Espécie amplamente distribuída pelo Brasil tem raízes no uso tradicional das comunidades caiçaras. Planta pode ser usada também na culinária. Erva-baleeira com início de floração
Jean-Marie Veauvy
Conhecida por suas propriedades medicinais e valor cultural, a erva-baleeira (Varronia curassavica) tem atraído a atenção de pesquisadores e praticantes da medicina tradicional. Esta planta, com rica história no Brasil, é usada em diversas regiões para tratar uma variedade de condições, como artrites, contusões e dores musculares.
A erva-baleeira tem suas raízes na tradição das comunidades caiçaras do Brasil. Estudos etnobotânicos mostram que essas comunidades usaram a planta como cicatrizante e anti-inflamatório.
O nome “erva-baleeira”, inclusive, tem uma origem curiosa. Relatos históricos indicam que o nome foi atribuído por caiçaras de Santa Catarina, que usavam a planta para tratar feridas causadas pela caça às baleias.
Erva-baleeira é amplamente distribuída pelo Brasil, abrangendo desde a Mata Atlântica até regiões da Amazônia, Cerrado e Caatinga
Jean-Marie Veauvy
Geograficamente, a erva-baleeira é amplamente distribuída pelo Brasil, abrangendo desde a Mata Atlântica até regiões da Amazônia, Cerrado e Caatinga. Ela é especialmente encontrada na região costeira, em áreas abertas, pastagens e até terrenos baldios. A espécie ocorre também na América Central e no México.
A erva-baleeira é uma espécie arbustiva pertencente à família das Boraginaceae, que inclui cerca de 200 gêneros e 2.600 espécies. Conhecida por seu rápido crescimento e adaptabilidade a diferentes tipos de solo, pode se desenvolver tanto em sol pleno quanto em sombra.
É uma planta que cresce ereta e ramificada, e pode atingir alturas que variam de 1,5 a 2,5 metros. Suas folhas são simples e alternadas, com uma textura coriácea [superfície firme e resistente, semelhante ao couro] e um aroma característico, medindo entre 5 e 9 centímetros de comprimento. As flores são pequenas e brancas, agrupadas em inflorescências terminais com formato de racemoso, que podem chegar a medir de 10 a 15 centímetros de comprimento
Folhas de erva-baleeira são simples e alternadas, com uma textura coriácea, ou seja, de superfície firme e resistente, semelhante ao couro
Santiago Mailhos/iNaturalist
Pela adaptabilidade a diferentes tipos de solo, a erva-baleeira é muito cultivada em quintais de casas, podendo ser propagada tanto por sementes quanto por estacas de ramos.
O agrônomo Jean-Marie Veauvy explica que a erva-baleeira é uma planta perene, o que significa que ela vive e produz por vários anos.
“Geralmente a colheita pode ser feita cerca de um ano após o plantio. Se você optar por começar a partir de sementes, plante-as em março para melhores resultados. É um processo que pode ser mais demorado e que depende das condições de germinação, mas que pode resultar em maior diversidade genética. De maneira alternativa, é possível propagar a planta a partir de estacas de ramos com cerca de 10 cm de comprimento, plantadas em setembro. Nesse caso, ramos cortados da planta-mãe são usados para produzir novas plantas, um método mais rápido e que garante que sejam geneticamente idênticas”.
Dependendo da região onde se encontra, ela recebe nomes populares como catinga-de-barão, maria-rezadeira, maria-milagrosa e balieira, e o uso da planta também varia significativamente entre as regiões.
Mudas clonadas em fase de enraizamento
Jean-Marie Veauvy
“No Recôncavo Baiano, por exemplo, é conhecida como ‘maria-milagrosa’ e utilizada para aliviar tonturas. Em Arraial do Cabo (RJ), é consumida tanto na alimentação quanto medicinalmente. Já em lugares como o Vale do Paraíba, o chá de suas folhas é usado para tratar diabetes. Há, ainda, locais onde a planta é utilizada em casos de diarreia e hemorroidas, como no Rio Grande do Sul”, diz.
Propriedades terapêuticas
A erva-baleeira possui várias propriedades terapêuticas, incluindo antimicrobiana, anti-inflamatória, antiulcerogênica e antitumoral. Um estudo de 2005 mostrou que extratos presente nas folhas da erva-baleeira pode inibir o edema induzido por peçonha da serpente jararacuçu (Bothrops jararacuçu), destacando seu potencial antiofídico.
Nome da erva-baleeira foi atribuído por caiçaras de Santa Catarina, que usavam a planta para tratar feridas causadas pela caça às baleias
Fabricio Reis Costa/iNaturalist
Na medicina tradicional, a planta é usada em tinturas, chás, pomadas e cataplasmas para tratar inflamações, mialgia, artrites, reumatismos e úlceras estomacais. Na medicina moderna, a erva-baleeira já está presente em medicamentos comercializados em farmácias.
A eficácia da erva-baleeira é respaldada por evidências científicas. Ela está listada em registros oficiais do Ministério da Saúde do Brasil, que destacam sua utilização em fitoterápicos e drogas vegetais.
Formas de uso e contraindicações
Segundo Carolina, a aplicação direta da erva-baleeira na pele requer cuidados. “É possível usar a planta em formas de cremes e géis, mas é importante seguir as contraindicações, como hipersensibilidade e uso durante a gestação e lactação. Os preparos devem ser aplicados somente em pele íntegra e na dosagem recomendada para evitar reações adversas”, explica a botânica.
Crescimento das mudas em bolsas plásticas contendo substrato
Jean-Marie Veauvy
De acordo com o Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira da Anvisa, a erva-baleeira é contraindicada para menores de 18 anos, devido à falta de dados adequados que comprovem a segurança.
A botânica reforça ser de extrema importância seguir as instruções de preparo e dosagem para garantir a segurança e eficácia.
“Para uso interno, a infusão é recomendada com 3g de folhas secas em 150 mL de água fervente, tomada 1 a 3 vezes ao dia. Já para uso externo, tinturas e pomadas podem ser preparadas e aplicadas nas áreas afetadas, segundo a Anvisa”.
A erva-baleeira possui várias propriedades terapêuticas, incluindo antimicrobiana, anti-inflamatória, antiulcerogênica e antitumoral
Júlia Gava Sandrini/iNaturalist
Recomendações de uso externo
Tintura: para aplicação tópica, 3 colheres de folhas em uma xícara de álcool por 5 dias em maceração. Depois de coada, a tintura é aplicada nas partes afetadas com uma porção de algodão, cobrindo com um pano — essa compressa pode ser aplicada à noite, após um banho morno;
Pomada: 10 mL da tintura feita com álcool a 70% e 100g de base de lanolina e vaselina.
A farmacêutica homeopata Áurea Mayumi diz que o uso da erva-baleeira em pets, como cães e gatos, é recomendado.
“Assim como nos seres humanos, nos pets também é indicado nas fadigas de músculos, tendões, articulações e ligamentos. Casos de traumas, contusões, luxações, artrites e dores musculares podem ser resolvidos com pomadas que contêm a tintura da planta”, explica Áurea.
Uso culinário
A erva-baleeira também é uma Planta Alimentícia Não Convencional (PANC), com aroma e sabor que lembram caldo de galinha, podendo ser usada como tempero alternativo.
Essa característica é especialmente interessante para pessoas vegetarianas, oferecendo uma opção saborosa e saudável. Em Florianópolis, por exemplo, a erva é ate chamada de “erva-caldo-Knnor”.
Na medicina tradicional, a erva-baleeira é usada em tinturas, chás, pomadas e cataplasmas para tratar inflamações, mialgia, artrites, reumatismos e úlceras estomacais
Robison Araújo Silva/iNaturalist
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