17 de novembro de 2024

Associação das Galerias de Arte do Brasil não reconhece laudo de autenticidade de obra de Tarsila do Amaral revelado por parte da família da artista

Quadro foi apresentado por uma parte da família de Tarsila do Amaral, que hoje administra os direitos autorais da obra dela, como uma tela autêntica e até então desconhecida da artista. Associação das Galerias de Arte do Brasil não reconhece autenticidade da obra de Tarsila do Amaral
A Associação das Galerias de Arte do Brasil afirmou nesta terça-feira (20) que não reconhece o laudo de autenticidade da obra de Tarsila do Amaral revelado na segunda-feira (19) por uma parte da família da artista.
Um quadro que surpreendeu muita gente. Apresentado por uma parte da família de Tarsila do Amaral, que hoje administra os direitos autorais da obra dela, como uma tela autêntica e até então desconhecida da artista. A obra foi mostrada nesta segunda-feira (19) no Jornal Nacional.
Nesta terça-feira (20), a Associação das Galerias de Arte do Brasil divulgou um comunicado dizendo que não reconhece a certificação da obra. O texto, assinado por 15 galerias, diz que a câmara técnica não reconhece e não acata nenhuma conclusão em processos de certificação de autenticidade e autoria de obras atribuídas a Tarsila do Amaral que não tenham participação direta de Aracy Amaral, Vera D’Horta, Regina Teixeira de Barros, Maria Izabel Branco Ribeiro e Tarsilinha do Amaral – que formaram a equipe que realizou a ampla e detalhada pesquisa que resultou na publicação do catálogo Raisonné da artista em 2008.
Quadro de Tarsila do Amaral é revelado quase 100 anos depois de ser produzido
Raisonné é o nome dado ao catálogo de referência que compila todas as obras conhecidas e verdadeiras de um artista. E as especialistas citadas na nota e que fizeram o catálogo são consideradas as maiores autoridades na obra de Tarsila. Uma delas, leva o nome da tia-avó, Tarsila do Amaral. É conhecida como Tarsilinha e é uma das herdeiras do espólio da artista. Ela explicou nesta terça-feira (20) por que o processo de certificação não pode ser considerado completo.
“Justamente, o processo não está completo, na minha opinião. Uma autenticação de uma obra vai muito além de uma perícia. A perícia é um instrumento quando nesse processo existe alguma dúvida. No catálogo Raisonné da Tarsila, nós tínhamos a comissão que avaliava as obras, uma comissão de experts. Então, essa comissão conhece a obra dela como ninguém. Então, a partir desse conhecimento – claro, o histórico da obra também é importante -, mas a partir desse conhecimento técnico sobre a obra dela tão apurado, a maioria das coisas eram resolvidas muito facilmente, nem precisando da perícia”, afirma Tarsila do Amaral, sobrinha-neta de Tarsila.
O perito Douglas Quintale, que fez a análise da obra, disse que previa os questionamentos e que, por isso, fez uma análise profunda e não tem dúvidas de que a obra é autêntica. Disse que analisou fatores como a composição química das tintas, da base da pintura, a organização de traços e pinceladas.
“Nós partimos para a metodologia científica que se assenta em três etapas, em três passos. Confrontando todos esses resultados, nós chegamos à conclusão, sob a minha responsabilidade, em que nós podemos atestar, sem nenhuma dúvida, que de fato é uma nova Tarsila para o patrimônio cultural e artístico brasileiro”, afirma o perito Douglas Quintale, presidente do comitê de autenticação Tarsila S.A..
A polêmica sobre a autenticidade da obra também é mais um capítulo na disputa que envolve os herdeiros de Tarsila. Eles travam uma batalha judicial pelo controle dos direitos autorais da artista. Até 2022, quem comandava a empresa era Tarsilinha. Agora, é Paola Montenegro, que apresentou o novo quadro na segunda-feira (19). Ela é bisneta de outro irmão de Tarsila. Tarsilinha afirma que a autenticação feita agora foi sem o conhecimento ou aprovação da maior parte da família.
“O que seria de bom tom? A família toda aprovando esse processo. Quando eu fiz o catálogo Raisonné, eu tinha o aval de toda a família. Agora, estão fazendo um processo que não está tendo adesão nenhuma, principalmente no mercado, que é onde a obra pode ser vendida”, diz Tarsilinha.
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