Entre janeiro e abril, cientistas encontraram cerca de 100 répteis da espécie no local. De maio a junho, nenhum foi visto. Fotossíntese pode explicar fenômeno. Tartarugas não são mais vistas na praia do Cassino após enchente
Cientistas da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) investigam o desaparecimento de tartarugas da Praia do Cassino, em Rio Grande, na Região Sul, após as enchentes que atingiram o estado entre o final de abril e maio.
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A água que chega à região, através da Lagoa dos Patos, tem uma cor mais turva, devido a partículas de terra, argila e areia suspensas na água e carregadas pela correnteza. Por conta disso, os pesquisadores acreditam que nenhuma tartaruga foi vista em maio e junho.
“Quando elas [tartarugas verdes] estão aqui, próximas dos molhes, elas se aproximam para se alimentar preferencialmente das macroalgas, e as macroalgas vão precisar dessa luz para fazer a fotossíntese. E, realmente, a alta turbidez desde o dia 28 de abril pode estar influenciando na produtividade das macroalgas”, diz o pesquisador Gustavo Baila.
Nos últimos dois meses, ao menos 50 tartarugas deveriam ter sido encontradas nas proximidades. Entre janeiro e abril, 100 animais da espécie foram vistos.
O monitoramento é feito semanalmente, a partir de uma rede especial colocada no mar para identificá-las.
Pesquisadores procuram tartarugas na Praia do Cassino
Reprodução/RBS TV
Os pesquisadores estimam que o retorno das tartarugas para a Praia do Cassino só deve ocorrer quando a água estiver mais limpa, ou seja, quando a região estiver propícia para a permanência da espécie.
A falta de tartarugas é um indicador ambiental importante e revela que outros animais também estão sendo impactados pela enchente, de acordo com os pesquisadores.
“Ela pode estar sendo afetada por essas novas águas que estão ainda saindo pós-enchente. Então, não só na espécie das tartarugas, né? Tanto para os peixes, crustáceos, cnidários, toda a biodiversidade que a gente encontra aqui nos moles de Rio Grande”, explica a oceanóloga Letícia Verônica dos Santos.
O monitoramento de tartarugas também acontece em Santa Catarina e no Rio de Janeiro.
Pesquisadores identificam tartaruga na Praia do Cassino
Reprodução/RBS TV
Números da tragédia no RS
Os temporais e as cheias no Rio Grande do Sul deixaram 179 mortos, 34 desaparecidos e 806 desaparecidos, segundo o mais recente boletim divulgado pela Defesa Civil estadual, divulgado na quinta-feira. Ao todo, cerca de 2,4 milhões de pessoas foram afetadas em todo estado.
15.419 animais perdidos ou abandonados estão em abrigos monitorados pelo governo estadual.
O RS tem 478 dos seus 497 municípios atingidos pelas enchentes, o que equivale a mais de 96% das cidades.
As ruas, avenidas, estradas e rodovias inundadas que foram mapeadas pelo governo do RS somam 4.521 km, distância suficiente para atravessar Brasil de norte a sul ou de leste a oeste.
Imagem de satélite feita nesta segunda-feira (6) mostra região de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, tomada pela enchente
European Union/Copernicus Sentinel-2 via Reuters
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