Em testemunho no STF, o delegado Brenno Carnevale fala do desaparecimento de investigações sobre os assassinatos dos policiais Geraldo Pereira e André Serralho, em 2016, após pedir providências. Segundo ele, crimes tinham semelhança com a morte do ex-policial Marcos Falcon, presidente da Portela. Delegado Brenno Carnevale, secretário de Ordem Pública do Rio
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Em depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF), na tarde desta quarta-feira (21), o secretário municipal de Ordem Pública, do Rio de Janeiro, o delegado Brenno Carnevale, de 34 anos, contou que duas investigações sumiram da Delegacia de Homicídios da capital após ele pedir providências: as apurações sobre os assassinatos do ex-policial Geraldo Pereira e do policial André Serralho, ocorridos em maio e agosto de 2016.
Na época, entre setembro de 2016 e março de 2018, Brenno Carnevale chefiava um núcleo na Delegacia de Homicídios da Capital que investigava mortes praticadas contra agentes de segurança pública. Fossem da ativa ou não.
O depoimento foi feito na audiência de instrução e julgamento que apura as mortes da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, além da tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves, no STF.
De acordo com o secretário, os assassinatos de Pereira e Serralho apresentavam semelhanças com o crime do presidente da Portela, Marcos Falcon, em setembro daquele ano, em seu comitê de campanha. Falcon era candidato a vereador quando foi morto a tiros, em Madureira, na Zona Norte do Rio.
“Recebi os dois inquéritos (Pereira e Serralho) com sete folhas cada um. Fiz despachos saneadores, pedindo diligências e aí, os inquéritos somem. Perguntava no cartório e diziam que estava com o pessoal da investigação. Perguntava ao pessoal da investigação e diziam que estava no cartório. Ficava um desencontro de informações e nunca mais vi os documentos”, explicou Carnevale.
A defesa do delegado Rivaldo Barbosa, diretor da Divisão de Homicídios, na época dos assassinatos, foi procurada e até agora não se pronunciou. Atualmente Rivaldo está preso, apontado pela PF como mentor da morte de Marielle.
Segundo Carnevale, os assassinatos de Geraldo Pereira e de André Serralho tinham apenas as diligências de local, realizadas após o crime. A partir daí, o inquérito, segundo o secretário de Ordem Pública do Rio, não andou. Uma das testemunhas da morte de Pereira, por exemplo, um policial civil que foi ferido em uma das pernas sequer foi chamado para prestar depoimento.
Marcos Falcon, presidente da Portela, assassinado em 26 de setembro de 2016.
Daniel Castelo Branco/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
De acordo com Carnevale, havia um padrão das investigações da Delegacia de Homicídios que era a coleta de imagens, logo na chegada aos locais dos crimes e entrevistas de pessoas, logo após os assassinatos, para não se perder as impressões iniciais aos casos. De acordo com ele, esse procedimento não aconteceu nas mortes de Pereira e de Serralho.
Em seu relatório, a Polícia Federal aponta que a Delegacia de Homicídios fez o mesmo em outros casos envolvendo contraventores e milicianos e não apenas nas mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes.
As investigações, segundo a PF, não seguiram os procedimentos ao falhar na busca por imagens para identificar o trajeto feito pelo Cobalt usado por Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa após o assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes.
No caso de investigação da morte de Marcos Falcon, segundo ele, chamou a sua atenção que o delegado Rivaldo pediu para ser avisado caso pedisse qualquer medida cautelar ao Ministério Público do Rio de Janeiro.
Escritório do crime
Segundo Carnevale, esses não foram os únicos casos onde houve procedimento suspeito na DH. Em 14 de junho de 2017, o bicheiro Haylton Scafura, de 37 anos, filho do contraventor Piruinha, foi morto no interior do Hotel Transamérica, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Ele estava acompanhado da policial militar Franciene de Souza, de 27 anos.
‘Escritório do crime’ pode estar por trás de rede de execuções sumárias nos últimos anos
Por ser uma policial morta, o caso cabia ao núcleo de investigação chefiado por Carnevale na DH. Mas, logo, segundo ele, já houve um recado:
“[Fui avisado que] Esse inquérito vai ficar lá em cima. Na esfera superior. Havia uma diferença o inquérito seguir o curso que seguiu. Essas imprevisibilidades eram corriqueiras quando envolviam jogo do bicho e contravenção”, contou o secretário de Ordem Pública.
De acordo com investigações do Ministério Público estadual e da Polícia Federal, as mortes de Pereira, Falcon e Scafura foram praticadas pelo Escritório do Crime. Nenhuma delas foi solucionada até hoje.
Não há qualquer informação sobre a autoria do assassinato de André Serralho.
Crime aconteceu na academia The Place, no Recreio dos Bandeirantes
Fernanda Rouvenat