16 de novembro de 2024

Confira os vereadores mais votados do Recife desde a redemocratização e entenda mudança de perfil do Legislativo

Em três dos últimos quatro pleitos, nomes ligados a igrejas evangélicas assumiram a ponta. Câmara Municipal do Recife em imagem de arquivo
Marlon Costa/Pernambuco Press
Casa legislativa do Recife, a Câmara de Vereadores não costuma ocupar o centro dos debates nas eleições municipais, já que é ofuscada pela eleição para a prefeitura. Contudo, o perfil dos vereadores escolhidos em cada legislatura pode apontar mudanças no comportamento da sociedade.
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Desde a redemocratização, foram realizadas dez eleições municipais diretas no Recife. Os dados sobre a primeira delas, em 1985, não são disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A partir de 1988, no entanto, é possível observar as mudanças sociais, ideológicas e partidárias da capital pernambucana, como a ascensão e declínio da esquerda e votação expressiva de evangélicos (entenda mais abaixo).
Confira quem foram os três vereadores mais bem votados no Recife nos últimos 36 anos:
1988
1º lugar: Gustavo Krause (PFL) — 21.142 votos (4,21% dos válidos);
2º lugar: Homero Lacerda (PTB) — 8.170 votos (1,63% dos válidos)
3º lugar: André de Paula (PFL) — 5,822 votos (1,16% dos válidos)
Prefeito eleito: Joaquim Francisco (PFL) — 49,51% em turno único.
1992
1º lugar: Paulo Rubem (PT) — 6.518 votos (1,34% dos válidos);
2º lugar: Carlos Eduardo Cadoca (PMDB) — 5.077 votos (1,05% dos válidos);
3º lugar: Vicente André Gomes (PDT) — 4.878 votos (1,01% dos válidos);
Prefeito eleito: Jarbas Vasconcelos (PMDB) — 52,72% no 1º turno.
1996
1º lugar: Antônio Luiz Neto (PTB) — 11.961 votos (1,92% dos válidos);
2º lugar: Bruno Rodrigues (PPB) — 9.278 votos (1,49% dos válidos);
3º lugar: Murilo Mendonça (PMDB) — 9.107 votos (1,46% dos válidos);
Prefeito eleito: Roberto Magalhães (PFL) — com 50,96% no 1º turno.
2000
1º lugar: Humberto Costa (PT) — 27.815 votos (3,97% dos válidos);
2º lugar: Antônio Luiz Neto (PTB) — 11.398 votos (1,62% dos válidos);
3º lugar: João Alberto (PSDB) — 10.093 votos (1,44% dos válidos);
Prefeito eleito: João Paulo (PT) — 50,38% no 2º turno.
2004
1º lugar: Dílson Peixoto (PT) — 15.200 votos (1,88% dos válidos);
2º lugar: Luciana Azevedo (PT) — 14.147 votos (1,75% dos válidos);
3º lugar: Francismar (PTB) — 12.278 votos (1,52% dos válidos);
Prefeito eleito: João Paulo (PT) — reeleito com 56,11% no 1º turno.
2008
1º lugar: André Ferreira (PMDB) — 15.117 votos (1,78% dos válidos);
2º lugar: Luciano Siqueira (PCdoB) — 13.113 votos (1,54% dos válidos);
3º lugar: Antônio Luiz Neto (PTB) — 12.364 votos (1,30% dos válidos);
Prefeito eleito: João da Costa (PT) — com 51,54% no 1º turno.
2012
1º lugar: André Ferreira (PMDB) — 15.774 votos (1,79% dos válidos);
2º lugar: Antônio Luiz Neto (PTB) — 13.833 (1,57% dos válidos);
3º lugar: Priscila Krause (DEM) — 13.386 votos (1,52% dos válidos);
Prefeito eleito: Geraldo Julio (PSB) — com 51,15% no 1º turno.
2016
1º lugar: Michele Collins (PP) — 15.357 votos (1,78% dos válidos);
2º lugar: Irmã Aimée (PSB) — 14.388 votos (1,67% dos válidos);
3º lugar: Fred Ferreira (PSC) — 14.277 votos (1,66% dos válidos);
Prefeito eleito: Geraldo Julio (PSB) — reeleito com 61,30% no 2º turno.
2020
1º lugar: Dani Portela (PSOL) — 14.114 (1,73% dos válidos);
2º lugar: Andreza Romero (PP) — 13.249 votos (1,63% dos válidos);
3º lugar: Pastor Júnior Tércio (Podemos) — 12.207 votos (1,50% dos válidos);
Prefeito eleito: João Campos (PSB) — com 56,27% no 2º turno.
Mudança de perfil
No pleito de 1988, o perfil dos vereadores mais bem votados era de políticos tradicionais. O campeão de votos foi o ex-prefeito Gustavo Krause (PFL, partido que se tornaria o DEM e, depois, o União Brasil). Ele governou a cidade após ser nomeado na ditadura militar.
Krause recebeu mais de 20 mil votos e, entre os mais bem votados, também estiveram outros dois políticos conservadores. Naquela eleição, o prefeito eleito foi Joaquim Francisco (PFL), também indicado antes da redemocratização.
Em 1992, a segunda eleição de Jarbas Vasconcelos (PMDB) para prefeito marcou a derrota da direita no pleito e, então, candidatos de esquerda foram os mais bem votados, com Paulo Rubem Santiago (PT) no topo do ranking.
Na eleição de 1996, Antonio Luiz Neto (PTB), de perfil tradicional, foi o mais votado, puxado pela vitória do conservador Roberto Magalhães (PFL).
A partir de 2000, houve uma série de vitórias do PT, e com Luiz Inácio Lula da Silva na presidência entre 2002 e 2006, e João Paulo e João da Costa na prefeitura entre 2000 e 2012, os petistas assumiriam o 1º lugar entre os vereadores nas eleições de 2000, com Humberto Costa, e de 2004, com Dilson Peixoto.
É a partir de 2008, no entanto, que os evangélicos começam a liderar a lista dos mais votados na cidade. Naquele ano, o posto foi ocupado por André Ferreira (na época no PMDB), que também foi o vereador mais votado quatro anos depois, em 2012.
Em 2016, a missionária Michele Collins (PP) foi a mais votada, e os outros dois eleitos com maior votação também eram ligados à grupos evangélicos: Irmã Aimée (PSB) e Fred Ferreira (na época no PSC).
Para o doutor em religião e mestre em teologia Liniker Xavier, o crescimento da votação nos evangélicos está ligada ao avanço da religião no país.
“Na virada do milênio, temos uma explosão do crescimento dos evangélicos. Pernambuco foi o estado onde isso mais foi observado no Nordeste”, afirmou.
O pesquisador explica, ainda, que pastores evangélicos exercem influência de lideranças comunitárias, o que facilita a fidelidade do voto nos candidatos ligados às congregações.
“Boa parte dos evangélicos torna o voto como uma forma de expressar sua crença”, completa.
O ciclo de 12 anos de vereadores evangélicos como mais votados na capital foi interrompido em 2020, com a vitória de Dani Portela (PSOL). O candidato ligado a um grupo religioso mais bem colocado foi o Pastor Júnior Tércio (na época no Podemos), que ficou em 3º lugar.
Para Liniker Xavier, a mudança recente aponta para dois motivos: a influência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e uma diferenciação entre os evangélicos.
“Em 2020, a ascensão do bolsonarismo nacionalizou a eleição. Os grupos religiosos que mais rapidamente se aproximaram dele foram os mais bem votados”, diz.
Ele também observa uma redução significativa no poder das igrejas evangélicas em mobilizar os fiéis em torno de uma só candidatura.
“Existe uma crescente difusão desse segmento do eleitorado, com mais candidaturas que surgem ligadas aos grupos religiosos”, afirma Liniker.
Mesmo sem fazer o mais votado e com redução no total de votos recebidos em 2020, a bancada evangélica não diminuiu de tamanho na Câmara de Vereadores do Recife.
Para 2024, o especialista acredita que não haverá um pleito nacionalizado, como em 2020, mas o segmento de evangélicos seguirá com grande influência.
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