12 de janeiro de 2025

Em penas somadas, trio que manteve pai e filha reféns pega mais de 80 anos de prisão no Acre

Grupo foi preso por assaltar uma oficina mecânica e por manter pai e filha, de apenas 6 anos, reféns por cerca de duas horas dentro de um carro durante a fuga em agosto de 2023. Lucas Gomes de Lima, Ailton Moitoso Borges e Antônio Adrias da Costa Silva não podem recorrer da decisão em liberdade. Ailton Moitoso Borges (esq.); Lucas Gomes de Lima (meio) e Antônio Adrias da Costa Silva foram condenados por crime praticado em agosto de 2023
Reprodução
Em penas somadas, Lucas Gomes de Lima, 24 anos, Ailton Moitoso Borges, 32, e Antônio Adrias da Costa Silva, 20, foram condenados pela Justiça do Acre a mais de 80 anos de prisão por roubo, sequestro e cárcere privado.
O trio foi condenado por assaltar uma oficina mecânica e durante a fuga manter pai e filha, de apenas 6 anos, reféns por cerca de duas horas dentro de um carro no bairro Nova Esperança, em Rio Branco, em agosto do ano passado.
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Os acusados não podem recorrer da sentença em liberdade. O g1 não conseguiu contato com a defesa dos acusados.
“Destaco, a propósito, a prática de seis crimes de roubo, em concurso de agentes e com emprego de arma de fogo, ressaltando agressões físicas contra as vítimas, que foram amarradas, além de um deles ter sido efetuado na presença de uma criança menor, frisando que pai e filha ficaram por mais de duas horas rendidos pelos denunciados, os quis, vestidos com roupas da polícia, ameaçaram a todo momento o genitor da menor, inclusive tirando fotos e postando na rede social”, destacou o juiz Gustavo Sirena na decisão.
Para cada um, as penas foram as seguintes:
Ailton Borges, alcunha “Alemão” – pegou 30 anos e um mês de prisão
Lucas Gomes de Lima, alcunha “Lorinho” – 27 anos e 2 meses
Antônio Andrias, alcunha “Chuck” – 25 anos e 11 meses
Denúncia
Na denúncia, o Ministério Público do Acre afirmou que o trio roubou aparelhos celulares e documentos pessoais em uma oficina “mediante violência ou grave ameaça”. O MP também ressaltou que os três denunciados utilizavam fardas de polícia e se apresentaram como agentes, ordenando que as vítimas deitassem no chão.
“Após amarrarem todas as vítimas, criminosos subtraíram seus pertences e foram avisados por comparsa desconhecido (quarto elemento), através de rádio HT, que guarnição policial aproximava-se, então empreenderam fuga. Policiais militares localizaram vítimas amarradas e com lesões, no interior daquela oficina, momento que se deu início às diligências com objetivo de localizar e identificar os autores”, cita a denúncia.
Após deixar a oficina, o grupo roubou um carro em frente à Escola de Ensino Infantil Cecilia Meireles. O carro pertencia a um homem de 28 anos, funcionário da creche, que saía do local com a filha de 6 anos.
Pai e filha permaneceram reféns por duas horas. Os bandidos exigiram presença de familiares e também colete à prova de balas.
“Imediatamente, autores os abordaram e mediante grave ameaça subtraíram o veículo do ofendido, com intenção de utilizá-lo para fuga e ainda mantiveram [o proprietário] e filha como reféns. Na tentativa de fuga, foram cercados por policiais militares, que já realizavam diligências com objetivo de os localizar. Naquela ocasião do cerco policial, compreenderam que não teriam como fugir, então passaram a negociar com os agentes policiais, para liberar as vítimas e se entregarem”, afirma o MP.
Por conta dos fatos, o trio foi denunciado por roubo contra 5 pessoas que estavam na oficina, roubo contra o pai da criança de seis anos, e cárcere privado, agravado por ser cometido contra criança.
Prisão
Lucas Gomes de Lima, 24 anos, Ailton Moitoso Borges, 32, e Antônio Adrias da Costa Silva, 20, tiveram as prisões em flagrante convertidas em preventivas após assaltarem uma oficina mecânica e durante a fuga manter pai e filha, de apenas 6 anos, reféns por cerca de duas horas dentro de um carro no bairro Nova Esperança, em Rio Branco.
O g1 também fez uma busca pelos nomes dos acusados no site da Justiça e confirmou que os três têm vasta ficha policial.
De acordo com a polícia, o trio invadiu uma oficina mecânica, onde renderam o dono e os funcionários, cinco pessoas ao todo, e roubaram dinheiro, objetos pessoais, celulares e uma arma no estabelecimento. As vítimas que estavam na oficina disseram que eles chegaram se apresentando como policiais.
Em seguida, ao fugirem, renderam um homem de 28 anos que saía da Escola de Ensino Infantil Cecilia Meireles acompanhado da filha de 6 anos.
Se passaram por policiais
Os dois ficaram dentro do carro por cerca de duas horas na mira dos bandidos. Uma das cenas que chamou atenção foi o fato de dois, dos três acusados, estarem com roupas que imitavam o fardamento das polícias Militar e Penal. Em depoimento, eles disseram que compraram as roupas no site de vendas Shopee.
Durante depoimento na Delegacia de Flagrantes (Defla) em Rio Branco, Antônio Andrias se manteve em silêncio, mas Ailton Borges e Lucas de Lima confessaram o crime. Os dois acusados deram a mesma versão, alegando que o dono da oficina estaria ameaçando o trio e que foram até o estabelecimento em busca de armas e drogas.
Encontrada a pistola, que foi apreendida pela polícia após os crimes. Eles alegam ainda que só renderam pai e filha para não serem mortos pela polícia. Eles foram indiciados por roubo majorado pelo emprego de arma, concurso de pessoas e restrição da liberdade e cárcere privado majorado.
Ailton, conhecido como “Alemão”, contou que estava sendo ameaçado de morte pelo dono da oficina, que alegava que ele seria uma facção rival. Em depoimento, ele conta que foram até a oficina para roubar arma de fogo e drogas.
“Contou que compraram fardas parecidas com a da polícia pelo aplicativo de vendas Shopee e foram até a oficina após contratarem um motorista de aplicativo, que levou todos ao local”, consta no depoimento.
O motorista viu que todos estavam armados, mas também viu que estavam com as fardas parecidas com a da polícia. O trio havia amarrado as vítimas e vasculhado a casa e oficina, inclusive, chegaram a colocar objetos em um carro, mas não conseguiram levar.
Live feita por bandidos mostram que eles estavam com vestimentas que imitavam fardamento militar
Reprodução
A polícia foi acionada por vizinhos, que estranharam a movimentação. Foi quando a polícia chegou e os três acusados pularam o muro e viram o funcionário da escola entrando no carro com a filha de 6 anos.
Ailton disse à polícia que mandou o homem dirigir, mas que logo a polícia chegou e decidiram manter os dois reféns para que não fossem mortos pela polícia. Foi a partir daí que começaram a exigir água, a presença da imprensa e de familiares, além de coletes balísticos para que pudessem se entregar. Lucas Gomes confirmou a mesma versão do comparsa.
Ao g1, o Comando da Polícia Militar no Acre (PM-AC) informou, na época, que a forma de aquisição do uniforme será investigada e as providências serão tomadas.
“Infelizmente, a questão de utilização de uniformes e outros itens de certa categoria para o cometimento de delitos é uma preocupação não apenas da PM, mas de todas os órgãos, empresas, e setores que operam uniformizados (inclusive empresas privadas). O mundo globalizado oferta fácil acesso a esses itens, mas o que estiver ao alcance da PM-AC será realizado para minimizar esse tipo de situação”, diz a nota.
Pai e filha ficaram reféns por cerca de duas horas em Rio Branco
Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre
Vítima foi ferida no rosto
Na época, o funcionário público que foi rendido junto com a filha contou que tinha saído da escola por volta das 10h30, quando os três se aproximaram se identificando como policiais, mas que estavam muito nervosos.
“Disseram que ele seguisse para o Segundo Distrito, mas ele parou o carro e disse que não tinha como seguir. Nesta hora foi agredido com uma coronhada na testa, que fez um corte. Um dos criminosos [Lucas, pelas imagens] assumiu o volante e tentou sair de ré, mas a rua não tinha saída”, consta no depoimento.
Nessa hora, segundo a vítima, os criminosos começaram a fazer ligações contando que estavam encurralados e dentro do carro. Começaram também uma live, que viralizou nos grupos de mensagem. É nesse vídeo que dá pra ver o uso das vestimentas imitando o fardamento militar.
O primeiro a se entregar foi Lucas e logo em seguida, Ailton e Antônio Andrias. A vítima conta ainda que um dos acusados, Antônio Andrias, conhecido como Chuck, chegou a tentar convencer os comparsas de não se entregarem.
Assaltantes compartilharam vídeos de dentro do carro durante sequestro
Ficha criminal extensa
Os três envolvidos no assalto têm uma extensa ficha criminal, seja por porte de arma, furto qualificado, entre outros. Confira:
Ailton Borges, alcunha “Alemão” – Tem passagem por furto qualificado, crimes contra o patrimônio, crimes do sistema nacional de armas e roubo majorado;
Lucas Gomes de Lima, alcunha “Lorinho” – Tem passagem por roubo majorado, ato infracional de furto qualificado quando era menor de idade;
Antônio Andrias, alcunha “Chuck”- crimes no sistema nacional de armas, roubo majorado, integrar organização criminosa.
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