27 de dezembro de 2024

‘Pior dor do mundo’: entenda como jovem poderá controlar intensidade dos sintomas via bluetooth

Com um iPod conectado a eletrodos implantados na base do crânio, Carolina Arruda conseguirá ajustar impulsos elétricos que estimulam o nervo e impedem a transmissão da dor até o cérebro. Jovem com a pior dor do mundo faz cirurgia que deve ajudar com as dores
Os eletrodos implantados na base do crânio de Carolina Arruda, que tem neuralgia do trigêmeo, agora serão controlados via bluetooth por um aplicativo instalado em um iPod. Esses neuroestimuladores têm como função estimular o nervo e impedir a transmissão da “pior dor do mundo” ao cérebro.
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O “controle remoto” não necessita de conexão à Internet. Segundo o médico Carlos Marcelos de Barros, diretor clínico da Santa Casa de Alfenas, a paciente conseguirá emitir impulsos elétricos para estimular o nervo e “reprogramar” a atividade anormal dele (entenda mais abaixo).
“A gente vai gastar duas a três semanas para conseguir avaliar realmente a efetividade realmente dessa terapia pra ela. A lesão continua lá, ela tem a lesão do nervo trigêmeo, mas o neuroestimulador vai controlar a dor”, explicou o médico.
‘Pior dor do mundo’: entenda como jovem poderá controlar intensidade dos sintomas via bluetooth
Carolina Arruda/Arquivo Pessoal
Como funciona a neuroestimulação?
Conforme o médico, o gerador de pulso implantável envia uma corrente elétrica de baixa intensidade até os eletrodos. Esta corrente imita a onda elétrica das fibras nervosas que conduzem a dor, comunicando-se com o sistema nervoso no mesmo “idioma”.
“O eletrodo é colocado sobre a estrutura alvo que se deseja modular, ou seja, alvo que deseja receber a corrente elétrica. A modulação ocorre quando tentamos substituir um estímulo doloroso por um não doloroso. O estímulo elétrico é enviado pelo gerador e trazemos estruturas nervosas hiperexcitadas (na dor crônica) para o estado normal”, explica.
A localização dos eletrodos permite um tratamento direcionado. O eletrodo da medula abrange os ramos V2 e V3, que são os locais onde Carolina sente dor no lado direito. Já o eletrodo do gânglio de Gasser atua no lado esquerdo, onde a dor é sentida nos ramos V1, V2 e V3.
“Um eletrodo foi colocado à esquerda do gânglio de Gasser e outros dois colocados no espaço epidural da coluna cervical. Esses eletrodos são conectados por fios – que ficam implantados também – [e vão] até o gerador, que fica dentro do paciente. O gerador que determina o que chega de neuroestimulação no eletrodo”, explicou o médico.
Os neuromoduladores funcionam continuamente, 24 horas por dia, com intensidade baixa a moderada. É a equipe médica quem ajusta o funcionamento do gerador que mantém o eletrodo ligado e configura como será feita a neuroestimulação.
“Durante estes ajustes ela relata como se sente, se sente estímulos e a partir daí deixamos o neuroestimulador funcionando. Mas também deixamos a opção para a própria paciente aumentar o estímulo caso ela sinta necessidade”, disse.
‘Pior dor do mundo’: entenda como jovem poderá controlar intensidade dos sintomas via bluetooth
Carolina Arruda/Arquivo Pessoal
O médico explica que os eletrodos atuam na estimulação do gânglio da raíz dorsal (DRG) e na estimulação medular (SCS).
No gânglio da raíz dorsal, uma região importante na passagem ou bloqueio da dor é estimulada com baixa energia. A estimulação procura fazer a estrutura voltar a ter sua função de filtro do estímulo doloroso em situações normais e naturais.
Já na região medular, o que é estimulado é o corno posterior da medula, com uma forma de onda chamada BURSTDR – que imita a forma natural dos neurônios se comunicarem, modulando regiões do sistema nervoso central que são responsáveis por informar ao cérebro que a dor existe.
Os parâmetros dos estímulos elétricos são ajustados sob orientação médica através do programador clínico.
“A mudança de parâmetros depende da anatomia do paciente e da resposta à terapia, e pode ser ajustada com o tempo e com a necessidade de cada momento da vida da paciente”, informou o médico.
A neuroestimulação dói?
Carolina Arruda explica que a sensação gerada pelos impulsos elétricos não é dolorosa. Durante as crises, ela aumenta a intensidade para aliviar a dor – e são nesses momentos em que sente uma espécie de “formigamento”.
“Quanto maior a intensidade, mais ‘choques’ ele dá em cima para ‘reprogramar’ o nervo”, explica a jovem.
Mesmo com a tecnologia implantada, a estudante deve continuar tomando todos os medicamentos prescritos. Carolina passará por um processo de adaptação aos neuroestimuladores e, enquanto isso, é comum continuar sentindo as dores causadas pela neuralgia do trigêmeo.
De acordo com o médico Carlos Marcelo de Barros, é preciso esperar algumas semanas para ter a real percepção do resultado da cirurgia. A previsão é que Carolina Arruda tenha alta entre quinta e sexta-feira desta semana.
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Jovem cogitou suicídio assistido na Suíça
Carolina Arruda, de 27 anos, é natural de São Lourenço, no Sul de Minas, e mora em Bambuí, no Centro-Oeste. Ela é estudante de medicina veterinária, casada há três anos e mãe de uma menina de 10 anos. A jovem começou a sentir as dores aos 16 anos, quando estava grávida e se recuperava de dengue.
Carolina Arruda tem 27 anos quer ser submetida à eutanásia na Suíça
Carolina Arruda/Divulgação
A dor e o desgaste de Carolina com a doença são tão intensos, que fizeram ela tomar a decisão para pôr fim ao sofrimento. Ela iniciou uma campanha na internet para conseguir recursos financeiros e ser submetida ao suicídio assistido na Suíça.
Carolina foi internada no dia 8 de julho na Santa Casa de Alfenas. Nesta primeira internação, a estudante ficou no hospital durante duas semanas. No dia 22 de julho, após receber uma alta temporária, ela relatou ter notado redução na frequência e duração das crises de dor.
A jovem voltou a ser internada na sexta-feira (26) para realizar os cuidados pré-operatórios referentes ao implante de eletrodos. A cirurgia, realizada no sábado (27), foi considerada bem sucedida. Os cuidados pós-operatórios envolvem usar um colar cervical e ficar sem falar por pelo menos cinco dias.
O que é a neuralgia do trigêmeo?
A neuralgia do trigêmeo, também conhecida como a “doença do suicídio”, e comparada a choques elétricos e até a facadas. O trigêmeo é um dos maiores nervos do corpo humano. Ele leva esse nome porque se divide em três ramos:
o ramo oftálmico;
o ramo maxilar, que acompanha o maxilar superior;
o ramo mandibular, que acompanha a mandíbula ou maxilar inferior.
Ele é um nervo sensitivo, ou seja, que controla as sensações que se espalham pelo rosto. Permite, por exemplo, que as pessoas sintam o toque, uma picada e a dor no rosto.
Segundo os especialistas, a dor causada pela doença é uma das piores do mundo. Ela não é constante fora das crises, mas é disparada por alguns gatilhos que, na verdade, fazem parte da vida cotidiana como falar, mastigar, o toque durante a escovação ou barbear e até com a brisa do vento sobre o rosto.
A dor é incapacitante. Ou seja, impede que a pessoa consiga fazer atividades simples do dia a dia.
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