19 de novembro de 2024

Mãe de menina encontrada morta em lixeira já agrediu a filha com colher de metal, diz Polícia Civil

Carla Carolina Abreu Souza bateu na cabeça da filha com escumadeira, aponta investigação. Corpo de Kerollyn Souza Ferreira, de 9 anos, foi achado na última sexta-feira (9). Polícia diz que mãe relatou ter dado remédios à filha
A mãe da menina Kerollyn Souza Ferreira, de 9 anos, encontrada morta em uma lixeira na cidade de Guaíba, Região Metropolitana de Porto Alegre, na sexta-feira (9), já agrediu a filha com uma escumadeira – espécie de colher de metal -, aponta nota da Polícia Civil (leia abaixo na íntegra).
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Neste episódio, Kerollyn chegou a ser levada para o hospital por uma lesão na cabeça, supostamente por consequência de um tombo de bicicleta, que depois a investigação verificou ter sido causada pela mãe, Carla Carolina Abreu Souza, com o objeto.
A mulher está em prisão temporária desde sábado (10). Ela é suspeita de ser responsável pela circunstância que levou à morte da filha (entenda o caso abaixo).
Ainda de acordo com a Polícia Civil, “a menina sofria múltiplas violências”. Depoimentos e documentos apresentados pela polícia indicam que a mulher submetia a filha a intenso sofrimento físico e mental, segundo o Tribunal de Justiça.
A investigação apontou que a menina seria vítima de negligência e extrema agressividade, conforme análise do juiz João Carlos Leal Júnior, caracterizando as práticas de maus-tratos, abandono de incapaz e tortura.
Sedativo sem prescrição médica
Carla disse à Polícia Civil que deu um sedativo sem prescrição médica à menina horas antes dela ser encontrada morta dentro do contêiner de lixo. De acordo com a investigação, a criança teria ingerido 1 grama de clonazepam, além de ter recebido a medicação risperidona (com prescrição).
A investigada afirmou em depoimento que também teria ingerido clonazepam. A mulher relatou à polícia que ela e a filha foram dormir momentos depois. A suspeita disse que acordou por volta de 7h, viu que a menina não estava em casa, tomou mais medicamento e voltou a dormir.
Entenda o caso
Kerollyn Souza Ferreira, de nove anos, encontrada morta em um contêiner de lixo em Guaíba
Reprodução
O corpo de uma criança foi encontrado por um reciclador dentro de um contêiner de lixo em Guaíba, na manhã de sexta-feira (9), de acordo com a Brigada Militar (BM). A vítima foi identificada como Kerollyn Souza Ferreira, de 9 anos.
Não foram encontrados sinais de violência aparentes no corpo da vítima, conforme a perícia. O laudo de necropsia vai atestar a causa da morte.
Vizinhos relataram à reportagem que a menina residia próximo ao local onde foi encontrada sem vida.
Uma vizinha e mãe de um colega de escola de Kerollyn, afirmou, em entrevista à RBS TV na terça-feira (13), ter acionado o Conselho Tutelar “mais de 20 vezes” para falar sobre a situação da criança. Segundo a dona de casa Fernanda Cardoso, Kerollyn pedia carinho e comida aos vizinhos.
Ao menos outros três vizinhos denunciaram o caso ao Conselho Tutelar do município. Segundo eles, a mãe gritava e ofendia Kerollyn frequentemente. Uma das mulheres afirma ter ouvido um pedido de socorro, que seria da menina, ao passar pela frente da residência da família.
Os relatos dão conta de que a criança ainda cuidava de irmãos menores.
Em nota enviada na terça-feira (13), o Conselho Tutelar de Guaíba alega que está “acompanhando e colaborando com as autoridades competentes”, mas que não pode fornecer detalhes adicionais sobre o andamento das investigações (veja abaixo).
O pai da menina disse ter ficado sabendo através de vizinhos que a filha supostamente dormia na rua.
Kerollyn morava com a mãe e os irmãos em Guaíba. Já o pai vive em Santa Catarina. A filha chegou a morar com ele nos primeiros meses de vida e aos sete anos. Contudo, a criança voltou para a casa da mãe.
Matheus Ferreira e a filha Kerollyn, encontrada morta em um contêiner de lixo em Guaíba
Reprodução
A causa da morte de Kerollyn ainda não está esclarecida. O corpo da menina foi submetido a necropsia, e o laudo deverá ser finalizado nos próximos dias.
“A investigação já demonstrou que a menina sofria múltiplas violências; que era negligenciada; que pedia comida na vizinhança e pegava alimentos daquele mesmo contêiner onde foi encontrada; que andava mal agasalhada; estava cheia de piolhos; e era medicada de forma inadequada pela mãe, que dizia que a menina surtava”, sustenta a Polícia Civil.
Nota da Polícia Civil
No dia 09/08/24, por volta das 7h, uma menina de 9 anos foi encontrada em óbito, dentro de um contêiner de lixo, em frente a escola no bairro Santa Rita, em Guaíba.
A investigação já demonstrou que a menina sofria múltiplas violências; que era negligenciada; que pedia comida na vizinhança e pegava alimentos daquele mesmo contêiner onde foi encontrada; que andava mal agasalhada; estava cheia de piolhos; e era medicada de forma inadequada pela mãe, que dizia que a menina surtava. Também se evidenciou que sofria com agressões físicas, já tendo sido levada para o hospital local por uma lesão na cabeça supostamente causada por um tombo de bicicleta, que depois a investigação verificou ter sido causada pela mãe com uma escumadeira.
Da mesma maneira, a vítima apresentava lesões de unhadas no rosto, que haviam sido produzidas pela mãe. A menina já havia sido internada por suposta tentativa de suicídio, mas a mãe evadiu com a criança do hospital antes de ser disponibilizada vaga em ala psiquiátrica.
A causa da morte ainda não está esclarecida, na medida em que o auto de necropsia ainda não foi encaminhado, mas informalmente já se tem a notícia de que o corpo da vítima não apresenta lesões que pudessem ter causado a morte da criança.
A delegacia está em contato direto com os peritos do IGP que atuam no caso, e a perícia agora busca verificar a existência de medicamentos em quantidades que poderiam ter causado o óbito da vítima.
Enquanto isso, a polícia civil tenta reproduzir os últimos passos da vítima, com câmeras de monitoramento e prova testemunhal, para saber se, antes de ser encontrada no contêiner, ela passou em casa. Por enquanto, a última imagem da menina obtida pelos investigadores foi às 19h45min, quando ela passa na direção ao contêiner, que também é em direção a sua casa, com uma vela acesa, pois disse aos vizinhos que precisava procurar uma coisa (acredita-se que estava procurando os esmaltes de sua mãe, que a criança havia perdido).
A investigada afirma que por volta das 21h30 min, a menina estava em casa, tomou medicação (risperidona, com prescrição médica, e um grama de clonasepan, sem prescrição); a mãe também tomou clonazepam; e ambas foram dormir. Contou a investigada que acordou por volta das 7h, viu que a vítima não estava em casa, tomou mais medicamento e voltou a dormir.
A agressora foi acordada por policiais militares, e, depois de dizer que não sabia onde estava a filha, foi informada de que uma menina com características compatíveis estaria morta no lixão, momento em que aduziu que só poderia ter sido uma vizinha (a mesma que tem dado entrevistas falando que já havia acionado o conselho para relatar a negligência da mãe). Chama a atenção da investigação que a vítima foi encontrada descalça, apenas de meia, mas suas botas estavam no contêiner, próximas a seu corpo.
A polícia canaliza esforços para apurar o motivo da morte e sua eventual autoria. Paralelamente a isso, vários profissionais da rede de proteção estão sendo ouvidos, relatórios e prontuários de atendimento estão sendo requisitados, e eventuais falhas dos profissionais que atuam na rede de proteção serão apuradas. Questões ligadas a eventuais falhas relativas a ineficiência de serviços e a utilização de protocolos defasados serão objeto de expediente encaminhado ao MP.
Nota do Conselho Tutelar
Em respeito à transparência que sempre norteia as ações do Conselho Tutelar de Guaíba e cientes do interesse público, esclarecemos que estamos acompanhando e colaborando com as autoridades competentes nas investigações referentes ao caso em questão.
No entanto, em cumprimento às normas legais e ao compromisso de preservar a integridade de todas as partes envolvidas, informamos que, neste momento, não podemos fornecer detalhes adicionais sobre o andamento das investigações. Esta medida é necessária para garantir que os procedimentos legais transcorram de forma justa e imparcial, sem influências externas que possam comprometer a apuração dos fatos.
Salientamos que todas as medidas protetivas cabíveis foram aplicadas. Ainda, que todas as denúncias reportadas pela comunidade foram averiguadas. Reforçamos o Art. 18 do ECA (Lei 8069 de julho de 1990):
Art. 18º. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Reforçamos que repudiamos veementemente todas as formas de manifestação violenta, agressão, intolerância e ódio, seja nas redes sociais ou em qualquer outro meio.
Desde já, agradecemos e ficamos à disposição para maiores esclarecimentos.
Atenciosamente,
Colegiado do Conselho Tutelar de Guaíba
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