Amigos registraram o felino durante pescaria; no mesmo dia, à tarde, outra onça melânica também foi vista no rio Cururu (PA). Avistamentos são considerados raríssimos. Rara onça-preta é flagrada predando jacaré em rio da Amazônia
Ver uma onça-preta na natureza é considerado um feito raro. Agora imagine encontrar duas, no mesmo dia. Foi o que aconteceu com um grupo de amigos da região de Campinas, durante uma viagem de pesca na região do rio Cururu, no Pará. As duas onças-pretas foram flagradas na terça-feira (06). Uma delas estava predando um jacaré-açu, por volta das sete horas da manhã, quando os pescadores navegavam e avistaram o animal.
“Estávamos em oito amigos e era apenas o segundo dia. Saímos bem cedinho de barco e logo nosso guia avisou: ‘olha a onça’. Foi surreal, emocionante, demais da conta”, relembra o engenheiro civil Fernando José Motta, que mora em Paulínia, SP.
Ele conta que no final do mesmo dia, voltando da pescaria, avistaram uma segunda onça-preta tomando banho em outro trecho do rio.
Na hora percebemos que era outra onça, porque a primeira que vimos com o jacaré pela manhã era cega do olho esquerdo. Todos ficamos muito felizes, foi um presente maravilhoso da natureza e de Deus para a gente, relembra o engenheiro.
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Raridade
Onças-pretas são onças-pintadas com uma mutação genética chamada de melanismo. O melanismo é uma mutação que eleva a produção de melanina – proteína presente no corpo responsável pela pigmentação preta. Com isso, os indivíduos apresentam cor predominantemente escura na superfície do corpo (seja pele, pelagem ou plumagem) em relação ao padrão de cor típico da espécie”, explica o biólogo e coordenador científico do Onçafari, Eduardo Fragoso.
O fenômeno é resultado de uma condição genética que provoca excesso de pigmentação
Arte/Giulia Bucheroni
Apesar do gene que causa essa alteração de cor ser dominante, poucas onças possuem a coloração escura, tornando raros os avistamentos desses felinos.
“O registro de onças-pretas já é mais raro por si só, ainda mais predando um jacaré na Amazônia, por isso considero essa cena raríssima, eu nunca tinha visto. Geralmente a gente vê essas predações no Pantanal, região com uma densidade maior de jacarés e de onças por quilômetro quadrado, mas por lá nunca teve registro oficinal de onça-preta, apenas da comum”, explica o biólogo Gustavo Figueirôa , que é diretor de comunicação do Instituto SOS Pantanal.
Jacarés são uma das principais presas das onças-pintadas
Fernando José Motta
Ambas as onças-pretas flagradas no rio Cururu são de uma mesma população, segundo Fragoso, mas não necessariamente possuem relação de parentesco. Ele acredita que a onça que predava o jacaré era uma fêmea.
Onças são grandes predadoras de jacarés, sendo este um item bem comum na dieta destes grandes felinos em área próximas aos rios, ou mesmo em açudes, baías
Aventura de pesca
Para chegar até a região, mais precisamente à pousada na cidade de Jacareacanga (PA), o grupo foi de avião até a margem esquerda do rio Teles Pires, em Apiacás, no Mato Grosso. Depois, navegou por mais duas horas e meia, somadas com uma hora e meia de caminhada nas pedras do rio. Por fim, os pescadores esportivos ainda precisaram andar meio quilômetro na floresta, até voltar para navegar novamente por uma hora até o destino final.
“Conseguimos ver uma anta enorme, diversos jacarés, pescamos quase 30 peixes por dia, a maioria tucunarés. Falei para a minha família que eu veria uma onça e consegui. Foi inesquecível para todos nós, elas eram incríveis e até os guias nunca tinham visto nada igual”, diz Motta.
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