Conheça as histórias de duas famílias que ainda sofrem o luto por terem perdido parentes em colisões de veículos em postes. Especialistas explicam as consequências e como evitar esse tipo de ocorrência. Cruz foi colocada em avenida de Palmas para indicar morte após batida em poste
Wilton Dias/TV Anhanguera
Os postes são responsáveis por iluminar as ruas e avenidas de mais de 100 municípios do Tocantins. A função das estruturas é de suma importância tanto na visibilidade do cotidiano diário, quanto no trânsito. Apesar disso, esse mesmo instrumento tem sido um grande obstáculo para motoristas e motociclistas do estado. Em 2024, 114 estruturas foram atingidas por veículos no Tocantins. No ano passado, 380 postes foram derrubados também em acidentes de trânsito.
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Nos cinco primeiros meses deste ano, 45 postes foram derrubados na capital. Esse número já é quase a metade do registrado em todo o ano passado (99). A quantidade de clientes afetados por esses acidentes, inclusive, já tem um crescimento de 52,6%. Ao todo, 107.970 consumidores que ficaram sem energia no Tocantins por causa de batidas, sendo 44.706 em Palmas.
Batidas que apagam luzes e vidas
Há quatro meses, a vendedora Maria Edna Alves Machado viu sua vida e a de toda a sua família mudar por causa de um acidente envolvendo poste. A irmã dela, Daiane Alves Machado, de 33 anos, e o sobrinho Gabriel Rodrigues Machado, de 17 anos, morreram em fevereiro, depois que a moto em que estavam bateu em um poste na avenida NS-01, em Palmas.
Daiane Machado e o filho Gabriel morreram há quatro meses
Divulgação
Mãe e filho seguiam para o trabalho no momento do acidente. A suspeita é que o adolescente estaria pilotando o veículo.
“É uma coisa que a gente não espera, não deseja passar e pensa que nunca vai acontecer com a gente. Não é fácil, é um sentimento que não desejo pra ninguém passar por essa dor porque é doído”, lamentou.
A família teve que se reorganizar depois de tanta dor e sofrimento. “Está muito recente. Minha mãe me liga todos os dias chorando, porque eu também vivo longe dela. É ela que cuida do outro filho pequeno e está à base de remédio até então, ela não se conforma. O acidente desestruturou toda a família, porque mexe muito, é uma perda muito grande, dois de uma vez”, disse Maria Edna.
Maria Edna fala sobre a dor de perder irmã e sobrinho em acidente de trânsito
Como se não bastasse a dor do luto, o pai dela também adoeceu logo após a morte da filha e do neto. “Está no hospital desde a morte dela. Ele passou muito mal e ainda está internado, quatro meses depois. Ele ainda não viveu o luto dele. E meu irmão que morava comigo precisou ir embora por conta disso e está com ele no hospital. Está sofrendo ainda, muita coisa para resolver”, contou.
Mãe e filho sofreram acidente em fevereiro, em avenida de Palmas
Divulgação
Acidente após festa
Outra família que também teve que se reestruturar e conviver com o luto é a do policial aposentado Firmino da Silva Miranda. Ele perdeu o filho Dhiego Miranda, de 24 anos, em um acidente na quadra 501 sul, em Palmas. O jovem voltava de uma festa na Praia da Graciosa quando bateu a moto em um poste, na madrugada de maio de 2019.
Firmino da Silva Miranda e o filho Dhiego, antes do acidente fa
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“Eu conversava sempre com ele, explicava as coisas da vida, tinha preocupação com ele. Pedia para ele não andar de moto, quando ele fosse sair para ter bastante cuidado, eu sempre passava essas orientações pra ele, mas infelizmente terminou com ele sofrendo um acidente de moto”, relembrou o aposentado.
Assim como acontece em pontos de acidente em estradas e rodovias, Firmino colocou uma cruz de madeira bem perto do poste onde o filho bateu com a moto, no dia seguinte ao acidente. Ele a mantém enfeitada para sinalizar o local onde o filho perdeu a vida de forma tão trágica.
Local onde Dhiego Miranda perdeu a vida, em avenida de Palmas
Wilton Dias/TV Anhanguera
Impacto que pode ser mortal
Para o professor de física Luís Flexa, a intensidade da batida em um poste está relacionada ao tamanho do veículo e a velocidade do condutor. Por isso, uma colisão envolvendo uma moto pode ser mais grave.
“Um carro de passeio estimado em cerca de 800 kg a uma tonelada, a 70 km/h já derruba um poste. Já uma caminhonete a cerca de 45 km/h, dependendo da batida, também pode derrubar o poste, então o impacto de ambas as situações são violentas. Isso ocorre por causa do efeito da desaceleração somado à força do impacto, que depende dessas variáveis. Uma pessoa batendo frontalmente e tendo essa desaceleração praticamente instantânea, a cerca de 40 km/h, é como se ela caísse de uma altura de quatro ou cinco metros”, alertou.
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Conscientização não ‘apaga’ vidas
Muitos dos acidentes registrados no Tocantins foram causados pela desatenção do motorista ao trânsito, afirmou o gerente de construção e manutenção da Energisa, Bruno Queiroz.
“A pessoa está de cabeça baixa, está fazendo alguma outra coisa, está mexendo no celular. E às vezes não tem a noção do risco que ela corre e que ela oferece. Ela pegou um poste, mas poderia acidentalmente bater numa pessoa. E o transtorno que ela causa para a comunidade de maneira geral quando ela faz o abalroamento de um poste é muito grande”, apontou.
O que resta para quem perdeu algum familiar nesse tipo de acidente é o luto. Mas também um aprendizado e a necessidade de cuidado redobrado nas ruas.
“Se você não tiver consciência do que é o trânsito, vai terminar se envolvendo em acidente. Porque cada dia que passa, você anda por aí afora, você vê aquela bagunça no trânsito, violência no trânsito, parece que as pessoas já saem atrasadas e aí se você não tiver consciência do que é o trânsito, vai terminar se acidentando. Depois que perdi meu filho, passei a andar com ainda mais cautela, com muito cuidado. Tenho curso na área de trânsito, ando de moto, mas com bastante cuidado mesmo”, enfatizou Firmino Miranda.
Apesar dos altos números de acidentes, as estatísticas já foram piores. A gerente de educação para o trânsito da Secretaria Municipal de Segurança e Mobilidade Urbana de Palmas (Sesmu), Carolina Santos de Sousa, explicou que campanhas educativas são realizadas para crianças, adolescentes e motoristas de todas as idades, fruto do trabalho de conscientização realizado em Palmas.
“O esforço é voltado para conscientizar a população. O intuito é evitar que o acidente aconteça. Assim nós não queremos multar, isso é em último caso. O que nós queremos é preservar a vida”, pontuou Carolina.
Carolina Santos fala sobre as ações da Sesmu para conscientização e segurança no trânsito
Para o perito de trânsito Carlos Rezende é possível reduzir ainda mais esses números, mas para isso se tornar realidade é necessário um esforço coletivo e precisa da adesão diária do motorista e de todos que participam do trânsito diariamente.
“Esse ano, tivemos uma queda de 28% em relação ao ano passado em colisões com postes e do ano anterior para o outro foi 42%, então praticamente estamos quase com a metade. O que a gente espera é que realmente essa conscientização, através das reportagens, das pessoas vendo o outro errar, sendo vítimas, que ele conscientize mais, que ele pare de usar seu celular durante o deslocamento, que ele não ingira a bebida alcoólica. Se ingerir, que deixe o carro no local. Tem muitas medida que se pode ter enquanto condutor, que a gente não vai se colocar em risco e muito menos colocar a sociedade em risco”, reforçou o perito.
Quem paga a conta?
Quando um poste é derrubado após ser atingido por veículo, os consumidores podem ficar até três horas sem o fornecimento de energia. A substituição do mesmo pode demorar ainda mais tempo.
Além do prejuízo para quem vive no entorno do local em que ocorreu o acidente, os custos para substituição da estrutura do poste é de responsabilidade de quem provocou o incidente. Os valores variam de R$ 3 mil a mais de R$ 30 mil.
“Antes, os postes eram abalroados somente na madrugada. Hoje não. Boa parte dos postes são abalroados de dia, em uma reta”, explicou o gerente da Energisa, Bruno Queiroz.
Gerente da Energisa explica quais são as consequências caso um veículo derrube um poste
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