Lucas Amaral, de 22 anos, sofreu acidente no final do mês de julho. Ele caiu de motocicleta após pneu furar e bateu a cabeça em cima de válvula que ele tinha instalada no veículo. Lucas Amaral sofreu acidente e bateu a cabeça em cima da válvula que tem na cabeça
Arquivo pessoal
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Após sofrer um acidente de motocicleta no km 17 da BR-317, em Brasiléia, distante 235 km de Rio Branco, a família de Lucas Amaral, de 22 anos, acusa o pronto-socorro da capital de negligência no atendimento ao jovem. Ele morreu por volta das 4h da última sexta-feira (16), depois de ficar 20 dias internado. Em nota, a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) disse que ele ‘recebeu todos os cuidados da equipe multiprofissional’ (veja na íntegra abaixo).
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Lucas estava pilotando a moto em direção a uma chácara, quando o pneu da moto esvaziou, fazendo com que o rapaz caísse e batesse a cabeça na região onde tinha uma válvula instalada. O acidente ocorreu no dia 27 de julho.
Ao g1, Ana Gomes, namorada do jovem, Lucas estava lutando pela vida e todos da família viam a evolução dele. Ela diz que na última quinta-feira (15), ele teve uma alteração e aplicaram o remédio Diazepam para acalmá-lo.
Mesmo após essa situação, por volta das 16h, não o avaliaram e decidiram retirá-lo da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e movê-lo para um isolamento da enfermaria, onde não havia monitor para ver os sinais vitais dele.
“Ele estava como se tivesse tomado um banho, estava tendo muita contração muscular, molhado de suor. Ele não estava sendo bem cuidado. O pai dele está muito indignado porque o médico só veio aparecer depois que ele tinha falecido. Não tinha nem sequer um ventilador para ele respirar, porque ele ainda dependia, por mais que ele respirasse sozinho, ele precisava de uma ajuda”, explica ela.
No momento da morte de Lucas, o pai o acompanhava, porém Raimundo Rodrigues disse não ter condições de falar sobre o assunto e pediu para que a nora contasse sobre o ocorrido. Segundo o relato do pai dele, os enfermeiros e médicos largaram o rapaz e não se importaram em como ele estaria.
“Não vou falar que foi de propósito, mas parece que queriam que ele fosse a óbito. Como é que vão mandar um paciente gravíssimo pra uma sala que não tem sequer um monitor?”, questiona Ana.
A namorada afirma que também percebeu a negligência quando foi visitar o namorado, e que a família está indignada, principalmente o pai de Lucas, que é enfermeiro, e por diversas vezes tentou questionar os médicos e enfermeiros sobre as condições em que o filho se encontrava.
“Ele falava para os médicos e falava com os outros enfermeiros e eles diziam: ‘não, isso é normal pro quadro dele’, mas o pai dele sabia que isso não era normal, porque ele já havia atendido pacientes. Ele corria, ia atrás de um médico, ia atrás de outro e não conseguia nada. Segundo o pai dele, [Lucas] faleceu as 4 horas da manhã e ele estava com o filho, ele que notou que o filho tinha falecido, ao olhar os sinais dele e a pulsação”, declara.
Namorada mostra de momento de descontração com Lucas
Ainda de acordo com Ana, o médico só teria aparecido depois da morte do rapaz e o pai disse que não tinha mais nada a ser feito.
“O médico só foi chegar bem depois, por volta das 6 horas da manhã, cerca de duas horas depois que ele morreu. Segundo o pai dele, o médico ainda tentou fazer os primeiros procedimentos, mas ele falou: ‘não adianta, meu filho já está morto. Não adianta vir dar o show de vocês e dizer que tentaram, sendo que vocês nem estavam aqui quando ele faleceu’. A gente via muita negligência ali naquele hospital. Na quarta ele ainda estava sedado, ele já estava reagindo bem”, esclarece a namorada.
Emocionada, Ana menciona que a mãe de Lucas é médica e pedia para que a jovem ajudasse a avaliá-lo e antes da transferência, ele estava reagindo aos estímulos feitos por ela durante as visitas. “Ela [a mãe de Lucas] me pedia para abrir a pálpebra do olho dele para avaliar e ele olhava pra onde eu estava, segurava minha mão, eu pedia pra ele fazer algum sinal e ele fazia legal, estalava o dedo. A gente sempre movimentava ele para ele não atrofiar”, conta.
Processo judicial
O jovem foi enterrado no último sábado (17), e apesar de o pai não conseguir ter reações contra o hospital, mesmo acreditando em negligência, Ana assegura que as tias de Lucas irão fazer um boletim de ocorrência para que o descuido alegado pela família seja investigado. “No momento, ele [o pai] não está conseguindo tomar nenhuma medida contra o hospital, quem está correndo atrás são as tias dele, os outros familiares vão fazer o B.O”, complementa.
A namorada conta que eles moravam juntos há três anos e que ele era o amor de todos da família.
“Ele era um filho, ele era um sobrinho, ele era o amor da família, um menino alegre, cheio de luz. Nós morávamos juntos há 3 anos e ele tinha um cachorrinho que ele chamava de filho. Eles fizeram isso com ele”, ressalta ela.
Em nota, publicada neste sábado pela Sesacre, ‘todos os esforços possíveis foram realizados para garantir o melhor atendimento ao paciente’. O órgão disse ainda que manteve contato com o pai para atualizar o quadro clínico de Lucas.
“Após apresentar estabilidade, o paciente teve alta programada da UTI e foi transferido para um leito de enfermaria. No entanto, infelizmente, o jovem sofreu parada cardiorrespiratória, e mesmo com todos os esforços da equipe, não resistiu”, complementou.
Ana Gomes, é namorada de Lucas, que morreu no último dia 16 de agosto em Rio Branco após 20 dias internado
Arquivo pessoal
Nota da Sesacre
“O governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), vem a público esclarecer os fatos relacionados ao falecimento do jovem no Pronto-Socorro de Rio Branco, após sofrer um grave acidente de trânsito no município de Brasileia.
Desde o momento do acidente, todos os esforços possíveis foram realizados para garantir o melhor atendimento ao paciente. O jovem foi prontamente assistido no município de Brasileia e, devido à gravidade do caso, a Secretaria de Estado de Saúde providenciou o resgate aéreo por meio de helicóptero, transportando-o com agilidade para a emergência do Pronto-Socorro de Rio Branco.
Ao chegar na unidade, foram realizados todos os exames necessários e a avaliação imediata com o neurocirurgião, que indicou a necessidade de uma craniotomia de emergência, cirurgia essencial dada a natureza de suas lesões. Após o procedimento cirúrgico , o paciente foi encaminhado para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), onde recebeu todos os cuidados da equipe multiprofissional.
Após apresentar estabilidade, o paciente teve alta programada da UTI e foi transferido para um leito de enfermaria. No entanto, infelizmente, o jovem sofreu parada cardiorrespiratória, e mesmo com todos os esforços da equipe, não resistiu.
Durante todo o período de internação, a equipe multiprofissional manteve contato contínuo com o pai do paciente, que acompanhou todo o tratamento, fornecendo o suporte necessário e atualizando-o sobre o estado de saúde de seu filho.
A Secretaria de Estado de Saúde lamenta profundamente o ocorrido e reafirma seu compromisso em prestar o melhor atendimento possível a todos os cidadãos. Nossos pensamentos estão com a família e amigos neste momento de dor.
Andréa Santos Pelatti
Secretária de Estado de Saúde em exercício.”
VÍDEOS: g1