25 de dezembro de 2024

Menina de seis anos que nasceu sem uma das mãos ganha prótese feita em impressora 3D: ‘incrível’

Emanuelly de Azevedo Guimarães ganhou uma prótese articulada da mão direita por meio de um projeto universitário em Guarujá, no litoral de São Paulo. A pequena Emanuelly ganhou uma prótese da mão direita produzida em uma impressora 3D
Arquivo pessoal
Brincar de boneca e usar talheres não eram tarefas simples para Emanuelly de Azevedo Guimarães, de seis anos. A tecnologia, porém, passou a fazer parte do dia a dia da menina que nasceu sem a mão direita. A moradora de Guarujá (SP) teve a vida ‘transformada’ após ganhar uma prótese produzida por meio de uma impressora 3D, fruto de um projeto universitário na cidade.
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A malformação congênita de Emanuelly foi uma surpresa para a mãe, que descobriu a condição somente no nascimento dela. Ao g1, Mikaela de Azevedo Timóteo disse que a filha tinha algumas limitações motoras, como usar garfo e faca nas refeições. Com a nova ‘mão articulada’, a menina passou a reaprender a fazer atividades “básicas”, mas com mais segurança e comodidade.
“Os amiguinhos querem estar perto, querem estar com ela. Seguram na mão da prótese, não seguram na outra. É maravilhoso. Para mim, como mãe, foi incrível, porque a gente não está falando apenas de um acessório”, desabafou Mikaela.
A prótese doada para Emanuelly foi produzida no curso de extensão “Introdução à Tecnologia 3D e Manufatura Aditiva”, da Unaerp Guarujá. Viabilizado por meio de uma parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, ele foi voltado a alunos de Medicina, Enfermagem e Fisioterapia, tendo envolvimento da pós-graduação em Biomecânica da Universidade de São Paulo (Unifesp).
Os professores que ministraram a iniciativa projetaram a prótese com base nas necessidades da criança, a primeira atendida na cidade por este meio. Os profissionais avaliaram a malformação e mediram o braço de Emanuelly. Em seguida, realizaram a impressão em menos de 24 horas e conduziram a pequena ao processo de adaptação.
Mão articulada
Mão articulada foi produzida especialmente para a pequena Emanuelly, em Guarujá (SP)
Unaerp/Divulgação
A prótese de Emanuelly é feita de um termoplástico biodegradável chamado PLA, que conforme apurado pela equipe de reportagem é muito utilizado em embalagens e outros produtos do cotidiano. Depois da impressão, as peças foram desinfetadas e montadas.
O professor de Medicina e coordenador do curso de extensão, Rodrigo Dornelles, explicou ao g1 que o projeto foi desenhado virtualmente por meio de um software. Depois, o filamento do PLA foi colocado e aquecido no interior da impressora, dando forma ao molde.
🖨️A impressora cria várias peças menores que, depois, são montadas. Todas as peças são interligadas por um sistema de cabos e articulações.
Um benefício da mão articulada é que, quando a menina crescer, novas peças adequadas à anatomia dela poderão substituir as antigas. A prótese é montada por meio de encaixes, com parafusos e instrumentos que permitem ao paciente o ato de ‘agarrar’ os objetos.
“Não tem nenhum dispositivo eletroeletrônico na prótese. A prótese é toda mecânica, então funciona como se fossem pequenas roldanas e articulações nesse material, o PLA, para possibilitar esse tipo de apreensão”, completou o especialista.
Praticidade para o dia a dia
Geraldo Magela Nogueira Marques, coordenador do curso de Medicina da Unaerp Guarujá, explicou que a prótese é desenhada de acordo com a amputação ou malformação do paciente, como no caso de Emanuelly.
Outra vantagem é que não tem problema molhar. “A ponta é intercambiável. Você tira uma ‘ponta’, digamos assim, e coloca outra. E aí o paciente tem muito mais condição de trabalho, condição de se desenvolver”, acrescentou ele.
A intenção de Marques é que a iniciativa ajude ainda mais pessoas no futuro. Tanto adultos quanto crianças podem ser voluntários, mas pacientes que sofreram amputações em função de traumas devem ter um acompanhamento psicológico ainda maior. “A sensação de realização é muito grande”, afirmou ele.
👋 Quem pode usar?
Pacientes com ao menos um terço do antebraço que:
Sejam crianças ou adultos;
Tenham o membro amputado;
Tenham uma malformação.
‘Mudou totalmente a vida dela’
Emanuelly com a mãe, Mikaela (à esq.), e os profissionais que conduziram o projeto em Guarujá (SP)
Unaerp/Divulgação
A mãe de Emanuelly agradeceu pela doação da prótese, que já aproxima a filha dos amiguinhos na escola e a ajuda a concluir tarefas básicas do dia a dia. “Ela ficou muito, muito animada mesmo. Todo dia falava: ‘Mãe, como está minha mão?'” lembrou.
Segundo ela, a ‘nova mão’ mudou completamente a vida da pequena. Ela teve, inclusive, a chance de escolher a cor rosa e decorar a prótese com o adesivo da Jasmine, a princesa favorita dela.
“Falo até que foi muito de Deus, porque foi do jeitinho que ela pediu, da forma que ela queria. Ela queria que fosse rosa. Conseguiram que fizesse rosa, colocaram até um adesivo que ela queria da princesa que ela gosta”, complementou Mikaela.
Orientações
Matheus Tavares, gerente técnico da empresa alemã Ottobock, referência mundial em próteses para pessoas amputadas ou com mobilidade reduzida, explicou ao g1 que as próteses 3D já são apostas em algumas universidades e empresas.
Apesar de a Ottobock não trabalhar com a tecnologia em questão, ele alertou que é importante tomar certos cuidados mesmo com a prótese convencional.
Tavares ressaltou que esses hábitos incluem manutenções periódicas realizadas por profissionais capacitados, além de que o paciente mantenha o encaixe higienizado e acione o fabricante ao sinal de qualquer problema mecânico.
“O principal meio de uma criança aderir ao uso da prótese, ainda mais em membro superior, que tem um nível de abandono muito grande no Brasil e no mundo, é o treinamento. Simplesmente a produção e a doação não significa que ela vai usar a prótese”, afirmou ele.
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