Anderson Melo publicou vídeos em que é possível ouvir as ofensas. Jogador de vôlei de praia denuncia ataques homofóbicos durante partida no Recife
Um jogador carioca denunciou ter sido denunciou ter sido alvo de xingamentos homofóbicos e até ameaça de estupro durante a etapa de Recife do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, na quinta-feira (14). Anderson Melo, de 32 anos, publicou vídeos no Instagram em que é possível ouvir ofensas (veja vídeo acima). Ele contou que registrou um boletim de ocorrência sobre o caso.
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Neste domingo (17), Anderson contou ao g1 que, durante o jogo, ouviu inúmeros insultos homofóbicos, mas, ao receber vídeos, se surpreendeu ao ver que as ofensas aconteceram durante todo o primeiro set da partida e, também, em partes do segundo set.
“Quando começou o jogo eu já escutei os primeiros gritos de ofensas. Acho que todo atleta foca no jogo e tenta esquecer a torcida, mas os gritos foram aumentando, me insultando cada vez mais, e isso foi me destruindo por dentro. Tentei vencer aquele jogo, mas eu estava sendo vencido pela torcida”, afirmou o jogador.
Algumas das falas ditas foram “bicha”, “usa calcinha ou não usa?”, “pode jogar o cabelo, juiz?”, “saca na bicha” e “na cara da bicha”. Anderson disse, também, que, ainda no primeiro set do jogo, teve noção de que estava sendo vítima de um crime — o de homofobia.
Ele, que disse nunca ter passado por uma situação parecida em mais de 20 anos de profissão, chegou a chamar autoridades presentes na partida, e elas afirmaram que iriam chegar perto do local de onde vinham os gritos para tentar identificar os autores.
“Depois, me falaram que não conseguiram identificar, mas a gente vê no vídeo que não era baixinho, não eram dois ou três [homens gritando]. Eram umas dez pessoas. Também me chamaram de sereia, bailarina, pintosa, mancha, menina e mulher. Um homem que disse que, se eu errasse um passe, ele iria me estuprar a noite toda”, disse.
Na publicação no Instagram, Anderson recebeu apoio de figuras como a cantora Anitta; a ministra da Igualdade Racial do Brasil, Anielle Franco; a jogadora de vôlei Jaqueline Carvalho; a ex-jogadora de vôlei e comentarista esportiva Fabiana Alvim; o senador Fabiano Contarato (PT-ES); e o produtor Mauro Sousa.
Ofensas feitas ao jogador de vôlei de praia Anderson Melo em partida do nacional no Recife
Reprodução/Instagram
O jogador chegou ao Recife na terça-feira (12) e, na quinta-feira (14), teve três jogos. A última partida foi por volta das 20h. Ele disse que, em todas elas, estava abalado por causa das ofensas.
“Eu joguei abalado, estava destruído. Fui embora dali sem tomar banho, cheio de areia, imundo. Eu só queria chegar no hotel, tomar banho e descansar. Publiquei seis vídeos, mas eu tenho mais de 20 com as ofensas. Tentei registrar boletim de ocorrência pela internet, mas era muito complicado, mesmo procurando instruções no Google. Acho que, num crime de homofobia, deveria ser explícito [a forma de denunciar]”, declarou.
Na sexta-feira (15), Anderson Melo voltou para o Rio de Janeiro. Lá, ele prestou queixa na 16ª Delegacia da cidade.
“Eu decidi e fui muito encorajado a expor o caso nas redes porque, infelizmente, vivemos num dos países que mais matam homossexuais. Independentemente de você ser atleta ou não, não importa o ambiente. Aquele absurdo não pode mais acontecer. Acho importante para que futuras vítimas saibam que não estão sozinhas”, afirmou.
Questionada pelo g1, a Polícia Civil de Pernambuco afirmou, em nota, que, como a ocorrência foi registrada no Rio de Janeiro, é necessário o encaminhamento do procedimento para que a investigação seja iniciada.
Sobre a dificuldade em registrar o boletim na internet, a polícia afirmou que “o processo é autoexplicativo e centenas de boletins de ocorrência são registrados diariamente pelo modo virtual, sendo, na sequência, encaminhados para as delegacias responsáveis”.
Confederação Brasileira de Voleibol
A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), responsável pela partida, disse que pretende encaminhar o caso ao Ministério Público, e afirmou que lamenta e repudia veementemente os ataques homofóbicos.
A CBV publicou a seguinte nota:
“A CBV apurou os fatos, reviu as imagens da partida, conversou com a arbitragem e reuniu todas as informações necessárias para, neste sábado, protocolar um boletim de ocorrência em uma delegacia de Recife. O caso também será encaminhado ao Ministério Público local e a CBV acompanhará todos os desdobramentos.
Desde sexta-feira, a mensagem abaixo é veiculada antes de cada partida da quadra central.
‘Atenção, torcedores! Racismo, homofobia e outros atos discriminatórios são crime, e não podem fazer parte dos eventos do voleibol brasileiro. Manifestações como as ocorridas nas quadras externas não podem se repetir. Esporte é diversidade, tolerância, respeito e inclusão! E respeito é um dos maiores valores que o esporte ensina! Vamos torcer com paixão! O voleibol por um mundo sem preconceito e discriminação!’
A CBV lamenta que Anderson Melo tenha sofrido essa violência e está prestando todo o auxílio ao atleta. A CBV reforça que não admite qualquer tipo de preconceito, entende que o esporte é uma ferramenta para propagação de valores como respeito, tolerância e igualdade; e agirá sempre para coibir qualquer manifestação discriminatória em seus eventos.”
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