Cidade paranaense abriga segunda maior comunidade árabe do Brasil. Aprenda receita de shawarma libanês e do doce Layali Lebnen (noite no Libano). Libanesa fala sobre gastronomia e como é viver em Foz do Iguaçu
Bastam apenas alguns passos na região central de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, para observar a presença de churrasqueiras verticais que assam a carne do prato típico mais conhecido da culinária árabe na cidade, o shawarma. Aprenda receita mais abaixo.
A iguaria é um dos diversos pratos servidos nos diversos restaurantes, lanchonetes e demais comércios árabes da cidade na tríplice fronteira, Brasil, Argentina e Paraguai. Foz do Iguaçu abriga a segunda maior comunidade árabe do país, com mais de 20 mil pessoas.
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O sheik Oussama Zahed explica que esses centros gastronômicos árabes são frequentados por diferentes culturas, gerando através da comida, uma integração entre os povos da fronteira e demais culturas que visitam a região.
“A maioria dos clientes não são árabes e, sim, brasileiros, paraguaios, argentinos e turistas que vem conhecer nossa cidade e aproveitam para provar nossa deliciosa comida árabe. Isso mostra o quanto a culinária está presente, inserida no nosso dia a dia. […] é como elo que ajuda a aproximar as pessoas de diferentes origens e etnias”, afirmou o sheik.
Churrasqueiras verticais assam carne de shawarma, tradicional prato da culinária árabe
Reprodução RPC
A imigração árabe para Foz do Iguaçu
A busca por trabalho, melhores condições de vida e potencial de comércio fronteiriço são alguns dos fatores apontados por historiadores para a imigração árabe à América Latina a partir do século XIX. Mais tarde, conflitos de territórios no Oriente Médio também entram nessa lista.
Na tríplice fronteira, o comércio através da Ponte da Amizade e a infraestrutura da região – impulsionada pelo Parque Nacional do Iguaçu e, mais tarde, pela construção de Itaipu Binacional, foram aspectos decisivos para atrair a comunidade árabe.
Em entrevista ao g1, historiador Micael Alvino da Silva, professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) e autor de livros sobre a tríplice fronteira, explicou que os registros da chegada dos primeiros imigrantes árabes à região são dos anos 50.
“Na década de 1950, num momento em que teve uma imigração muito grande, principalmente de libaneses que chegavam ao Brasil pelo Porto de Santos, eles se informavam sobre os melhores locais para comércio”, explicou Silva.
“Foz do Iguaçu começava a se despontar como um lugar para comércio. […] Conforme o Brasil se industrializou, isso aumentou. Esses são os primeiros, que se estabelecem aqui, e ‘engrossam o caldo’ quando da notícia da construção da Ponte da Amizade em 1957”, afirmou o historiador.
Mesquita Omar Ibn Al- Khattab, em Foz do Iguaçu
Reprodução RPC
O historiador destaca que, nas décadas de 70 e 80, Foz do Iguaçu virou um polo comercial pela proximidade das lojas de Cidade do Leste, no Paraguai.
Tal crescimento, associado a uma comunidade árabe já instalada na região – em especial libaneses e sírios, trouxe mais uma leva de imigrantes à região, muitos refugiados devido a guerras no Oriente Médio.
Para o sheik Oussaim, a comida vem como uma aliada na adaptação e estreitamento de laços entre quem deixou seu país de origem pelos mais diversos motivos e se aventura na terra das Cataratas do Iguaçu.
“Esse ritual, digamos assim, de se reunir para uma refeição, é claro que fica mais importante, necessário, quando se é praticado por imigrantes que precisam se inserir na comunidade. Os árabes que estão na tríplice há mais de 70 anos com certeza tiveram nas comidas um grande aliado para que houvesse aproximação entre os povos diferentes, etnias que vivem aqui”, frisou o sheik.
Faixada de supermercado em Foz do Iguaçu trás descrição em árabe
Reprodução RPC
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‘A gente se sente em casa’
Entre os árabes que escolheram a região para viver está a libanesa Nesrin Hussein Rahal. Há 27 anos em Foz do Iguaçu, ela conta que se sente em casa.
Questionada sobre como mantém vivas as tradições de seus país de origem, ela abriu a cortina da sacada onde mora e, com olhar orgulhoso, mostrou a Mesquita Omar Ibn Al- Khattab.
“Já basta onde moro aqui, perto da mesquita, como muçulmana. Por isso que eu amo Foz, porque ela recebe todo mundo, todas culturas, todas as religiões, a gente se sente em casa aqui. […] Eu não nasci aqui, mas para mim, eu considero como meu paraíso”, afirmou a libanesa.
Nesrin é libanesa e há 27 anos vive em Foz do Iguaçu
Gilvana Giombelli/g1 Paraná
Ao mencionar a comida, ela contou ao g1 que quando casou não sabia cozinhar. Porém, logo após o matrimônio, começou a aprender os primeiros pratos com a família do marido, que também é de origem libanesa.
E foi justamente nesse processo que ela descobriu uma paixão, que virou hobby. Nas redes sociais ela compartilha receitas dos pratos mais tradicionais de seu país e de outros territórios do Oriente Médio, como o kibe, esfirras, homus, mulukhiyah, tabuli, falafel, fatucchi, shawarma e layali lubnan (Noites no Líbano).
Mas teve um outro motivo que trouxe Nesrin, a libanesa que adora a fronteira e compartilha receitas nas redes sociais, o amor. Ao conhecer o marido, não teve dúvidas que se mudaria para Foz do Iguaçu, cidade onde ele morava há alguns anos, vindo do movimento da imigração.
Na cidade, que ela carinhosamente apelidou de “mini Líbano”, encontrou o espaço ideal para poder cultuar suas tradições lembradas no toque de cada tempero adicionado à comida.
“É uma culinária grande, saborosa, diferente, que agrada a todos os gostos. Eu fico feliz e orgulhosa de conseguir trazer e ficar com essa tradição da nossa comida, nossa culinária, aqui em Foz do Iguaçu. Eu falo assim, uma terapia para mim, entrar na cozinha e fazer comida a libanesa”, afirmou.
Cultura marcada na cidade
Outros traços que caracterizam fortemente a presença da comunidade árabe na fronteira são as ruas tradicionais árabes, escolas, associações, espaços fundamentais para preservação da cultura e dos valores.
A comunidade árabe é mais uma a habitar a tríplice fronteira, que abriga cerca de 100 diferentes nacionalidades e etnias.
“Eu fico feliz e orgulhosa que eu conseguir trazer e ficar com essa tradição da nossa comida, nossa culinária aqui em Foz do Iguaçu. Tanto que eu gosto, uma coisa aqui, uma paixão para mim, eu falo assim, uma terapia para mim, entrar na cozinha e fazer comida a libanesa”, concluiu Nesrin.
Carinhosamente, ela compartilhou duas receitas que você confere a seguir:
Shawarma tradicional libanês de carne
Apreenda a receita do tradicional shawarma libanês
Corte em tiras um quilo de carne de alcatra, fraldinha ou outra de sua preferência cortada em tiras. Na sequência tempere com:
1 colher (sobremesa) pimenta do reino
1 colher(sobremesa) canela em pó
1 colher (sopa ) tempero para shawarma (disponível em lojas de produtos naturais)
1/2 copo de chá vinagre branco
1/2 copo de chá óleo de girassol
sal a gosto
Reserve a carne temperada na geladeira por algumas horas, de preferência, uma noite antes do preparo do shawarma.
Depois, coloque a carne para assar com cebola (opcional) e tomate em rodelas (opcional). Assar em forno alto (acima dos 200º) por cerca de 40 minutos até a carne soltar a água, ficar cozida e macia. (Veja ponto da carne no vídeo da recita acima).
Com a carne assada, use pão tipo sanduíche, tradicional pão árabe ou pão sem glúten, e monte o shawarma com os seguintes ingredientes:
Pepino em conserva
Salsinha picada
Folhas de hortelã verde
Cebola temperada com sumagri (sumak, tempero árabe encontrado em lojas de produtos naturais)
Tomate fatiado
Por último, adicione o molho de taratour. Basta misturar os seguintes ingredientes:
1 copo de Tahine (molho de gergelim)
1/2 copo de água
Sal a gosto
2 dentes de alho
Suco de 1 limão
1 colher (sobremesa) de hortelã seco
Doce Layali Lebnen (noite no Libano)
Aprenda receita do doce Layali Lebnen (noite no Líbano)
Ingredientes:
6 copos de leite
4 colheres(sopa) maisena
6 colheres(sopa) semolina fina
Água de laranjeira (encontrada em lojas de produtos naturais ou tradicionais árabes)
Misture todos os ingredientes em um recipiente, exceto a água de laranjeira, depois coloque em uma panela e leve para o fogão em fogo baixo, misturando sem parar até engrossar.
Depois, apague o fogo, adicione duas colheres de sopa de água de laranjeira e misture.
Coloque a mistura em um recipiente untado com manteiga e feche com papel plástico. Guarde na geladeira por três horas.
Depois, coloque sobre a receita uma caixa de creme de leite, coco ralado, pistache triturado e leve gelar por mais algumas horas. Sirva com caldo de açúcar.
Caldo de açúcar: misture dois copos de açúcar com um copo de água. Coloque em fogo médio. Quando ferver, adicione uma colher (sopa) de suco de limão. Abaixe o fogo e deixe ferver por 10 minutos. Depois, adicione uma colher (sopa) água de laranjeira. Apague o fogo e deixe esfriar.
Layali Lebnen (noite no Libano), doce tradicional árabe
Gilvana Giombelli/g1 Paraná
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