ao condomínio onde a atriz mora, em São Paulo. Segundo a mãe dela, a mulher fugiu de casa de madrugada, sem que ninguém soubesse.
Ela viajou sem dinheiro e sem ter onde ficar e apareceu com duas malas no local, observou o apartamento da atriz por alguns minutos e foi à portaria pedir para entrar, mas foi barrada. À noite, voltou ao local, onde encontrou uma funcionária de Débora passeando com um cachorro, momento em que disse ter “encontros telepáticos” com a atriz, além de gritar seu nome.
“Eu nem vi mala arrumada, nem nada. Ela disse ‘estou na casa de uma amiga. Ela me deu o endereço, mas o porteiro disse que ela não está em casa’. Perguntei qual amiga e ela disse ‘nem adianta lhe falar, porque você não conhece’. Eu nunca imaginei que ela tivesse essa capacidade, nem sabia onde ela estava e mandei ela voltar. Ela respondeu ‘como eu vou voltar uma hora dessas?'”, contou a mãe.
O episódio motivou a apresentação de uma representação criminal contra a suspeita pelo crime de stalking, que tem pena de 6 meses a 2 anos por ser considerado de menor potencial ofensivo.
Em dezembro do mesmo ano, ela descobriu o endereço de uma pousada na Bahia em que Débora passava férias e, novamente, tentou contato com por intermédio da proprietária do estabelecimento.
Débora Falabella, ao voltar para São Paulo, descobriu que havia recebido uma encomenda enviada pela stalker — era o livro Romeu e Julieta, romance em que os protagonistas da história morrem, acompanhado de uma mensagem: “Para o meu Romeu, com muito amor”.
Segundo a advogada da stalker, ela não tem histórico de agressividade e não teve intenção de fazer ameaças ao enviar o livro. “Ela me disse ‘poxa, mas é uma história tão bonita'”, contou Ivana Carneiro.
Depois desse episódio, a Justiça de São Paulo concedeu medida protetiva para proibir a suspeita de manter contato com a artista por qualquer meio de comunicação, além de frequentar os mesmos lugares que a atriz, mantendo distância mínima de 500 metros, sob pena de prisão.
Em junho de 2023, ela foi denunciada pelo Ministério Público e São Paulo e, em setembro, descumpriu as medidas protetivas ao entrar em contato com Débora tanto pelo Instagram quanto pelo WhatsApp. Por isso, um mandado de prisão preventiva foi expedido em outubro daquele ano.
O mandado foi cumprido em março de 2024, quando a stalker estava internada numa clínica psiquiátrica em Camaragibe, no Grande Recife. Ela foi levada à Colônia Penal Feminina do Recife, no bairro da Iputinga, na Zona Oeste da capital.
Depois, foi submetida a uma perícia psiquiátrica, sendo diagnosticada com esquizofrenia mais uma vez. Após a divulgação do laudo que a considerou inimputável, a prisão preventiva da mulher foi revogada, mas ela ainda deve cumprir todas as medidas cautelares de afastamento da atriz, sob pena de internação provisória.
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O que vai acontecer com a acusada?
O advogado Diego Cerqueira considera que, junto da família, a mulher está recebendo a melhor alternativa de tratamento. Ele acredita que ela sequer deveria ter sido presa, já que tinha laudos que comprovavam a esquizofrenia desde 2004.
“A Justiça de São Paulo não aceitou os vários laudos que ela tem porque eram de médicos particulares. Questionamos, porque ela é aposentada por invalidez após laudo pericial do INSS, mas não serviu. Quando ela estava internada, estava sendo tratada, melhorando, mas, quando foi posta no presídio, interrompeu o tratamento”, contou o advogado.
Diego Cerqueira também contou que, atualmente, a mulher tem medo de sair sozinha e está sob rígida vigilância da família e dos advogados. Ele afirmou, ainda, que ela não tem acesso à internet, telefone e outros meios de comunicação.
“Na cela dela, num espaço para quatro pessoas, tinha dez presas. Na cama, dormiam ela e mais uma mulher. Ela caiu da cama, feriu o joelho e somente quando saiu obteve atendimento médico. Consideramos que a prisão é mais gravosa que o crime de stalking, cuja pena, caso fosse condenada, começaria no regime semiaberto. A medida de segurança ainda está valendo, já foram tirados todos os meios de comunicação dela. Tudo isso já foi feito”, afirmou.
Agora, segundo o advogado, a defesa vai trabalhar para que a mulher consiga responder pelo crime em liberdade até o julgamento, mas defende que a mulher é inimputável.
“Não teve dolo. Já tem laudo de esquizofrenia desde 2004. Ela é aposentada por isso. Então, a gente veio fazer esse apelo. As pessoas comparam ela com maníacos, mas ela é doente e merece um tratamento. […] Vamos lutar para garantir que ela seja absolvida com base no Código Penal, com base no código de pessoas com deficiência”, declarou Diego Cerqueira.
A mãe contou que toda a família foi abalada pelo caso e, também, por toda a trajetória da esquizofrenia da mulher.
“Para eu acreditar que ela era doente foi muito difícil. Você ver sua filha que era boa, não tinha nada, desse jeito. É um negócio muito difícil para uma mãe. E os ataques que ela e nós recebemos é algo horrível. Muita falta de humanidade das pessoas”, afirmou.
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