18 de novembro de 2024

MIRADA destaca artes cênicas ibero-americanas com 33 peças de 10 países

A 7ª edição do festival, realizado pelo Sesc SP na baixada santista e região, homenageia o Peru e reúne espetáculos e atividades que refletem sobre aspectos sociais e políticos Espetáculo El Teatro Es un Sueño (PER)
Ramiro Contreras
Em sua 7ª edição, o MIRADA – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas leva para o Sesc Santos e outros locais da região da baixada santista a diversidade da produção cênica contemporânea de países da América Latina, da Espanha e de Portugal.
De 5 a 15 de setembro, o festival, realizado bienalmente pelo Sesc São Paulo, reúne 33 espetáculos de múltiplas linguagens em teatro, dança e performance. Também integram a programação ações formativas, shows, instalação interativa e encontro com programadores e diretores de festivais de artes cênicas nacionais e internacionais.
As peças, muitas delas vistas pela primeira vez por aqui, abordam assuntos relevantes para a atualidade, como as relações com a natureza e questões indígenas e decoloniais, provocando reflexões sobre violências, gênero e identidades, migrações e deslocamentos, relações de poder e diversidade de corpos.
Os ingressos estão disponíveis no portal sescsp.org.br/mirada, no aplicativo Credencial Sesc SP, na Central de Relacionamento Digital (centralrelacionamento.sescsp.org.br) e nas bilheterias das unidades. No Sesc Santos, a compra pode ser feita de terça a sexta, das 9h às 21h30, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30. Entradas de R$10 (credencial plena), R$20 (meia) e R$40 (inteira).
Obras Peruanas
Neste ano, o MIRADA tem o Peru como país homenageado. Os oito espetáculos escolhidos refletem a pluralidade do país e colocam em cena aspectos de sua identidade e de sua história, abordando, por exemplo, as crises políticas e sociais recentes.
A abertura traz as peças El Teatro Es un Sueño, do grupo Yuyachkani, e Esperanza, de Marisol Palacios e Aldo Miyashiro. A primeira homenageia o teatro, criando um momento de fantasia em que vida cotidiana, encenação e música ao vivo se mesclam. Já a segunda reconta o conturbado momento que viveu o Peru nos anos 1980 pela história de uma família de classe média.
Esperanza (PER)
Paola Vera
Dois trabalhos com texto e direção de Mariana de Althaus também integram a programação. Quemar el Bosque Contigo Adentro reflete sobre as violências de gênero a partir de um universo simbólico, que entrelaça natureza e relações sociais, enquanto La Vida en Otros Planetas, produção do ICPNA Cultural, traça um panorama da educação pública no Peru pelos olhos de um grupo de professores e alunos.
Há, ainda, espetáculos que costuram narrativas pessoais e ciclos de violência históricas, caso do inédito EL RINCÓN DE LOS MUERTOS, com direção de Yanira Dávila e Sebastián Rubio e atuação de Ricardo Bromley. Outros se debruçam sobre questões das mulheres, como Mama Angélica, do grupo Antares Teatro, e ¿Dónde Están las Feministas? Conferencia Performática de una Falsa Activista, de Liliana Albornoz Muñoz, além de trabalhos que abordam a corrupção e o abuso de poder, caso de El Presidente Más Feliz, da coreógrafa Cristina Velarde.
A música peruana também ganha destaque em apresentações como AYACÁN, show performativo do peruano Pável Paniagua, MedioAmor/MedioMiedo, mescla de espetáculo teatral e musical do cantor e compositor trans Eme, e o show do grupo Los Mirlos, considerado um dos precursores da cúmbia amazônica, que funde os sons tradicionais do gênero a elementos da música psicodélica. A programação faz parte do Ponto de Encontro, agenda noturna de fruição artística do festival, pensada para celebrar a diversidade e convidar à troca de ideias.
Programação de espetáculos
Além dos trabalhos peruanos, compõem a seleção de espetáculos 12 obras vindas da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Espanha, México, Portugal e Uruguai, e mais 13 peças nacionais dos estados de Amazonas, Ceará, Minas Gerais, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo.
G.O.L.P. (POR-CHI)
João Otávio Peixoto
Com texto e direção de Paul B. Preciado, o trabalho espanhol Yo Soy el Monstruo que os Habla recria uma fala do autor para psicanalistas em que denuncia a violência a corpos dissidentes e convida o grupo a abrir-se às mutações de gênero. Do Uruguai, seguindo o caminho da autoficção, Sergio Blanco faz uma homenagem à memória de sua mãe em Tierra, seu mais recente espetáculo.
Há, ainda, coproduções entre os países, como G.O.L.P., em que o português Teatro Experimental do Porto e o chileno Teatro La María repetem a parceria, que antes deu origem a Estreito/Estrecho, apresentado no MIRADA de 2022. Agora, com tons de absurdo, refletem sobre regimes sociais e relações coloniais.
Nesta edição do MIRADA, também ganham destaque obras site-specific, nas quais os locais se conectam com as criações, assim como peças apresentadas na rua e em espaços públicos. É o caso de A Velocidade da Luz. Resultado de uma residência de quatro semanas com pessoas idosas da região de Santos, o espetáculo do diretor argentino Marco Canale, ocupa diversos espaços do Centro Histórico, entrelaçando histórias reais e uma trama fictícia.
Em Vila Socó, o Coletivo 302 percorre ruas e memórias da Vila São José, em Cubatão, para contar a história do incêndio ocorrido há 40 anos na Vila Socó, antigo bairro operário da cidade, que se tornou uma das maiores tragédias industriais do país. O trabalho, que faz sua estreia no MIRADA, encerra a trilogia Zanzalá, da qual também faz parte Vila Parisi, obra presente na edição de 2022 do festival e vencedora do Prêmio Shell 2023.
Outros dois espetáculos nacionais também são apresentados pela primeira vez. Em MONGA, Jéssica Teixeira tem o corpo como principal matéria-prima de investigação cênica e evoca a história da mexicana Julia Pastrana, vulgarmente chamada de “mulher macaco”. Continuando sua pesquisa Dança-Quebrada, baseada na capoeira e no breaking, o Original Bomber Crew, do Piauí, apresenta VAPOR, ocupação infiltrável, uma dança não simétrica, que surge de gestos cotidianos e corpos diversos.
Para crianças e jovens
Pensada para crianças a partir de seis anos, a peça O Estado do Mundo (Quando Acordas), do grupo português Formiga Atómica, questiona até que ponto os objetos cotidianos podem ser responsáveis por catástrofes naturais. Para o público infantojuvenil, De Mãos Dadas com Minha Irmã, da Cia Os Crespos, de São Paulo, se inspira em contos e ritmos afro-brasileiros, mesclando técnicas e linguagens variadas para narrar a trajetória de uma heroína negra.
O Estado do Mundo (Quando Acordas) (POR)
Guilherme Martins
Atividades formativas e instalação
Em diálogo com as obras apresentadas durante o MIRADA, a programação de atividades formativas busca fomentar o pensamento crítico por meio de atividades de mediação, troca de conhecimento e reflexão. São oficinas, rodas de conversa, entrevistas públicas, laboratórios, compartilhamento de práticas, lançamento de livro e abertura de processo.
As atividades têm o intuito de transbordar a experiência das artes cênicas para outros públicos e territórios da cidade, expandir a fruição e incentivar a participação de grupos sociais diversos, sempre em convivência com artistas, pensadores e fazedores de múltiplas linguagens.
Instalação Florestania
Joy Ballard
Há, também, na área de convivência do Sesc Santos, a instalação Florestania. Criada pela artista Eliana Monteiro, a obra sinestésica convida o público a deitar-se em redes, feitas por mulheres indígenas da Amazônia, para ouvir sons da floresta e romper com a lógica urbana. O trabalho, cuja primeira versão foi apresentada na 15ª Quadrienal de Praga, baseia-se no conceito de “florestania” cunhado pelo cronista Antônio Alves.
MIRADA – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas
De 05 a 15 de setembro
Consulte a programação completa no portal sescsp.org.br/mirada e nas redes sociais do Sesc Santos e do Sesc São Paulo.

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