16 de novembro de 2024

Homem que levou jararaca à UPA após ser mordido afirma já ter capturado mais de 350 serpentes com as mãos

José Carlos Rodrigues dos Santos, de 58 anos, é artesão e costuma ter contato com cobras quando vai em busca de matéria-prima em áreas de mata. Segundo ele, esta foi a primeira vez que foi mordido. Homem é picado por jararaca e leva serpente para UPA do litoral de SP
O homem, de 58 anos, que levou uma cobra jararaca (Bothrops jararaca) à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Guarujá (SP) após ser mordido na mão direita pelo animal, contou já havia capturado mais de 350 serpentes com as mãos. Esta, porém, foi a primeira vez que sofreu uma mordida.
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José Carlos Rodrigues dos Santos é artesão e extrai matéria-prima em áreas de mata, o que lhe proporciona muito contato com répteis. Ele contou ao g1 que, após a mordida, tem enfrentado dificuldades para trabalhar devido à inflamação e inchaço na mão.
A imagem de José segurando a cobra com a boca aberta na UPA do Perequê, em 5 de agosto, teve grande repercussão (veja acima). Segundo ele, a decisão de levar o animal no posto de saúde por para ajudar aos profissionais a identificar a medicação adequada.
O artesão, que ainda sente dor na mão, disse que faz cestas, vassouras, móveis e cadeiras e está trabalhando “forçado”. “Quando eu trabalho, a mão incha, está inchada, [mas] incha mais. Eu tenho que trabalhar para me manter.” O médico prescreveu 21 dias de repouso junto com a medicação.
Mordida
Artesão teve a mão picada por jararaca e levou o animal à UPA de Guarujá (SP) para receber o soro corretamente
Arquivo Pessoal e Reprodução
José estava trabalhando quando foi chamado pelo vizinho para retirar uma cobra que havia aparecido na casa do homem. Ele contou que tem o costume de pegar serpentes com a mão. “Como eu trabalho com matéria-prima da mata, cipó, fui tentar retirar e ela mordeu. Ela ficou grudada no meu dedo.”
O artesão contou que retirou o animal do dedo e foi até a torneira para lavar a mão na água. Os moradores do local colocaram a serpente no saco, e o vizinho o levou ao hospital. “Mas não amarraram direito e, no meio do caminho, a cobra escapou. Eu tive que pegar de volta.”
Durante o atendimento médico, o artesão contou que pensaram que o animal estava morto e foram mexer nela, que saiu da unidade. “Eu tive que pegar de volta”. Para ele, a sensação é muito ruim e passa um filme do ocorrido na cabeça.
Mão de artesão ficou inchada após ser mordido por jararaca em Guarujá (SP)
Arquivo Pessoal
“Chegou um momento que eu achei que não iria resistir porque era muita dor, insuportável. A metade do meu corpo estava paralisada – o lado que foi picado”, disse.
Ele contou que sempre pega cobras com as mãos, mas que essa foi a primeira vez que foi mordido pelo animal. “Às vezes eu encontro em algum local, pego e solto lá no mato, entendeu? Já peguei mais de 350 cobras”.
O artesão explicou que levou a serpente ao hospital para facilitar na identificação do soro que lhe seria dado e que não pensou em matar o animal. “Meu objetivo era levar ela viva. Meus avós são indígenas, então ensinavam que não é para matar. Eu tenho respeito”.
Entenda o caso
Artesanatos feitos por homem que teve a mão mordido por jararaca e levou o animal à UPA em Guarujá
Arquivo Pessoal
A Prefeitura de Guarujá informou, por meio de nota, que o paciente deu entrada na UPA do Perequê por meios próprios e segurava o animal vivo em uma sacola plástica. O Grupamento de Defesa Ambiental (GDA), da Guarda Civil Municipal (GCM), foi acionado para recolher a cobra.
A vítima relatou aos guardas que, enquanto estava trabalhando percebeu a presença do animal e tentou retirar o réptil do local, momento em que foi mordido.
Como não sabia a espécie da serpente, ele levou a cobra até a unidade de saúde para que o médico identificasse e aplicasse o soro antiofídico.
Um homem, de 58 anos, levou uma cobra jararaca à UPA de Guarujá (SP) após ser picado pela serpente
Reprodução
O caso ocorreu em 5 de agosto. Na unidade, o paciente foi medicado e posteriormente encaminhado ao Hospital Santo Amaro (HSA). A equipe da GDA recolheu o animal e realizou a soltura no Morro da Barra, próximo à Santa Cruz dos Navegantes.
O HSA informou que o paciente foi atendido na Unidade de Urgência e Emergência da Unidade Hospitalar, com o ferimento na mão direita, e recebeu o soro antiofídico. Além disso, foi internado na enfermaria, recebendo acompanhamento protocolar do caso e recebeu alta em 9 de agosto.
Jararaca
Jararaca (Bothrops jararaca) é uma das serpentes mais comuns do sudeste do Brasil
Butatan/Divulgação
Ao g1, o biólogo Daniel Monteiro Bortone explicou que a cobra é comum na região da Baixada Santista. “Esse grupo das jararacas é o que mais causa acidente no Brasil. Isso por ser [formado por] várias espécies diferentes, que estão distribuídas por todo o país”, ressaltou.
Segundo o profissional, a jararaca é peçonhenta, ou seja, usa o veneno para se defender quando se sente ameaçada. “Tem ação no local da picada. Provoca dor forte, inchaço, hemorragia”, explicou Bortone.
O biólogo afirmou que, em caso de mordidas, o ideal é beber muita água, lavar bem o local com água e sabão e procurar atendimento no pronto-socorro.
“Não se deve fazer cortes em volta da picada, tentar sugar o veneno e muito menos fazer torniquete quando se é picado por serpentes. Tudo isso só piora a condição do acidentado”, disse.
Ainda de acordo com Bortone, não há a necessidade de levar a serpente à UPA. “Ele correu o risco de levar outra picada ou até da serpente escapar e picar outras pessoas. As serpentes não usam a toxina toda de uma vez, em uma mesma picada”.
Além disso, o biólogo explicou que a equipe médica tem condições de saber qual foi a serpente que picou a pessoa pelos sintomas apresentados.
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