Resultado mostra que o índice de preços do país voltou a desacelerar. Em junho, taxa havia sido de 4,6%. Dados foram divulgados nesta quarta-feira (14) pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). Presidente da Argentina, Javier Milei, durante evento empresarial em Buenos Aires 26 de março de 2024
Agustin Marcarian/Reuters
A inflação da Argentina ficou em 4% em julho, apontou o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) divulgado nesta quarta-feira (14) pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) do país.
Em relação a junho, quando a inflação ficou em 4,6%, os preços caíram 0,6 ponto percentual (p.p.) — o que mostra uma desaceleração na taxa.
Em 12 meses, o aumento dos preços chegou a 263,4%. O acumulado também é menor do que o mês de junho, quando era de 271,5%.
O setor de maior alta em julho foi o de Restaurantes e Hotéis (6,5%). Na sequência, ficaram Bebidas Alcoólicas e Tabaco (6,1%), Habitação, Água, Eletricidade, Gás e Outros Combustíveis (6%), Saúde (5,8%) e Recreação e Cultura (5,7%).
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A Argentina, sob o comando do presidente ultraliberal Javier Milei, passa por um forte ajuste da economia. O país vinha enfrentando uma forte recessão econômica, e o novo presidente promoveu um amplo corte de gastos públicos.
Após tomar posse, em dezembro de 2023, Milei decidiu paralisar obras federais e interromper o repasse de dinheiro para os estados. Foram retirados subsídios às tarifas de água, gás, luz, transporte público e serviços essenciais.
Quando o incentivo foi retirado, houve um aumento expressivo nos preços ao consumidor. Mas, logo no primeiro trimestre deste ano, o presidente conseguiu o primeiro superávit desde 2008. O objetivo de Milei é alcançar o “déficit zero” para o fim de 2024.
Argentinos estão comendo menos carne
A inflação do país também desacelerou, dos 25,5% registrados em dezembro aos 4% calculados em julho. Parte da queda no índice, contudo, também tem sido atribuída à diminuição de potencial de consumo entre os argentinos, além de medidas para redução de impressão de dinheiro.
Argentinos ouvidos pela agência de notícias Reuters destacaram que a queda nas taxas ainda não reflete uma diminuição dos preços de serviços públicos, transporte e de alimentos. E o salário mínimo de 262,4 mil pesos (US$ 278,7) não conseguiu acompanhar a inflação anual de três dígitos.
A consequência é uma intensificação da pobreza no país: são 12,3 milhões dos argentinos abaixo da linha da pobreza (41,7% da população), segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec).
Outro problema está na atividade econômica. Com o ajuste promovido pelo governo, o Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina recuou 5,1% no 1º trimestre em comparação com o mesmo período de 2023.
Fim da euforia?
Conforme mostrou o g1, as medidas de Milei e os primeiros resultados das contas públicas elevaram os ânimos do mercado financeiro. Passados sete meses, no entanto, o fator longo prazo começa a preocupar quem apoiou as medidas de choque do presidente argentino.
O desconforto ficou claro em uma declaração recente do bilionário argentino Paolo Rocca, CEO da Tenaris, fornecedora mundial de tubos para perfuradoras de petróleo. Antes otimista quanto ao ritmo de mudança econômica do país, ele passou a ponderar as expectativas.
“Provavelmente estávamos todos otimistas demais ao pensar que isso [estabilização econômica] poderia ser feito em um prazo mais curto”, disse, durante uma teleconferência de resultados trimestrais.
Apesar do avanço nos resultados fiscais e do processo de compra de dólares no mercado cambial, a Argentina tem mostrado dificuldade em conseguir robustez em suas reservas internacionais — parte importante para a conquista de confiança e a atração de investimentos.
Nesse sentido, um ponto de incômodo do mercado financeiro com Milei é a ordem de prioridades do presidente argentino. A interpretação é que ele tem dado muita atenção ao controle da inflação e deixado em segundo plano ações com foco no longo prazo.
Federico Servideo, diretor-presidente da Câmara de Comércio Argentino Brasileira de São Paulo, afirma que a inflação tem servido como uma âncora econômica para Milei, “mas parece que, cada vez mais, esse se torna um suporte político”.
“O governo, em termos de opinião pública, continua bem avaliado. Isso indica que há uma relação direta, amplamente reconhecida entre os analistas de opinião pública, entre a inflação e o sucesso de Javier Milei. A derrota da inflação é o grande ativo deste governo”, afirma.
Projeções do Banco Mundial, apoio do FMI…
Em relatório publicado em junho, o Banco Mundial mudou suas perspectivas para a economia argentina neste ano.
A instituição passou a prever uma queda de 3,5% para a atividade econômica do país vizinho, uma piora de 0,8 ponto percentual (p.p.) em comparação às estimativas de janeiro, de recuo de 2,7%.
Para 2025, no entanto, as projeções são mais otimistas. A expectativa é que o país volte a se recuperar, “com um crescimento de 5%, à medida que os desequilíbrios econômicos forem resolvidos e a inflação diminuir” no país.
Também no cenário internacional, as medidas de austeridade adotadas por Milei renderam elogios do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em maio, a organização internacional anunciou um acordo que permite o desembolso de quase US$ 800 milhões (R$ 4,1 bilhão).
O FMI destacou o “primeiro superávit fiscal trimestral” em mais de 10 anos, a “rápida queda da inflação, a mudança de tendência das reservas internacionais e uma forte redução do risco soberano”.
Especialista destacam, porém, que o superávit é uma consequência direta da redução dos gastos, e não da elevação das receitas obtidas pelo governo — o que pode não ser sustentável no longo prazo.
O governo Milei segue em seu plano. Em junho, o Senado da Argentina também aprovou um amplo projeto de lei que é chave para os planos de reforma econômica de Milei.
Em termos gerais, a “Lei de Bases” dá poderes especiais ao governo por meio de um decreto de estado de emergência pública, além de propor a privatização de algumas estatais.
Veja mais detalhes no vídeo abaixo.
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