10 de janeiro de 2025

Freire Gomes, Baptista Júnior, Theophilo de Oliveira: quem são e o que disseram os depoentes sobre a tentativa de golpe de Estado

Ministro Alexandre de Moraes, do STF, derrubou sigilo dos depoimentos dados à Polícia Federal. Investigados e testemunhas deram suas versões sobre reuniões entre militares e a cúpula do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Alexandre de Moraes derruba sigilo de depoimentos à PF
Os depoimentos prestados na investigação da Polícia Federal (PF) sobre uma tentativa de golpe de estado no governo de Jair Bolsonaro (PL), que tiveram sigilo derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes nesta sexta-feira (15), mostram as versões apresentadas por investigados e testemunhas de reuniões entre militares e a cúpula do governo Bolsonaro.
Para não responder a questionamentos, parte dos depoentes permaneceu em silêncio e alegou que não tinham tido acesso à íntegra dos processos.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi um dos que optaram por ficar em silêncio em seu depoimento.
Veja, abaixo, o que disseram os depoentes:
General Freire Gomes, ex-comandante do Exército
Ex-comandante do Exército, Freire Gomes disse à PF que Jair Bolsonaro apresentou a ele e aos outros comandantes das Forças Armadas uma minuta de decreto para instaurar um estado de defesa no TSE e “apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral” de 2022.
Segundo Freire Gomes, ele esteve em três reuniões e viu duas versões da minuta do golpe, cujo conteúdo era semelhante ao da minuta encontrada pela PF em janeiro de 2023 na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Ele afirma que Exército deixou claro a Bolsonaro que não embarcaria em golpe.
Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército
GloboNews/Reprodução
Tenente-brigadeiro Baptista Junior, ex-comandante da Aeronáutica
Ex-comandante da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Baptista Jr. disse que relatou ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ser contra as articulações para golpe de Estado e que o ex-comandante do Exército general, general Freire Gomes, afirmou a Bolsonaro que teria que prender o ex-presidente se ele tentasse consumar o plano golpista.
À PF, afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) enfatizava, durante reuniões após as eleições de 2022, a necessidade de parar o que chamava de “abusos” do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e que “procurou dissuadir o então presidente [Bolsonaro] de qualquer medida extrema”.
Tenente-brigadeiro do ar Carlos Baptista Junior
CECOMSAER/Divulgação
Ele afirmou que o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, tentou entregar a ele uma minuta com teor golpista. O militar, no entanto, afirma que se negou a receber o documento
General Theophilo de Oliveira, comandante do Coter
Em seu depoimento, o então comandante do Comando de Operações Terrestres (Coter), general Theophilo afirmou que não tinha poder de decisão sobre movimentação de tropas e que respondia a decisões do comandante do Exército, à época o general Freire Gomes.
O general 4 estrelas Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira em cerimônia de transmissão do cargo de Comandante de Operações Terrestres em 1º de dezembro de 2023.
Comunicação Social do Comando de Operações Terrestres
De acordo com as investigações da PF, em 9 de dezembro de 2022, Theophilo se reuniu com o então presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada e supostamente consentiu com a adesão ao golpe de Estado, desde que o presidente da República assinasse a medida, conforme conversas encontradas no celular do ajudante de ordens Mauro Cid.
O general confirma ter se encontrado sozinho com Jair Bolsonaro no dia 9 de dezembro, ficou ouvindo “lamentações do então Presidente da República sobre o resultado das eleições” e disse que não foi falado sobre minuta de golpe ou GLO (Garantia da Lei e da Ordem).
Também afirmou que não tinha encontros pessoais com o coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro.
Anderson Torres
Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres disse que não escreveu a minuta de golpe encontrada em sua casa, em 10 de janeiro de 2023, e que conhecia o teor da minuta apresentada pelo assessor do ex-presidente, Filipe Martins, na reunião do dia 7 de dezembro de 2022.
Torres disse à PF não conhecer Martins e que desconhece que Abin ou Forças Armadas monitoraram o ministro do STF Alexandre de Moraes, como encontrado por investigadores em conversas de Mauro Cid.
Ex-ministro Anderson Torres em depoimento à CPI dos Atos Golpistas
WALLACE MARTINS/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Sob a gestão de Torres, a PF abriu apuração sobre suposta delação de general venezuelano contra Lula antes da eleição de 2022. Questionado sobre essa apuração, Torres disse não ter informações sobre a abertura da investigação.
Valdemar Costa Neto, presidente do PL
Presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto afirmou que “não concorda” com as suspeitas levantadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, do mesmo partido, sobre a lisura das urnas eletrônicas e do resultado da eleição de 2022.
Presidente do PL, Valdemar Costa Neto
GloboNews
Almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha
Ex-comandante da Marinha, o Almirante Garnier recorreu ao direito constitucional de ficar em silêncio e não respondeu a perguntas de investigadores, que apuram suposta tentativa de golpe de Estado.
O almirante Almir Garnier Santos foi comandante da Marinha no governo Bolsonaro
Reprodução
Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa
Ex-ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio recorreu ao direito constitucional de ficar em silêncio e não respondeu a perguntas de investigadores, que apuram suposta tentativa de golpe de Estado.
O ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, durante a Conferência de Ministros da Defesa das Américas, realizada em julho
Wilton Junior/Estadão Conteúdo
Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil
Ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice na chapa de Bolsonaro, o general Braga Netto recorreu ao direito constitucional de ficar em silêncio e não respondeu a perguntas de investigadores, que apuram suposta tentativa de golpe de Estado.
Braga Netto é um dos alvos da operação da PF por tentativa de dar golpe de Estado
André Dusek/Estadão Conteúdo
Cleverson Ney Magalhães, coronel do Exército
Ex-oficial do Comando de Operações Terrestres, confirmou ter conversado com Mauro Cid após as eleições de 2022, mas que conversou “apenas para tratar de assuntos funcionais”.
Sobre pedidos de Cid ao general Theophilo, afirmou que o general não iria participar de tentativa de golpe por iniciativa própria, “somente por ordem expressa” ao seguir a “cadeia de comando” do Exército.
Também depuseram à Polícia Federal:
Carlos de Almeida
Laércio Vergílio
Coronel Bernardo Romão Correa Netto
Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros
Eder Lindsay Magalhães Balbino
Tercio Arnaud Tomaz
Guilherme Marques Almeida
Convocados que ficaram em silêncio:
Jair Messias Bolsonaro
Ailton Gonçalves Moraes Barros
Almir Garnier Santos
Amauri Feres Saad
Angelo Martins Denicoli
Felipe Garcia Martins Pereira
Helio Ferreira Lima
Jair Messias Bolsonaro
José Eduardo de Oliveira e Silva
Marcelo Costa Câmara
Mario Fernandes
Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
Rafael Martins de Oliveira
Walter Souza Braga Netto
Ronald Ferreira de Araujo Junior
Núcleos de atuação golpista
De acordo com a PF, o grupo investigado se dividiu em dois “eixos”, ou núcleos de atuação para tentar minar o resultado das eleições 2022.
O primeiro “eixo” era voltado a construir e propagar informações falsas sobre uma suposta fraude nas urnas, apontando “falaciosa vulnerabilidade do sistema eletrônico de votação”.
“[…] discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022”, pontua a Polícia Federal.
O segundo “eixo”, por sua vez, praticava atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito – ou seja, para concretizar o golpe.
Essa etapa, de acordo com as investigações, tinha o apoio de militares ligados a táticas e forças especiais.
O Exército acompanha o cumprimento dos mandados ligados aos militares, em apoio à PF.
De acordo com as investigações, se confirmadas, as condutas do grupo podem ser enquadradas em crimes como organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
[Esta reportagem está em atualização]

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