Presidente brasileiro diz que Europa e EUA foram ‘precipitados’ no julgamento político e criticou apoio a Guaidó em anos anteriores. Brasil ainda não reconheceu resultado da eleição venezuelana. Lula concede entrevista à Rádio Gaúcha, em 16 de agosto de 2024
Jonathan Heckler/Agência RBS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (16) que não vê o atual governo Nicolás Maduro na Venezuela como uma ditadura.
Segundo Lula, o país vizinho vive um “regime muito desagradável” e tem um governo com “viés autoritário”.
“Eu acho que a Venezuela vive um regime muito desagradável. Não acho que é ditadura, é diferente de uma ditadura. É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como a gente conhece tantas nesse mundo”, disse Lula em entrevista à Rádio Gaúcha.
“A Venezuela é um país interessante para o Brasil. É um país que tem quilômetros de fronteira com o Brasil, que o Brasil chegou a ter quase R$ 5 bilhões de superávit comercial, que pode ser um grande parceiro do Brasil”, contemporizou o presidente.
Ainda sobre a situação política, Lula disse que a Venezuela, hoje comandada por Maduro, chegou a tentar impedir que o Brasil enviasse o ex-chanceler Celso Amorim – atual assessor internacional de Lula – para acompanhar as eleições presidenciais realizadas no fim de julho.
O resultado da votação ainda não foi reconhecido pelo Brasil e pela maioria dos países.
Os órgãos oficiais, subordinados a Maduro, afirmam que o presidente foi reeleito. A oposição, por sua vez, diz que o candidato Edmundo González recebeu mais de 60%.
O Brasil e outros países cobram a divulgação da íntegra dos “dados desagregados”, ou seja, da votação em cada urna e em cada local. Até o momento, esses dados não apareceram.
“Quando o Celso Amorim ia viajar para a Venezuela, eu fui informado que eles tinham pedido para o Celso Amorim não ir. Eu mandei comunicar que se o Celso Amorim não pudesse ir, eu comunicaria à imprensa que a Venezuela estava impedindo. Aí, deixaram o Celso Amorim ir”, disse Lula.
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Mundo não ‘agiu corretamente’ com Venezuela, diz Lula
Ainda sobre o tema, Lula afirmou na entrevista à Rádio Gaúcha que acredita que o “mundo chamado democrático” – União Europeia e Estados Unidos, segundo o presidente – não agiu corretamente com a Venezuela nos últimos anos.
Como exemplo, Lula citou o apoio internacional ao então autoproclamado presidente venezuelano Juan Guaidó – que chegou a contestar a liderança de Maduro no país por alguns anos, entre 2019 e 2021.
“Eles elegeram um tal de Guaidó para ser presidente da Venezuela. A reserva de ouro que a Venezuela tinha na Inglaterra, de 31 toneladas de ouro, foi dada sob a guarda desse Guaidó. Ele não era presidente”, disse Lula.
“Eu acho que houve uma precipitação na punição e no julgamento das coisas. […] Na hora do julgamento político, eles foram precipitados. Eu disse pro [Emmanuel] Macron, disse pro Olaf Scholz, vocês não poderiam de pronto já condenar o cara. Vamos abrir um diálogo, tentar conversar”, disse Lula.
“Fico torcendo para que a Venezuela tenha um processo de reconhecimento internacional que depende unica e exclusivamente do comportamento da Venezuela. A oposição sabe disso, e o Maduro sabe disso.”