Câmeras registraram o acidente inacreditável de Flávia Saraiva, ainda durante o aquecimento, e a admiração da americana Simone Biles pelo desempenho da Rebeca. Brasil conquista uma medalha inédita na final por equipes da ginástica artística
Os milhões de brasileiros que tiveram a felicidade de acompanhar a conquista histórica da nossa equipe de ginástica artística, na tarde desta terça-feira (30), vão guardar na lembrança muito mais do que a medalha inédita recebida em Paris. Porque as câmeras que registraram os movimentos espetaculares das atletas captaram também o acidente inacreditável de uma delas, ainda durante o aquecimento, e a admiração da americana Simone Biles pelo desempenho da Rebeca Andrade. E, ainda ,as lágrimas e os sorrisos e os abraços que o bronze olímpico provocou.
O Brasil chegou ao topo da ginástica com a força das próprias pernas. Rebeca Andrade procurava a mãe. Rosa não viu a filha ganhar duas medalhas em Tóquio, um ouro e uma prata, porque a pandemia impediu a presença de público nas competições três anos atrás. Mas ela presenciou, em Paris, um bronze para completar a coleção.
É que o salto de Rebeca, na última apresentação do último aparelho, teve uma nota tão alta que foi capaz de recolocar na disputa pelo pódio um time que havia iniciado a final sob tensão.
Antes mesmo da primeira apresentação, ainda no aquecimento, Flávia Saraiva teve uma queda das barras paralelas assimétricas e sofreu um corte no supercílio. As exibições de Lorrane Oliveira nas mesmas assimétricas e da Julia Soares na trave não foram como o esperado. Já a de Rebeca, nas barras, foi impecável. Capaz de surpreender até a melhor ginasta do mundo.
No solo, o terceiro dos quatro aparelhos, o Brasil começou a reagir. As apresentações de Julia Soares e de Flávia Saraiva, que usavam músicas francesas nos arranjos para a coreografia, empolgaram a torcida. Rebeca Andrade também foi muito segura e contou o tempo todo com o apoio das companheiras, que vibravam a cada acerto.
Enquanto isso, na liderança da competição, Simone Biles até bocejava tamanha a vantagem dos Estados Unidos.
Estaria nas mãos de Jade Barbosa, Flavinha e Rebeca a missão de, no salto, saltar do sexto lugar para o pódio.
“Confiar na nossa equipe, confiar no nosso trabalho faz toda a diferença. Então foi daí que saiu o 15,100”, conta Rebeca Andrade, medalha de bronze na ginástica em Paris.
Combinada a exibições irregulares das adversárias na última rodada, a pontuação depois do salto de Rebeca era o sinal de que havia esperança. Com a divulgação das notas ao fim de todas as apresentações, foi impossível segurar as lágrimas. Jade Barbosa, 33 anos, a mais experiente do time, agradeceu a amiga: “Obrigada”. Naquele momento, a equipe brasileira passava a ter não mais apenas uma, mas cinco medalhistas olímpicas.
“Cada passo fez a diferença, e a gente lutou por cada um deles. Por mais que não tenha saído como a gente gostaria. Aconteceram algumas coisas. Isso faz uma equipe. Isso faz uma família. Eu tenho muito orgulho do que a gente construiu nesse período todo. E , hoje, a gente colhe o resultado de muitas gerações”, afirma Jade Barbosa, medalha de bronze na ginástica em Paris.
No pódio, os Estados Unidos de Simone Biles com o ouro. A Itália conquistou a prata. E o Brasil, o bronze – a primeira medalha olímpica por equipes da história da ginástica brasileira. Uma vitória que começou com sangue e terminou em uma mistura de lágrimas e sorrisos difícil de descrever.
“Quando eu vi, eu estava no chão, deitada, com o joelho na cara. Eu só rolei para o lado para a Rebeca poder aquecer. Gente, eu falei: ‘Onde é que eu estou?’. E o Chico: ‘Está sangrando, está sangrando’. Aí eu coloquei a mão no rosto e meu olho estava sangrando. Não estava entendendo nada”, lembra Flávia Oliveira, medalha de bronze na ginástica em Paris.
Quase 40 minutos depois da conquista da medalha. Mas o momento de maior ansiedade, por incrível que pareça, ainda estava por vir: atravessar um pequeno corredor para poder ficar perto da família. Os pais de Julia Soares demoraram a acreditar: eles têm uma filha medalhista em casa. E a Rosa, mãe da Rebeca, enxugava as lágrimas com a bandeira do Brasil.
As competições da ginástica vão continuar individualmente. Flávia, Julia e Rebeca seguem em busca de mais medalhas.
Essa disputa em equipes também foi uma prévia de um duelo que ainda vai ocorrer entre as duas principais ginastas da atualidade. Nesta terça-feira (30), o jornal americano “Washington Post” publicou uma reportagem sobre a evolução de Rebeca Andrade e de como ela se tornou a maior adversária de Simone Biles a partir de incentivos da própria americana. Quando Rebeca pensou em parar por causa das repetidas lesões e duas cirurgia no joelho direito, Biles a incentivou a não desistir.
Elas vão se enfrentar nas finais do individual geral, do solo, do salto e da trave. E as notas das duas nesses aparelhos na final de hoje foram bem parecidas. Biles foi melhor no solo e na trave, e Rebeca, no salto.
Só que essas disputas, essas medalhas ficam para outro dia. Já a desta terça-feira (30), é delas. De todas elas.
Entrevista
Ao vivo no JN, Jade Barbosa falou sobre a conquista da medalha
Em Paris, a repórter Karine Alves, conversou com a ginasta Jade Barbosa, a mais experiente do grupo que conseguiu a primeira medalha olímpica por equipes da história da ginástica brasileira.
Repórter: Jade, você tem 33 anos. Foram mais de 20 anos esperando por esse momento, lutando pela ginástica, conhece muito bem a história de todas que fizeram tudo para chegar até aqui. O que você teve que mudar para conseguir não desistir e ter essa medalha depois de 30 anos, que é tão difícil
Jade Barbosa: Eu acho que… Não sobre mudar, mas sobre adquirir cada vez mais experiência para aprender a lidar com as situações. Ser resiliente. Como na vida, dentro do esporte, a gente tem uma amostra grátis de tudo que a gente vai viver na vida. Todas as meninas daquela equipe são extremamente resilientes. Foi isso que a gente mostrou hoje. A gente pode ver pela Flávia, Rebeca, Lorrane, Julia… A gente deu tudo que a gente tinha. Apesar de a gente não ter conseguido fazer a competição que a gente imaginava, aconteceram muitas adversidades, mas a gente lutou por cada décimo.
Repórter: Agora, tem Los Angeles pela frente. Dá para a gente pensar em um novo ciclo da Jade Barbosa? Porque já vai estar com um pouquinho mais de idade.
Jade Barbosa: Eu, realmente, não sei. Eu sei que até daqui uma semana a gente tem muitas finais, e nós continuamos sendo uma equipe. Eu vou dar tudo o que eu tenho para as meninas. A gente vai até o final juntas. Depois, a gente reavalia e vê. A Jade, de toda forma, vai estar em Los Angeles. Só não sei como ainda.
Repórter: Mesmo que seja fazendo collant.
Jade Barbosa: Mesmo que seja com os collants. O collant também foi uma novidade muito legal. A gente estar podendo representar isso também.
POR TRÁS DA MEDALHA
Série do JN mostra pessoas importantes para o sucesso de atletas brasileiros em Paris
Grave lesão muda a relação entre Thaísa e José Roberto Guimarães: ‘Hoje, a gente se ama’
Alison dos Santos fala da importância do melhor amigo: ‘Energia de família’
Conheça a parceria vitoriosa entre Isaquias Queiroz e uma médica: ‘Família’
Com apenas 16 anos, Rayssa Leal busca segunda medalha olímpica com treinador que é parte da família