18 de novembro de 2024

Ilhas privadas viram novo filão da indústria do turismo

Em tempos de turismo de massa e destinos cada vez mais lotados, setor mira em oportunidade para lucrar mais em ambientes afastados de comunidades locais. Praia da ilha privada de Richard Branson
Divulgação/Necker Island
É verão no Hemisfério Norte e o turismo está a todo vapor. Mas a economia das viagens também tem seu lado ruim, com moradores em diversos destinos famosos reclamando dos visitantes.
Houve protestos contra o turismo excessivo em cidades na Espanha e na ilha de Maiorca. Veneza há muito tempo tornou-se quase intransitável por causa do turismo de cruzeiros e, por causa disso, introduziu recentemente a cobrança de ingresso para visitantes excursionistas. Lisboa, Praga e Amsterdã viram as tensões entre turistas e locais aumentarem.
Algumas empresas acham que podem ter uma resposta para o problema.
Ilhas privadas em alta
Vendas de pacotes para ilhas privadas dispararam desde a pandemia de Covid-19, segundo Chris Krolow, fundador e CEO da Private Islands Inc., uma empresa canadense de venda e aluguel de ilhas. Entre as regiões mais procuradas estão o Caribe a América Central, especialmente países como Belize e Bahamas.
Krolow, famoso na Alemanha pelo programa Island Hunters (Caçadores de Ilhas), do canal fechado HGTV, é um dos grandes empresários do setor. A empresa dele tem cerca de 600 ilhas à venda, com preços que variam entre 26 mil dólares (R$ 142,3 mil) para um único lote em Long Caye, Belize, e 160 milhões de dólares (R$ 875,6 milhões) pela ilha de Rangyai, na Tailândia.
Com mais de 25 anos de experiência no ramo, Krolow avisa que compradores precisam pensar nos custos de manutenção de uma ilha, que podem incluir “suprimentos, obras, funcionários e transporte da e para a ilha”.
Empresas do ramo de viagens estão interessadas
Pessoas privadas não são as únicas interessadas em comprar uma ilha. Segundo Krolow, empresas endinheiradas também têm feito aquisições.
Empresas de cruzeiro, redes de hotéis e outros negócios do ramo estão se jogando nos destinos privados, em uma estratégia que os beneficia duplamente: além de agradar aos turistas com locais mais exclusivos, os dólares que eles gastam vão parar todos em um mesmo bolso.
Com isso, as empresas assumem o controle de toda a experiência de viagem e também da qualidade dela, seja uma excursão, uma parada no meio de um cruzeiro ou uma estadia de algumas noites ou semanas.
A Norwegian Cruise Line tem duas ilhas privadas no Caribe: Great Stirrup Cay, nas Bahamas, e Harvest Caye, em Belize. A primeira foi adquirida ainda em 1977 pela empresa de cruzeiros. Viajantes podem relaxar na praia e praticar esportes aquáticos, além de se hospedar em um resort à beira-mar. A outra ilha, Harvest Caye, foi inaugurada em 2016 em parceria com o governo de Belize.
A Royal Caribbean também tem uma ilha própria nos Bahamas desde a década de 1980: a CocoCay, que recentemente recebeu investimentos de 250 milhões de dólares (R$ 1,37 bilhão). A empresa também tem um resort privado no Haiti e planeja abrir um segundo em Vanuatu, no Oceano Pacífico. Os destinos privados recebem, segundo a Royal Caribbean, cerca de 2 milhões de pessoas por ano.
Só em resorts e ilhas no Caribe, cruzeiros investiram ao menos 1,5 bilhão de dólares (R$ 8,21 bilhões) desde 2019, segundo a agência de notícias Bloomberg. Hoje, essas empresas administram ao menos 15 ilhas e praias em uma área total de 21 quilômetros quadrados nas Bahamas, em Belize, na República Dominicana, no Haiti e no México.
Destinos de luxo exclusivos
A nova iorquina Fischer Travel, outra empresa do ramo, também afirma ter visto um crescimento na demanda por férias em ilhas privadas nos últimos anos.
“Quando se trata de ilhas privadas, a tendência sempre foi a mesma: se reunir com as pessoas que você escolheu no ambiente mais luxuoso e exclusivo”, afirma Stacy Fischer-Rosenthal, presidente da empresa. “A demanda aumentou e ilhas privadas estão sendo cada vez mais procuradas ao longo do ano”, diz.
Clientes da Fischer Travel pagam uma taxa inicial de 150 mil dólares (R$ 820,9 mil), mais 25 mil dólares por ano (R$ 136,8 mil), além das despesas para organização e realização de qualquer viagem. Para esses clientes ultrarricos, o céu é o limite; eles querem ter o que outros não podem ter ou bancar.
“Para ilhas privadas, o Caribe é muito popular, inclusive as Ilhas Virgens Britânicas e as Bahamas”, lista Fischer-Rosenthal. “O Caribe também é fácil de acessar, principalmente saindo de Nova York e para os que têm jatos privados, o que torna fácil reservar uma ilha inteira só para um fim de semana prolongado.”
Administrar uma ilha dá muito trabalho
Ter uma ilha não é só glamour. Muitas ilhas privadas não estão no Caribe ou em outros lugares ensolarados; há várias opções no norte da Escócia e na Noruega, por exemplo.
Além disso, muitos serviços como infraestrutura para água, remoção de resíduos ou eletricidade, além de alimentos, encomendas ou cuidados médicos de emergência, tornam a vida em uma ilha cara e complicada.
E quase todas as ilhas do mundo são reivindicadas por um país. Várias dessas nações restringem a compra de propriedades por estrangeiros. Outras sequer permitem a compra direta de terras.
Sem falar na burocracia. Leis nacionais e regulamentos locais se aplicam a esses lugares, mesmo que o continente pareça distante: isso pode valer para licenças de construção, proteção da natureza, regras trabalhistas e muitos outros assuntos.
Se ilhas privadas realmente aliviarão destinos turísticos muito afetados como Barcelona ou Veneza, ou apenas aumentarão o fluxo global de turistas, isso ainda não se sabe. Certo é que o turismo global parece se recuperar com força total.
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