Na ação, nove mulheres foram presas. Uma foi solta na audiência de custódia. Elas são parentes de presos e recebiam as cartas durante as visitas. Polícia de SP tenta decifrar cartas apreendidas com parentes de presos
Em São Paulo, a operação da Polícia Civil contra o PCC tenta agora decifrar cartas de criminosos da facção. O material estava com parentes dos presos.
Um pacote reúne 60 cartas apreendidas durante uma operação policial que mirava o núcleo financeiro do PCC. Na ação, nove mulheres foram presas. Uma foi solta na audiência de custódia. Elas são parentes de presos e recebiam as cartas durante as visitas. O material pode trazer pistas importantes para a investigação.
“Esse fluxo de informações acaba sendo direcionado às lideranças. Então, é por isso que o papel dessas mulheres é fundamental na organização, porque todo esse fluxo de informações, sejam as informações que vêm da base da organização até as lideranças e vice-versa, acaba passando pelas mãos dessas mulheres”, afirma Fabrício Intelizano, delegado de Polícia Titular da DISE de Mogi das Cruzes.
Essa é a segunda vez que os policiais apreendem cartas com mulheres de detentos. A primeira vez foi em 2023, no início da operação, quando Fabiana Manzini foi presa. Ela é mulher de Anderson Manzini, preso desde 2002 e que, segundo a polícia, é um dos chefes do PCC. Um dos objetivos dessa nova fase da operação é cortar esse sistema de comunicação dos presidiários.
Segundo as investigações, as cartas eram enviadas por mensagens de celular. Uma delas diz: “Seu amigo mandou uma cartinha para você”. A pessoa responde: “Pode mandar a carta sim, na foto”.
Os investigadores transcreveram parte das cartas. Eles dizem que, em um trecho, Anderson Manzini explica o sistema de comunicação com os comparsas: “Se tivesse um telefone, resolvia tudo rápido”, e conta que demorou para mandar o recado porque não houve visita na penitenciária.
Em outra carta, segundo os investigadores, Anderson fala da venda de drogas de forma disfarçada. Ao escrever que vai “arrumar um material” e “voltar a andar”, o criminoso quer dizer que vai conseguir drogas e vender para ganhar dinheiro.
Operação da Polícia Civil contra o PCC tenta decifrar cartas de membros da facção
Reprodução/TV Globo
As mulheres também passavam recados em conversas por aplicativos de celular e, segundo a polícia, operavam o tráfico fora da cadeia.
Em uma mensagem encontrada no celular de Fabiana Manzini, ela usa o símbolo de um peixe. Segundo os investigadores, é uma forma de se referir à pasta base de cocaína. Em outra mensagem de áudio, uma das mulheres fala abertamente sobre drogas:
“O crack foi banido, não existe mais, é o óleo puro, e a comercial não existe mais”.
Operação da Polícia Civil contra o PCC tenta decifrar cartas de membros da facção
Reprodução/TV Globo
Os policiais dizem que “óleo” é a matéria-prima do crack.
“A partir do momento em que elas se colocam nessa situação de colaborar, de transmitir mensagens de interesse da organização criminosa, do PCC, elas acabam respondendo pelo mesmo crime que os integrantes do PCC respondem. Porque elas acabam, com isso, participando do dia a dia da organização criminosa”.
Operação da Polícia Civil contra o PCC tenta decifrar cartas de membros da facção
Reprodução/TV Globo
A Secretaria da Administração Penitenciária de São Paulo informou que os presídios contam com aparatos de segurança para fazer revistas e impedir a entrada de ilícitos. E que, quando há atitude suspeita do visitante na saída, os funcionários podem submeter a pessoa a uma nova revista.
A advogada de Fabiana Manzini declarou que ela não foi intimada nessa fase da investigação. O Jornal Nacional não conseguiu contato com a defesa de Anderson Manzini.
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